65ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 5. Farmácia - 6. Farmácia
Efeito do pré-tratamento com um antagonista de receptores canabinóides CB1 nas respostas comportamentais induzidas pela cocaína em micos.
Augusto Gabriel Lourenço de Jesus - Depto. de Ciências Farmacêuticas - UnB
Gabriela Cabral Melo Netto - Depto. de Ciências Farmacêuticas - UnB
Priscila Lelis Cagni - Depto. de Ciências Farmacêuticas - UnB
Marília Barros - Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Ciências Farmacêuticas – UnB
INTRODUÇÃO:
A cocaína é uma droga psicoativa muito utilizada no Brasil e no mundo. Porém, os mecanismos neurais subjacentes ao seu alto potencial de causar dependência ainda não foram suficientemente elucidados. O receptor canabinóide do tipo 1 (rCB1) é encontrado no Sistema Nervoso Central em áreas relacionadas à dependência, modulando a liberação de diferentes neurotransmissores, como a dopamina. Em ratos, a administração de antagonistas rCB1 diminuiu o potencial reforçador da cocaína e reduziu a probabilidade de uma recaída. No entanto, primatas não-humanos são - genética, fisiológica e comportamentalmente - mais semelhantes aos humanos, o que torna interessante sua utilização em estudos sobre o papel do rCB1 na dependência.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Este estudo teve com objetivo avaliar, em micos-estrela, o efeito do pré-tratamento com um antagonista rCB1 (AM-251) nas respostas comportamentais (hipervigilância e hiperlocomoção) induzidas pela administração repetida de cocaína.
MÉTODOS:
Foram empregados 20 micos-estrela (Callithrix penicillata) adultos, machos e fêmeas. Os animais foram divididos em quatro grupos e submetidos individualmente a nove sessões, em um Campo Aberto (CA) retangular (130 x 75 x 40 cm) suspenso a 1,2 m do solo. Antes de cada sessão, cada mico recebeu uma das seguintes combinações de pré-tratamento/tratamento, de acordo com seu grupo: 1) veículo/salina; 2) veículo/cocaína; 3) AM-251/salina; e 4) AM-251/cocaína. Em seguida, foram realizadas três sessões de retirada no CA, não sendo administrado nenhum tratamento nessa fase. Todas as sessões tiveram uma duração 15-min cada e foram realizadas em intervalos de 48-h. As sessões foram realizadas no período vespertino, mantendo-se uma ordem aleatória dos sujeitos em cada dia de teste. As sessões também foram gravadas de uma sala adjacente para o registro da locomoção (número de cruzamento de quadrantes, distância e velocidade média percorrida) e da vigilância (scan, glance e leg stand).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Ao longo das administrações repetidas de cocaína, para os sujeitos tratados só com esse composto (veículo/cocaína), houve um aumento significativo na frequência dos comportamentos de vigilância scan e glance, comparado a primeira sessão e ao grupo controle (veículo/salina). Nos micos tratados só com o antagonista (AM-251/salina), a frequência de scan/glance permaneceu constante ao longo do estudo e em níveis semelhantes ao grupo controle. Porém, no grupo AM-251/cocaína, a frequência de scan/glance aumentou significativamente comparado à primeira sessão e aos demais grupos. Para o comportamento de leg stand, houve uma diminuição gradual dos níveis detectados, independente do tratamento administrado, enquanto que os parâmetros de locomoção permaneceram constantes ao longo do estudo e semelhantes em todos os grupos. Com a retirada da cocaína, nas sessões de extinção, as alterações nos comportamentos de scan e glance foram revertidas.
CONCLUSÕES:
A administração repetida de cocaína induziu um efeito de hipervigilância nos micos, semelhante ao que é observado em usuários crônicos dessa droga. Contudo, não foi detectada uma hiperlocomoção, que é tipicamente vista em roedores tratados repetidamente com cocaína. Além disso, o pré-tratamento com o antagonista rCB1 AM-251 potencializou a hipervigilância induzida por esse psicoestimulante. Por sua vez, a retirada de todos os tratamentos extinguiu o efeito de hipervigilância. Portanto, o sistema endocanabinóide, via o rCB1 presente no Sistema Nervoso Central, parece exercer um importante papel modulatório sobre a aquisição da dependência por cocaína em primatas não-humanos. Dada a maior semelhança desse modelo animal a usuários de drogas, comparado a roedores, novos estudos com ligantes rCB1 poderão auxiliar na elucidação dos mecanismos neurais da dependência, assim como atuar no desenvolvimento de novos alvos terapêuticos para o seu tratamento clínico.
Palavras-chave: primata, vigilância, locomoção.