65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 4. Ecologia
LIMIAR DE EXTINÇÃO EM COMUNIDADES DE HEPÁTICAS (MARCHANTIOPHYTA) EPÍFITAS NA MATA ATLÂNTICA DA BAHIA, BRASIL
Luciana Carvalho dos Reis - Herbário UFP - Geraldo Mariz, Departamento de Botânica - UFPE
Charles Eugene Zartman - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA
Cid José Passos Bastos - Instituto de Biologia, Departamento de Botânica - UFBA
INTRODUÇÃO:
A fragmentação e a perda de hábitat alteram a configuração e a qualidade dos remanescentes florestais promovendo mudanças na dinâmica da paisagem, diminuindo tamanhos populacionais e interferindo em interações ecológicas. Em determinada quantidade de hábitat (limiar de extinção) ocorre a ruptura de processos ecológicos acelerando, de maneira abrupta e não linear, a redução da biodiversidade. O limiar de extinção varia entre organismos com diferentes requerimentos de hábitats, grau de mobilidade e tolerâncias às modificações no seu hábitat. Estudos mostram essa variação: 50% para uma espécie de árvore, 30-51% para salamandras e 44-88% para sapos. Briófitas podem ser úteis para avaliar a existência de limiar de extinção, pois elas são altamente dependentes de condições microclimáticas e sensíveis a alterações ambientais. Paisagens abaixo dos níveis de limiares podem conduzir a declínios populacionais abruptos ou outras mudanças ecológicas. A identificação de limiares para diferentes populações e comunidades é importante para o desenvolvimento de ferramentas de planejamento e priorização de ações para conservação da biodiversidade e gestão dos recursos naturais.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Este estudo teve como objetivo avaliar a existência de um limiar de extinção relacionado à intensidade da perda de hábitat, para as comunidades de hepáticas epífitas (Marchantiophyta), caracterizado por uma queda abrupta na riqueza de espécies, acompanhado a redução da cobertura florestal (hábitat) na Floresta Atlântica do Estado da Bahia, Brasil.
MÉTODOS:
Foram selecionadas dez paisagens de 6 x 6 km em um gradiente de cobertura florestal (CF) de 5% a 60% na Floresta Atlântica do Estado da Bahia. As paisagens foram selecionadas com base em critérios de quantidade de floresta, estágio de regeneração e tipo de matriz. As coletas ocorreram entre janeiro e novembro de 2011. Em cada paisagem, foram instaladas oito parcelas de 100m2. Em cada parcela foram feitas coletas na base (0-2 m) de cinco árvores com DAP ≥ 7,5 cm, sorteadas entre todas as árvores presentes na parcela e que apresentavam o DAP estabelecido. As hepáticas foram classificadas em dependentes e não dependentes de floresta com base em trabalhos de briofloras urbanas. Apenas as dependentes de floresta foram utilizadas nas análises. Para avaliar a relação entre a riqueza e a redução da CF foram realizadas uma regressão Piecewise e uma regressão Linear simples, que foram comparadas pelo critério de Akaike (AIC). A influência da altitude foi avaliada através de regressão linear. Os espécimes foram depositados no Herbário ALCB, na Universidade Federal da Bahia.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Foram identificadas 96 espécies, das quais 73 foram utilizadas nas análises. A riqueza foi significativamente correlacionada com a altitude (R2=0,6854, p= 0,001). Áreas de altitude elevada possuem condições microclimáticas que favorecem o estabelecimento das briófitas (Frahm & Gradstein 1991). Das paisagens estudadas, as com 40% e 30% CF possuem as maiores altitudes e obtiveram as maiores riqueza de espécies (37 e 33 spp., respectivamente). Paisagens com CF similares tiveram riqueza pelo menos duas vezes menor que as duas mais ricas. Observando a riqueza de cada paisagem, nota-se a formação de dois blocos de paisagem: ≤ 25% CF e ≥ 30% CF (a exceção foi 55%), sugerindo um efeito negativo da redução da CF. Porém, os testes estatísticos não mostraram uma correlação significativa entre riqueza e CF. Este resultado é contrário ao encontrado por Vanderpoorten & Engels (2003) que encontraram uma relação não linear onde 25% das espécies tiveram aumento na probabilidade de ocorrência com o aumento da CF, indicando que a distribuição das espécies é controlada por este fator. Através de observações em campo, notou-se que a paisagem com 55% CF possuia baixa qualidade e isso pode explicar a baixa riqueza encontrada. Alvarenga et al. (2010) encontraram uma diminuição da riqueza altamente significativa acompanhando a perda de qualidade do hábitat.
CONCLUSÕES:
Os resultados encontrados mostram que apenas a quantidade de cobertura florestal não foi suficiente para predizer a persistência das espécies de hepáticas nas paisagens estudadas. Apesar da correlação significativa, a altitude não é a única variável determinante para as comunidades, pois este fator explica apenas 68% da variação encontrada (Ver R2). É possível que este fator juntamente com outros fatores importantes, como a qualidade do hábitat e a própria quantidade de cobertura florestal, estejam atuando de forma sinérgica para a determinação das comunidades encontradas neste estudo. Dessa forma, é possível que exista um limiar de extinção para comunidades de hepáticas, porém ele não deve estar associado apenas à quantidade de hábitat na paisagem. É importante que mais estudos sejam feitos analisando toda a comunidade (incluindo os musgos) e avaliando os efeitos sinérgicos dos principais fatores que afetam essas comunidades.
Palavras-chave: Briófitas, Paisagem, Perda de hábitat.