65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 10. Microbiologia - 1. Biologia e Fisiologia dos Microorganismo
DETECÇÃO DE BIOFILME ESTAFILOCOCICO POR TESTE FENOTÍPICO EM AGAR VERMELHO CONGO MODIFICADO
Isabel dos Santos Souza - Bolsista Iniciação Científica - UNIRIO
Agostinho Alves de Lima e Silva - Prof. Dr. - Departamento de Microbiologia e Parasitologia - UNIRIO
Carmen Soares de Meirelles Saramago - Profa. Dra. - Departamento de Microbiologia e Parasitologia - UNIRIO
Maria José de Souza - Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro - HSE
Renato Geraldo da Silva Filho - Prof. Msc. - Departamento de Microbiologia e Parasitologia - UNIRIO
Rubens Clayton da Silva Dias - Prof. Dr./Orientador - Departamento de Microbiologia e Parasitologia - UNIRIO
INTRODUÇÃO:
O gênero Staphylococcus faz parte da composição da microbiota humana, porém algumas espécies podem estar envolvidas em infecções comunitárias ou associadas aos cuidados com a saúde. O Staphylococcus aureus e o Staphylococcus epidermidis estão relacionados a infecções associadas ao uso de dispositivos médicos, pela capacidade de aderirem à superfície de biomateriais, bem como de formar biofilme. A produção de biofilme envolve uma adesão inicial à superfície, direta ou facilitada por substâncias do hospedeiro, seguido pelo acúmulo de células por adesão intercelular, gerando um agregado envolto por uma matriz amorfa extracelular de natureza polissacarídica, proteica ou de DNA. Um dos principais mediadores do biofilme polissacarídico é o poli-&beta (1,6)-N-acetil-D-glicosamina (PNAG), denominado adesina polissacarídica intercelular (PIA), produto do operon icaADBC, regulado diretamente pelo gene icaR. A produção de biofilme pode ser detectada fenotipicamente em tubos ou placas de microdiluição, independente da composição química da matriz extracelular, ou pelas características das colônias formadas em Agar Vermelho Congo, capaz de detectar biofilmes polissacarídicos. O biofilme é um importante fator de virulência, sendo responsável pela baixa resposta terapêutica das infecções.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Verificar a positividade do teste em Agar Vermelho Congo Modificado (AVCM) de amostras de S. aureus oriundas de portadores nasais isolados de estudantes da área de saúde da UNIRIO, de S. epidermidis e S. aureus enviadas pelo Hospital dos Servidores do Estado, e correlacionar os resultados com os de produção de biofilme em tubos de poliestireno e vidro, anteriormente obtidos.
MÉTODOS:
Foram estudadas amostras de S. aureus de portadores nasais e amostras clínicas de S. epidermidis e S. aureus enviadas pelo Hospital dos Servidores do Estado. As amostras foram ativadas a partir do estoque em Caldo Soja Tripticaseína (TSB) e incubadas a 35ºC, overnight. Foi preparada a base do AVCM, composta por Agar Soja Tripticaseína (TSA) e 1% de glicose, à qual foram adicionados 10 mL de solução hidroalcoólica (1:1; v:v) de corante Vermelho Congo (0,4%). As amostras foram semeadas em spot na superfície do meio e incubadas por 48h a 35ºC, seguido de manutenção em temperatura ambiente por 48h. A análise das características do spot foi realizada a cada 24h. Ao fim da análise, um spot de cor preta, ou ligeiramente preta, foi indicativa de reação positiva e de cor vermelha como negativa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Foram testadas 110 amostras, sendo 76 de S. aureus (53 isoladas de portadores nasais e 23 amostras clínicas) e 34 de S. epidermidis. Para S. aureus, foram positivas no teste do AVCM 62% das amostras de portadores nasais e 68% das clínicas. Entre as amostras clínicas de S. epidermidis, 33% foram positivas no referido teste. Durante a observação dos spots, algumas amostras de ambas as espécies apresentaram centro vermelho e borda preta, ou o inverso, ou ainda centro preto com pontos vermelhos, sugerindo a presença de diferentes subpopulações bacterianas. A determinação da positividade destas amostras foi realizada por meio da repetição do teste, porém aplicando a técnica de semeadura por esgotamento e considerando a tonalidade dominante das colônias. Os resultados obtidos no teste do AVCM para as amostras de S. aureus isoladas de portadores nasais foram correlacionados com os resultados previamente obtidos do Teste de Produção de Biofilme em Tubos de Vidro e Poliestireno. Entre as 46 amostras produtoras de biofilme em tubos de vidro e poliestireno, 60,8% foram positivas em AVCM, e entre as 25 amostras não produtoras de biofilme em tubos, 56% foram negativas.
CONCLUSÕES:
S. aureus apresentou um maior percentual de positividade no teste em AVCM do que S. epidermidis, similarmente aos dados já publicados por outros autores. As amostras produtoras de biofilme nos testes em tubos, mas negativas em AVCM, apresentam um mecanismo alternativo de produção de biofilme não dependente de matriz extracelular polissacaridica, representada nas amostras testadas pela PIA. Isto poderia ser comprovado pela análise da composição do biofilme produzido, através da desagregação dos polissacarídicos pela dispersina B ou metaperiodato de sódio, dos proteicos pela proteinase K e dos de DNA com DNAse. O teste de Agar Vermelho Congo Modificado, portando, se mostrou um método presuntivo para caracterização de biofilme polissacarídico, PIA dependente, em amostras de Staphylococcus, apresentando boa correlação com os resultados da produção de biofilme em tubos de poliestireno e vidro.
Palavras-chave: Staphylococcus, Adesina Polissacarídica Intercelular, fator de virulência.