65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 9. Psicologia Experimental
SENSIBILIDADE AO CONTRASTE VISUAL DE PACIENTES COM TRANSTORNOS NEUROPSIQUIÁTRICOS MEDICADOS
Géssica Almeida de Freitas - Graduanda - Departamento de Psicologia – UFPB
Meiryland Melo da Cunha - Graduanda - Departamento de Psicologia – UFPB
Anna Cecília de Moura Rocha - Departamento de Psicologia – UFPB
Michael Jackson Oliveira de Andrade - Doutorando - Departamento de Psicologia – UFPB
Débora Najda de Medeiros Viana - Mestranda - Departamento de Psicologia – UFPB
Natanael Antonio dos Santos - Prof. Dr./Orientador - Departamento de Psicologia – UFPB
INTRODUÇÃO:
Segundo a OMS os transtornos psiquiátricos e neurológicos figuram entre os problemas mais sérios que concorrem para o aumento da morbidade mundial, bem como pode acarretar sérias implicações sensoriais, comprometer aspectos cognitivos e comportamentais. Utilizando técnicas de neuroimagem, há estudos que apontam anormalidades no córtex pré-frontal, núcleos de base, hipocampo, tálamo e lobo temporal em portadores de depressão (Calil e Guerra, 2004). O processamento da informação no sistema visual é realizado por uma hierarquia neural constituída por múltiplas áreas visuais no cérebro. Pesquisas que analisaram o papel da dopamina e a ação dos medicamentos antipsicóticos dopaminérgicos no sistema visual sugerem alterações em áreas visuais primárias e associativas, a relação é mais complexa do que simplesmente uma redução global da sensibilidade ao contraste (Harris et al. 1990). A maioria dos estudos psicofísicos envolvendo a função de sensibilidade ao contraste (FSC) utiliza estímulos de grades senoidais baseados na ideia de que estímulos dessa natureza possibilitam o mapeamento de vias e áreas que respondem seletivamente a atributos específicos da cena visual. Desta forma, a partir dos dados encontrados percebe-se que os indivíduos acometidos de transtornos neuropsiquiátricos que se encontram medicados, são afetados, de maneira diferente, no processamento visual da forma.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O presente trabalho mediu a sensibilidade ao contraste visual de participantes adultos medicados a fim de investigar como medicamentos (antidepressivos, ansiolíticos e antipsicóticos) interagem com as vias visuais parvos e magnocelulares no processamento sensorial básico da visão.
MÉTODOS:
Mediu-se a SC visual de 22 voluntários com idade entre 22 e 48 anos (10 voluntários eram isentos de patologias neuropsiquiátricas, 5 faziam uso apenas de antidepressivos, 4 antidepressivo acompanhado de ansiolítico e 3 que faziam uso de antipsicóticos. Todos os voluntários apresentaram acuidade visual normal ou corrigida qualquer doença. Foram utilizados estímulos visuais acromáticos formados por grade senoidal vertical com frequências espaciais de 1,25; 2,5; 10; 20 ciclos por grau de ângulo visual (cpg) e grade senoidal angular com frequências espaciais de 2, 4, 24, 48 e 96 ciclos/360º para mensurar as curvas de SC. Os voluntários tinham que escolher entre os estímulos qual era o estímulo teste através do método psicofísico da escolha forçada entre duas alternativas temporais (2AFC). Os estímulos visuais foram gerados em tons de cinza, todos tinham formatos circulares com diâmetro de aproximadamente 7,2 graus de ângulo visual, gerados no centro da tela do monitor de vídeo colorido LG/RCT (Cathodic Ray Tube), com tela plana de 19 polegadas, a qual apresentava resolução 1024 x 768 pixels e taxa de atualização de 70 Hz, controlado por um microcomputador com placa de vídeo com entrada VGA e DVI; e conectado ao hardware Bits++ (Cambridge Research Systems, Rochester, Kent, England). A função do Bits++ era aumentar a resolução da tela do monitor de 8 para 14 bits, para a geração de estímulos com melhor definição passando de 256 níveis de escalas de cinza para 16.000 níveis.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A análise de variância (ANOVA) para frequências espaciais lineares mostrou diferença significante entre o Grupo Controle (GC) e os Grupos Experimentais (GEI, GEII e GEIII), com F(9, 1308) = 5,3315; p < 0,001. O teste post-hoc mostrou diferença significante na frequência de 2,5 cpg entre o GC e o GE III (antipsicoticos) e entre GEI (antidepressivos) e o GEIII (antipsicoticos). Na frequência espacial de 2,5 cpg, pode-se observar que o GC foi mais sensível que o GEIII, ou seja, precisou de 1,24 a mais de contraste para perceber este padrão. Já entre o GEI e o GEIII podemos observar que na mesma frequência o GEI foi mais sensível significativamente que o GEIII que precisou de 1,24 a mais de contraste para perceber o mesmo estimulo. Já em relação aos resultados com os estímulos angulares, a ANOVA também mostrou uma diferença significante entre o grupo controle, GC, e os grupos experimentais (GEI, GEII e GEIII), com F(12, 1744) = 6,4660; p < 0,001. O teste post-hoc mostrou diferença significante para frequência espacial 24 ciclos/360° quando comparado o GEI com o GEII que precisou 1,3 a mais de contraste para perceber este padrão. Mostrou diferença significante nas frequências de 24 e 48 ciclos/360° entre os grupos GEI e o GEIII em que este último precisou respectivamente de 1,47 e 1,58. Ao grupo que utiliza medicamentos antipsicóticos podemos inferir que foi menos sensível nas frequências lineares e angulares, sugerindo alterações em áreas visuais primárias e associativas.
CONCLUSÕES:
A sensibilidade ao contraste (SC) é um tipo de limiar sensório visual utilizado para determinar a menor intensidade de contraste que o sistema visual precisa para detectar um padrão na forma de onda com comprimentos ou frequências diferentes distribuído no espaço. Neste sentido, grande parte dos estudos psicofísicos envolvendo a FSC utiliza estímulos de grades senoidais fundamentados na premissa de que estímulos dessa natureza possibilitam o mapeamento de vias e áreas que respondem seletivamente a atributos específicos da cena visual. Por isso, a medida de limiar sensório é uma ferramenta muito utilizada para descrever o comportamento do sistema visual e diagnosticar alterações decorrentes de anormalidades bioquímicas e na localização de prejuízos em vias do sistema nervoso. Os resultados mostram que os participantes com transtornos neuropsiquiátricos medicados podem ter uma alteração no processamento visual de estímulo de grade senoidal linear vertical e grade angular. Os grupos que faziam uso de medicamentos, principalmente os antipsicóticos, precisam de mais contraste para detectar algumas frequências do que os participantes sem patologias. Neste sentido os efeitos dos transtornos neuropsiquiátricos associados ao uso de medicamentos podem prejudicar a percepção de uma cena visual por diferentes níveis de contraste.
Palavras-chave: Antidepressivos, Antipsicóticos, Sensibilidade ao contraste.