65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 1. Sociologia da Saúde
O ESTIGMA E AS REDES DE SOCIABILIDADE PRIMÁRIA: UM BREVE OLHAR NAS INTERAÇÕES DOS CÍRCULOS DE LOUCURA.
Álvaro Botelho de Melo Nascimento - Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia-UFPE
Breno Augusto Souto Maior Fontes - Prof. Dr./Orientador- Depto. de Ciências Sociais e Pesquisador do PPGS- UFPE
INTRODUÇÃO:
O objetivo do trabalho é a investigação da manifestação e desenvolvimento do estigma nos processos interativos entre portadores de sofrimento psíquico e suas redes de sociabilidade primária. Sua importância está na ideia de que a interação dos portadores de transtorno psíquico, principalmente com vizinhos, parentes e amigos, se constitui em fator importante para sua resiliência ou piora
Para tanto, partiu-se do princípio que as interações sociais são construídas a partir da concepção de normalidade. E que a quebra do padrão de normalidade de uma sociedade é um desvio, acarretador de uma série de dificuldades de interação (EATON, 2001). E se entendeu o estigma a partir de Goffman (1988) e Benoist(2007), tomando-o então como uma espécie de marca ou sinal que leva um indivíduo à quebra das expectativas sociais em uma interação. Sua lógica é constituída pelo medo, a anomalia, e a quebra com a regulação social.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Investigar como se manifesta e se desenvolve o estigma nos processos interativos entre portadores de transtorno psíquico e suas redes de sociabilidade primária ( familiares, amigos e vizinhos)
MÉTODOS:
Procurou-se primeiramente fazer uma revisão da literatura sobre estigma e transtorno mental, atentando, para percepção deste fenômeno social como um desvio, historicamente construído.
Após a revisão, iniciou-se a leitura de entrevistas feitas com cuidadores de pessoas portadoras de algum transtorno psíquico, as quais já haviam sido coletadas, em uma outra pesquisa, intitulada “Redes sociais e saúde mental: as novas práticas terapêuticas” financiada pelo CNPq; tais entrevistas estavam à disposição no núcleo de cidadania (NUCEM).
Através das entrevistas apreendeu-se as impressões sobre a convivência com um portador de transtorno psíquico e também sobre seus sofrimentos e angústias.
Também se acompanhou, através de observação participante uma terapia comunitária, localizada em um bairro na periferia do Recife, chamado Jordão Baixo. O acompanhamento da terapia comunitária permitiu a visualização das falas dos próprios portadores de transtorno psíquico, e a apreensão das percepções das angústias, das preocupações e dos ressentimentos em relação aos dizeres e atitudes que perpassam a vivência dos indivíduos no decorrer do seu cotidiano.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A análise demonstrou, que a loucura é um fenômeno social que abarca a individualidade do portador de transtorno psíquico e as suas relações com sua família, vizinhos e amigos. Ela traz desafios a compreensão, quando não superados produzem atitudes preconceituosas, estigmatizantes.
Aplicando Benoist (2007) comprovou-se que a lógica do estigma está nas três esferas apresentadas por ele. As falas e suas narrações, apresentavam certas condutas como anormais, logo, associadas a concepção de loucura, caracterizando -se no estigma. O medo dos loucos estava presente nos relatos e atrelado a ele a concepção de pessoa desqualificada. A quebra com a regulação social foi também percebida no material empírico e estando predominantemente associada ao diagnóstico do transtorno
Com os dados colhidos, e observando-os a luz de Goffman, foi possível a construção de uma grelha de análise de conteúdos, reveladora de uma série de aspectos negativos ocasionados por situações de estigma vividas por um portador de transtorno psíquico na interação com familiares,amigos e vizinhos. Dentre alguns dos aspectos estão: Perca do status de normalidade, Restrição da autonomia,esfacelamento de relacionamentos afetivos (namoros, noivados, casamentos).
CONCLUSÕES:
Os dados demonstram que o fenômeno do estigma, vivido por portadores de transtorno psíquico, é uma realidade carregada de sofrimento e angústia, caracterizada pela desqualificação do indivíduo como sujeito, como protagonista de sua vida e da sua condição como ser humano.
O conteúdo analisado reverbera as noções discutidas pelos autores apresentados e constata a triste situação da presença do estigma e das situações de preconceitos nas relações sociais mais intimas dos portadores de transtorno psíquico.
A presença da lógica que operacionaliza o estigma demonstra que a luta pela construção de um local capaz de perceber o portador de transtorno psíquico como um cidadão ainda persiste, não se teve uma mudança significativa no pensamento popular, pensamento este, que rege as atitudes do cotidiano, as convenções do que é normal, das micro-relações, e consequentemente, as atitudes e a forma de lidar com os chamados loucos.
Por fim, os dados demonstram que ser louco ainda significa ser excluído, ser menos humano, e por isso, não poder exercer de maneira qualitativa a autonomia e cidadania que todos deveriam poder exercer; é, ainda ser restringido de viver o que potencialmente poderia se viver.
Palavras-chave: Sociologia, Saúde, Estigma.