G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia |
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CORPO ABERTO |
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Maíra Cardoso Aspahan - Acadêmica de Medicina - UNIRIO Roberto Charles Feitosa de Oliveira - Prof. Dr./Orientador – Depto. de Filosofia – UNIRIO
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INTRODUÇÃO: |
Em meio à dissecção no anatômico e convivência com pacientes no hospital, o corpo é o centro dos estudos na graduação médica, mas não se limita às estruturas anatomo-fisio-imagéticas descritas nos livros de medicina. Esta pesquisa ressignifica a abertura do corpo ao extrapolar a incisão objetiva do bisturi para ir em direção à abertura subjetiva. São abordados conceitos de corpo dualista, de René Descartes, corpo ambíguo, de Merleau Ponty e corpo-e-subjetividade de Liana Albernaz. São descritas as experiências do filósofo Jean-Luc-Nancy após receber o transplante de um coração que deixou seu corpo permanentemente aberto; nas artes, são expostos os autorretratos da artista Frida Kahlo que refletem a subjetividade de seu próprio corpo aberto após um acidente grave que a levou a inúmeras internações e cirurgias. Na interseção entre medicina e artes são demonstrados os trabalhos de Günther von Hagens que expõe corpos dissecados em museus, enquanto que a Carnal art da artista Orlan promove a transformação artística do corpo in vivo por meio de cirurgias plásticas transmitidas ao vivo em galerias. Pela filosofia e pelas artes é possível destacar que a condição médica transcende a materialidade do corpo, expondo seu caráter ambíguo e subjetivo. |
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OBJETIVO DO TRABALHO: |
Sensibilizar estudantes e profissionais da saúde quanto a subjetividade do corpo; demonstrar que o corpo pode ser aberto de forma literal e simbólica; provocar a reflexão sobre as implicações dos procedimentos médicos no sujeito. |
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MÉTODOS: |
A metodologia empregada baseia-se na leitura e discussão com o orientador dos livros Corpo (2009) de Leandro Neves Cardim; Fenomenologia da Percepção (1994) e O olho eu espírito (2004), de Merleau Ponty; A Arte Secreta de Michelangelo: uma lição de anatomia na Capela Sistina (2004) de Gilson Barreto e Marcelo G. de Oliveira, Corpo e subjetividade na medicina (2006), de Liana Albernaz, O intruso (2000) de Jean-Luc Nancy, e textos de Platão, Descartes e Michel Foucault; participação no grupo de estudos em filosofia PopLab e discussão com a psiquiatra e psicanalista Liana Albernaz. |
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RESULTADOS E DISCUSSÃO: |
A dessacralização do corpo ao longo da história permitiu sua objetivação, o que se tornou um problema na prática clínica quando o sujeito é abandonado e seu corpo torna-se o protagonista de uma consulta médica. A subjetividade do corpo persiste, como explicita o filósofo Jean-Luc Nancy (1940) após receber um transplante de coração: “não é que me abriram, fendido, para trocar de coração. É que esta fenda não pode ser fechada. Estou aberto fechado” (2000, p.36). Nas artes, as pinturas de Frida Kahlo (1907-1957) têm forte relação com um grave acidente que fez com que a artista fosse submetida a inúmeros procedimentos médicos ao longo de sua vida. Frida expõe seu corpo aberto por meio de autorretratos que remetem à sua condição clínica e à sua frustração frente a sucessivos abortos. A injúria dos tecidos, sua dor e seu desejo frustro de ser mãe transcendem, pela arte, qualquer condição médica. Já a artista Orlan faz o caminho inverso ao de Frida ao construir um autorretrato em seu próprio corpo aberto por cirurgias plásticas transmitidas ao vivo em galerias de arte. O corpo dissecado do cadáver também adquire status de obra de arte pelo artista Günther von Hagens, que expõe corpos abertos que simulam artificialmente características individuais dos corpos indigentes. |
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CONCLUSÕES: |
É possível abrir o corpo literalmente e simbolicamente. É importante que as escolas da sáude reforcem aos seus alunos que o corpo também é sujeito e apresenta toda a subjetividade que lhe é peculiar. Muitos pacientes não pintam quadros que emocionam como Frida. Tampouco conseguem descrever e refletir sobre as implicações de uma cirurgia como fez Jean-Luc Nancy. A subjetividade dos pacientes permanece muitas vezes calada. |
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Palavras-chave: Medicina, Artes, Subjetividade. |