65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 6. Sociologia Urbana
VIOLÊNCIA SIMBÓLICA E DESRESPEITO: ANÁLISE DO TRANSPORTE PÚBLICO DA CIDADE DE MACAPÁ/ AP
Ana Caroline Bonfim Pereira - Graduanda e bolsista do grupo PET de Ciências Sociais – UNIFAP.
Anderson Martel Torres da Costa - Graduando em Ciências Sociais na Universidade Federal do Amapá – UNIFAP.
Arthur Anthunes Leite Andrade - Graduando e bolsista do grupo PET de Ciências Sociais – UNIFAP.
Grege Nascimento da Silva - Designer, Graduando e bolsista do grupo PET de Ciências Sociais – UNIFAP.
Ed Carlos de Sousa Guimarães - Prof°. Dr. /Orientador – Curso de Ciências Sociais– UNIFAP.
INTRODUÇÃO:
O uso do ônibus, como transporte público possui grande importância nos espaços citadinos, desempenhando um papel fundamental na locomoção dos habitantes da urbe. Variados são os objetivos da utilização por parte dos usuários: locomoção para as escolas, o trabalho, as compras, diversão e lazer, entre outros. Esse serviço é regulamentado por órgãos da administração pública. Em Macapá/AP, a prefeitura, através da Companhia de Trânsito e Transporte de Macapá – CTMac, é a responsável de gerir as atividades empresariais no setor, sob o regime de concessão ou permissão. Os serviços prestados são amplamente questionados por parte dos usuários, fator esse revelado, na Comissão Parlamentar de Inquérito CPI (2011) e pesquisa realizada por Costaet al, (2011). Tal pesquisa tem por objetivo analisar e discutir o transporte público coletivo da cidade Macapá/AP, tendo em vista o conceito de violência simbólica de Pierre Bourdieu. Nesse sentido, o presente empreendimento cientifico, justifica-se tanto pela carência de trabalhos realizados no município, quanto pela importância e necessidade de se compreender tal realidade, buscando-se, sobretudo, a melhoria do transporte público macapaense.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Tal pesquisa tem por objetivo analisar e discutir o transporte público coletivo da cidade Macapá/AP, tendo em vista o conceito de violência simbólica de Pierre Bourdieu.
MÉTODOS:
Fruto de reflexões empreendidas no Grupo de Estudos e Pesquisas Sobre Violência e Criminalizações (GEPVIC) da UNIFAP, o presente trabalho desenvolveu-se inicialmente por meio de revisão de literatura sobre sociologia urbana (Neves, 2004; Cardoso, 2007), bem como no conceito de violência simbólica de Pierre Bourdieu (2003; 2012). Fez-se um levantamento da bibliografia em sites da internet, bem como nas bibliotecas das faculdades e universidades locais. Posteriormente, procedeu-se à pesquisa documental. Analisou-se documentos disponíveis na CTMac (Relatório Anual do Transporte Público), no site e na sede administrativa do SETAP (Sindicato Estadual de Transporte Público) e órgãos da administração pública (Câmara dos Vereadores do município). Foram realizadas ainda, observações diretas nos locais das paradas de ônibus localizadas nos bairros Pacoval, Centro, Universidade, Santa Rita e Alvorada. Buscou-se, por fim, através de aplicação de questionáriosestruturados, captar as percepções que os usuários possuem sobre o serviço que lhes é oferecido.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A pesquisa aponta para o seguinte perfil do transporte público em Macapá: desconforto e insegurança; os cobradores e motoristas são depreciados por parte dos usuários; a frota de ônibus em geral não possui acessibilidade ou é insuficiente, não atendendo a demanda dos usuários. De modo geral há graves problemas estruturais que colocam em risco à vida dos passageiros. Fatores que Cardoso (2007) atribui à crescente periferização do espaço urbano atrelado à falta de planejamento das cidades, colaborando para uma materialização de sub espaços em ambientes de exclusão e esquecimento. Nessa lógica, os consumidores sempre são deixados de lado em detrimento do lucro e quem deveria fiscalizar (órgãos governamentais) acabam sendo negligentes frente a tal realidade. Esse quadro exposto acima pode ser pensado à luz do conceito de violência simbólica de Bourdieu (2003; 2012). Trata-se de uma violência doce, não percebida, fundada no reconhecimento, obtida por um trabalho de inculcação da legitimidade dos dominantes sobre os dominados, assegurando a permanência da dominação e a reprodução social, o que se pode verificar no desrespeito aos usuários de ônibus que se dá de forma velada, até certo ponto perceptível, mas nebulosa o suficiente para impossibilitar rupturas nesse processo.
CONCLUSÕES:
Nesse sentido, é correto inferir que o transporte público de Macapá não oferece condições dignas aos seus usuários. Contudo, utilizando-se o conceito de violência simbólica, não se pode deixar de notar que a população é vítima, mas também conivente com a situação, pois a violência doce também se expressa por meio da complacência dos dominados. Há uma instrumentalização das relações entre os usuários e as empresas de ônibus, afinal, ambos sabem e reconhecem tal realidade, porém essa violência simbólica já foi incorporada como algo natural por parte dos cidadãos macapaenses, o que impossibilita mudanças significativas dessa realidade. O que se constata é certa naturalização dessa estrutura social, por parte dos agentes que participam dessa rede de relações: os empresários que objetivando a maximização de lucro permitem a circulação de ônibus sucateados, o que coloca em risco a vida dos passageiros; os órgãos governamentais, por sua vez, são omissos e permitem a circulação de ônibus em tais condições; e, finalmente, a incorporação e naturalização do desrespeito por parte dos usuários dos ônibus. Há, assim, o risco de perpetuação de um sistema de transporte público que desconsidera os direitos da sociedade e reproduza violência simbólica contra os cidadãos.
Palavras-chave: Violência Simbólica,, Transporte Público,, Cidade..