65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 5. Educação de Adultos
OS CENTROS DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DE MATO GROSSO (2008/2011): POLÍTICAS MÍNIMAS PARA A ADAPTABILIDADE E CONFORMAÇÃO SOCIAL
Ângela Rita Christofolo de Mello - Doutoranda: (PPGE/UNIMEP)
INTRODUÇÃO:
No ano de 2007 a Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso, constituiu uma equipe interinstitucional para redimensionar a Educação de Jovens e Adultos (EJA) neste Estado e implantar os Centros de EJA (CEJAs). Segundo o que consta no relatório elaborado por esta equipe, foi o reconhecimento das especificidades que a modalidade requeria diante da demanda existente e não atendida, conforme evidenciaram os dados apontados pelo levantamento de mato-grossenses acima de 16 anos com Ensino Fundamental e Médio incompletos, realizado pela SEDUC/MT em 2005, no dia do Referendo acerca do Desarmamento Nacional, que impulsionou a implantação desta política. Com o objetivo de “oferecer formas diferenciadas de atendimento que compreendesse a educação formal e informal integrada ao mundo do trabalho ao longo da vida” (Relatório Redimensionamento, 2007, p. 07) os CEJAs estruturaram-se com formas de ofertas e com uma proposta pedagógica considerada pela equipe de implantação, inovadoras. Porém, a indicação é que a ação por parte do poder público visava acelerar a escolarização e assegurar a certificação, contrariando assim, as orientações pronunciadas na CONFINTEA VI de educação permanente e de formação humana integral e ao longo de toda vida.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisar a política educacional instituída nos Centros de Educação de Jovens e Adultos, doravante denominado de CEJAs, implantados nos anos de 2008 e 2009 no Estado de Mato Grosso, segundo a percepção dos atores diretamente envolvidos na construção e na implementação da política no período de 2008 a 2011.
MÉTODOS:
Indaga-se na presente investigação, qual a configuração desta política e em que nível a sua execução se aproximou ou se distanciou do planejado? A hipótese norteadora do estudo residiu em verificar em que medida, o desenho original da política, o qual articulava uma proposta pedagógica considerada inovadora, a formação de professores e a valorização dos coletivos profissionais e de estudantes foram negligenciadas por fatores políticos e ideológicos, externos e internos, e deslocaram o seu foco. A pesquisa, de abordagem qualitativa, se valeu de entrevistas semiestruturadas realizadas com a equipe de implantação dos CEJAs, diretores, coordenadores, professores formadores dos Centros de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica (CEFAPROs) e professores dos CEJAs; observação in loco; levantamento bibliográfico, documental e estatístico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Analisou-se nesta investigação as políticas públicas educacionais voltadas à EJA em Mato Grosso, desenvolvidas desde o período colonial até os dias atuais. Mapeou-se os conceitos fundamentais da educação de adultos que a partir dos anos de 1970 tornaram-se recorrentes a nível mundial. Contextualizou-se e analisou-se a implantação dos CEJAs, a fim de traçar o panorama deste processo e da sua abrangência no período de 2008 a 2011, assim como a proposta pedagógica, as formas de ofertas e aspectos voltados à formação continuada dos educadores dos CEJAs. A implementação da política foi marcada por momentos de rupturas e tentativas de articulação de práticas pedagógicas consideradas inovadoras, porém, contraditórias. A sua configuração pode ter subestimado a capacidade do estudante de construir conceitos formais, necessários para uma análise crítica e política da sua condição social e dos conhecimentos populares que possuem. O direito de aprender ao longo da vida, defende uma educação integrada e incorpora à vida no seu sentido mais amplo ao processo de escolarização dos jovens e dos adultos. Sendo a vida o currículo último a ser defendido, o direito do acesso aos conhecimentos historicamente construídos, precisa ser valorizado em uma proposta de escolarização formal.
CONCLUSÕES:
Contrariando as orientações do conceito de educação ao longo da vida, a política pública aqui analisada, poderá contribuir para a adaptação e para a conformação social. Isso porque, “a educação ao longo, e ao largo, de toda a vida, capaz de preservar os seus atributos de diagnóstico crítico do mundo social, de compreensão dos obstáculos à sua transformação, de imaginação e possibilidades para a sua mudança e de consequente ação educativa e cultural, dificilmente poderá deixar de reconhecer, humildemente, a desproporção entre a grandeza dos seus objetivos e a limitação dos seus meios e capacidades”- grifo do autor (LIMA, Licínio. Aprender para Ganhar, conhecer para competir: sobre a subordinação da educação na “sociedade da aprendizagem”. São Paulo: Cortez, 2012, p. 43). O conceito de “educação ao longo da vida” é amplo e multifacetado, abrange dimensões que não estão ligadas apenas às lógicas adaptativas do sistema. A EJA precisa ser assumida como política pública de Estado para encontrar o seu espaço e deixar de ser forjada pela sociedade civil. Apesar da crescente demanda, esta modalidade continua sem tradição, subsidiada por projetos intermitentes. Suas políticas, programas e projetos são realizados aos saltos, fragmentados, impulsionados pelos ciclos governamentais.
Palavras-chave: Política Educacional, Educação de Jovens e Adultos, Conformação Social.