65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia
MULHERES “SÓS” NA TERCEIRA IDADE: UMA ETNOGRAFIA DAS FREQUENTADORAS NA ASSOCIAÇÃO IDADE DE OURO EM GOIÂNIA
Márcia Valadares Dias - Faculdade de Ciências Sociais, UFG, Goiânia/GO
Denise Rosa Leite - Faculdade de Ciências Sociais, UFG
Núbia Rodrigues de Oliveira - Faculdade de Ciências Sociais, UFG
Sirlene Alves de Oliveira - Faculdade de Ciências Sociais, UFG
INTRODUÇÃO:
Este trabalho propõe uma etnografia das frequentadoras da associação idade de ouro em Goiânia-Goiás. Sendo a etnografia uma especificidade da antropologia social, um campo que possibilita o estudo do outro, a partir de seus mecanismos e principalmente através da lente da cultura. A associação teve suas atividades iniciadas em 30 de julho de 1994. Estão escritas 150 idosas (os), mas somente 60 frequentam assiduamente à associação. As atividades são destinadas para homens e mulheres, porém não há frequentadores do sexo masculino, entendo assim, uma questão de gênero relevante de discussão. 90% são viúvas, moram sozinhas e próximas da associação. Elas se reúnem todas às segundas-feiras a partir das 14h00. Nesse período, elas cantam (são 99% religiosas, pertencentes à denominação católica), conversam e estabelece uma relação de amizade, que aquele espaço possibilita.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisar o perfil dessas mulheres por uma perspectiva etnográfica antropológica, procurando estudar as características de “ritualização” dentro da associação. E principalmente, entender a motivação, que as levam a estabelecer uma relação de socialização e serem frequentadoras assíduas da associação.
MÉTODOS:
A pesquisa de campo foi realizada na associação idade de ouro, situada na praça C-164, setor jardim américa, Goiânia-Goiás. No período de agosto a dezembro de 2011. Sendo o método da pesquisa a etnografia (fusão de horizontes), um campo da antropologia que nos possibilitou essa aproximação, subsidiando nossa análise pela especificidade etnográfica: olhar e ouvir. Desenvolvemos a pesquisa através de conversas informais, observações, fotos e questionários. Não procuramos basear a pesquisa em dados exclusivamente quantitativos, mas procuramos estabelecer uma relação, entre campos empíricos e simbólicos. Entendendo esse dinamismo da etnografia, como um campo que possibilita essa dupla tarefa: estar de perto, porém com a necessidade de estabelecer um estranhamento do familiar, para que os dados sejam refletidos e mostrados na sua “essência” e realidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Através das narrativas dessas mulheres, foi possível a percepção do conceito de socialização e construção de um universo importante para elas, nesse momento de suas vidas, não possuem outras relações de afetividade tão significativas como a relação estabelecida na associação. Percebemos que se sentem orgulhosas de frequentarem a associação. Uma das entrevistadas, dona Josefina de 74 anos, relatou: “Sempre tive uma vida sofrida, antes mesmo de ficar viúva. Resolvi frequentar a associação por acaso e encontrei lá refugio para minha alma, sabe ninguém se sente melhor, todas somos velhas (risos), a gente conversa, canta, reza, pode parecer coisas banais para qualquer pessoa, mas para nós que não tem ninguém, isso é muito bom”. A maioria ao chegar à associação possuía algum tipo de doença (principalmente depressão), todas ressaltam que ficaram curadas. Este processo de amizade e socialização que existe nesse espaço, são os fatores que as fazem procurar a associação e serem frequentadoras assíduas.
CONCLUSÕES:
Apesar de vivermos em uma sociedade que enaltece a eterna juventude, um cenário que ser velho significa uma pessoa “incapaz”, essas mulheres buscam alternativas de mudanças de suas realidades sociais. Através da socialização, da troca de experiências, a ideia que aquele espaço pertence a todas, reflexão de um passado coletivo, que as une em um proposito existencial satisfatório. Todas têm à oportunidade de relatarem suas histórias, buscam na religião e na amizade estabelecida dentro da associação, valores e crenças que as transformaram em pessoas melhores. Ressaltam que, encontraram na associação o refugio que necessitavam, para terem uma “velhice” mais alegre e feliz.
Palavras-chave: Socialização, Cultura, Velhice.