65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 12. Psicologia
TREINAMENTO DE HABILIDADES E SENSIBILIZAÇÃO PARA OS ESPAÇOS PÚBLICOS
Dalva Moraes Pinheiro - Depto de Psicologia - UFF
Liorno Werneck - Depto de Psicologia - UFF
Paulo Herdy Filho - Depto de Psicologia - UFF
Stephany Ribeiro de Sousa - Faculdade de Educação - UFF
Valdilanne Guimarães Pereira - Faculdade de Educação - UFF
Fátima de Souza - Faculdade de Educação - UFF
INTRODUÇÃO:
De caráter impessoal, prontos e aparentemente acabados, os espaços públicos parecem não permitir a participação das pessoas. O que nos conduz ao sentimento de que somos apenas usuários. Ao procurar na Psicologia Ambiental soluções possíveis para essa situação de impotência e desinteresse, verificamos a necessidade de foco no estudo das interações recíprocas das pessoas com seus ambientes. Isso faz entender como podemos interferir e transformar esses espaços. Um dos aspectos mais elementares da questão é a percepção do ambiente mais próximo de nós – casa, trabalho, bairro. Nossa experiência no Campus do Gragoatá da Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, mostra que os jardins são elementos de sensibilização ambiental importantes. E que a influência do bom ou do mau estado dos jardins pode interferir no nível de sensibilização ambiental das pessoas. Com os portadores de transtornos mentais, a prática de jardinagem possibilita melhoras psicomotoras, cognitivas e afetivas. E também nas habilidades de memorização através dos nomes das plantas e sua localização. Em relação às pessoas em geral, percebemos comportamentos ambientais desejáveis que vão desde não jogar lixo nos canteiros, até os atos de olhar, admirar e se sentir afetado pelas plantas e flores.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Desenvolver habilidades psicomotoras, cognitivas, sociais e afetivas com portadores de transtornos mentais. Possibilitar situações interativas que melhoram o desempenho de papeis sociais necessários à inclusão social. Transmitir conhecimentos de jardinagem que possibilitem uma inserção econômica. Ampliar expressão verbal, destreza de movimentos, orientação espacial e percepção de tempo.
MÉTODOS:
Os portadores de transtornos mentais chegam ao Programa após participarem de oficinas de plantio em vasos, oferecidas na UFF aos usuários de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).
A sensibilização inicia-se com a recuperação de jardins. O trabalho é orientado por uma professora de Psicologia, com a participação de três técnico-administrativos, estudantes de graduação e voluntários. Como o grupo de treinamento é pequeno limitamos a permanência de até três portadores, pois alguns precisam aprender a andar nos canteiros sem pisar nas plantas. Recebem apoio financeiro para aprenderem a lidar com dinheiro, como preparação à inclusão econômica. Realizam tarefas conjuntas durante três horas, duas tardes por semana. Trabalham na recuperação de plantas dos canteiros, preparação do solo, confecção de mudas e sementeiras, poda, irrigação, identificação de espécies e transplante de mudas. Há avaliações mensais, com a participação dos bolsistas do Programa e dos acompanhantes terapêuticos do CAPS, que indicam melhoras comportamentais. Nesta experiência de treinamento de habilidades, desenvolvem o compromisso com horários, tarefas e relações sociais. Aprendem ainda hábitos de segurança, uso de luvas, ingestão de água, higiene pessoal e ambiental, proteção solar e cuidados com a postura.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Verificou-se melhoras dos portadores de transtornos mentais (PTMs) através de atividades de jardinagem. Cumprem horários, desenvolvem tarefas com acerto e mantêm um bom entrosamento social. Alguns ingressaram no trabalho com dificuldades motoras e musculares, em função de posturas corporais sedentárias que mantinham. Um dos resultados foi a melhora geral em seus movimentos corporais. O treinamento proporcionou também a ampliação dos contatos sociais, a melhoria na auto-estima e aumento da segurança em relação ao contexto social. Um deles foi selecionado para trabalhar num Hospital Estadual Psiquiátrico, em Niterói, RJ, e ingressou em Curso Supletivo. O treinamento com portadores recebeu o prêmio Josué de Castro de Extensão Universitária da UFF, no final do ano 2010. Familiares e amigos dos PTMs relatam frequentemente a melhora nos relacionamentos. Na instituição municipal de tratamento o espaço físico é reduzido em contraste com a grande extensão existente no campus universitário que permite interações mais livres com vegetação na área verde. Isto proporciona uma melhora na relação humano-ambiental. Assim podemos afirmar o potencial das atividades de sensibilização com plantas, jardinagem e elementos naturais para a recuperação da auto-estima e da saúde física e mental.
CONCLUSÕES:
Com base nos resultados práticos, podemos afirmar o potencial do treinamento de habilidades com o uso da jardinagem para produzir melhoras de comportamento no estado físico e mental dos portadores, o que contribui para sua inclusão social e econômica essencial para a sobrevivência deles. A aplicação de uma combinação de técnicas terapêuticas ocupacionais, psicossociais e cognitivo comportamentais envolvidas nesta atividade, possibilitam a abertura de um novo campo envolvendo também a Psicologia Ambiental, que estuda as relações recíprocas das pessoas com seus ambientes.
Ao longo de nossa experiência verificamos que alguns portadores permanecem assíduos, como o caso do mais antigo que ingressou em 2008 no Programa e permanece até hoje, ampliando suas atividades cotidianas, profissionais e pessoais. Existem outros que ficam por pouco tempo, o que atribuímos à falta de afinidade com plantas e a dificuldade em estabelecer relações com as pessoas.
Palavras-chave: Sensibilização, Treinamento, Saúde Mental.