65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho
Mulheres Garis e as Situações de Violência no Trabalho
Jéssica Albuquerque - Depto. de Sociologia - UnB
Lourdes Bandeira - Profa. Dra./ Orientadora - Depto. de Sociologia UnB
INTRODUÇÃO:
A presente pesquisa está vinculada a um projeto de pesquisa que se dedica a quatro categorias profissionais: trabalhadoras da construção civil, domésticas, terceirizadas de serviços gerais e garis.
Diariamente milhares de trabalhadores/as percorrem as ruas das cidades, recolhendo os lixos, varrendo as ruas, capinando e pintando os meios fios dentre outros serviços de limpeza urbana. Porém, passam por invisíveis e despercebidas, só sendo notadas pela população quando a sua tarefa não é realizada. É um trabalho qualificado como essencial, extremamente associado à saúde pública, entretanto, ainda pouco reconhecido e estudado.
Segundo o sociólogo Ricardo Antunes, o aumento de mulheres exercendo trabalho remunerado é bastante significativo, atingindo mais de 40% da força de trabalho no Brasil. Porém, o autor ainda destaca que as mulheres têm sido majoritariamente encarregadas pelos trabalhos precarizados e desregulamentados. Destinadas às atividades dotadas de menor qualificação e recorrentemente fundadas em um trabalho intensivo. (ANTUNES, 2001)
Submetidas, por meio de um trabalho árduo e insalubre, a diversos preconceitos, negligências e opressões. Torna-se então essencial compreender como e quais os tipos de relações ou de práticas de violência ocorrem no trabalho das mulheres garis.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Os objetivos perseguidos no presente trabalho foram de compreender e analisar as condições de trabalho e da trajetória das trabalhadoras garis das mais diversas localidades do Distrito Federal. Teve como foco principal as situações de violência cotidianas vivenciadas por elas no exercício de sua atividade laboral ou em decorrência desta.
MÉTODOS:
foi utilizada a técnica de pesquisa centrada em um longo questionário que compreendeu questões fechadas e abertas. Foram aplicados 150 questionários em na maioria das Regiões Administrativas no Distrito Federal. A aplicação do questionário foi realizada abarcando os três turnos de trabalho das trabalhadoras garis oriundas duas empresas atualmente responsáveis pela limpeza urbana no DF.
Os temas abordados no questionário abrangem principalmente informações sobre as condições de trabalho, o cotidiano no espaço de realização do trabalho e a trajetória/história de vida dessas mulheres. E o modelo de questionário que foi utilizado na pesquisa encontra-se anexo.
Os dados obtidos através da aplicação do questionário ainda foram correlacionados com algumas observações de campo. Atentando-se para seus diversos ambientes de trabalho e suas especificidades, instrumentos de trabalho, as relações entre as trabalhadoras e seus supervisores, as formas como se organizam as equipes dentre outros elementos. As observações foram seguidas de constantes registros em diário de campo.
Ainda foram utilizados em conjunto com algumas conversas com as trabalhadoras e uma entrevista com o presidente do sindicato da categoria, Sindlurb-DF.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Após a coleta de dados e trabalho de campo observou-se que predominantemente tem-se presente na vida das trabalhadoras garis três formas de violência: a violência doméstica, violência institucional e violência no espaço público.
Apesar das três categorias de violência serem muito importantes e fundamentais no estudo das trabalhadoras da limpeza urbana, este trabalho tem um recorte nos dois últimos tipos de violência citados, a violência institucional e no espaço público.
A violência institucional “é aquela que se realiza dentro das instituições, sobretudo por meio de suas regras, normas de funcionamento e relações burocráticas e políticas, reproduzindo as estruturas sociais injustas.” (MINAYO, 2005 apud GALVÃO, 2012) No caso das garis o termo refere às violências praticadas pela empresa de serviços de limpeza urbana, bem como pelo sindicato e pelo Estado. Sob a forma de negligência, opressão, violação de direitos e precarização do trabalho.
A violência na circulação do espaço público, caracteriza-se pelas situações de violência que não são praticadas pela empresa ou por colegas de trabalho, mas em sua maioria pela população que habita as proximidades ou passam pelo ambiente de trabalho das garis, ou seja, a rua. Mas ainda assim essa violência é extremamente atrelada ao trabalho que elas realizam, bem como pela estigmatização social atribuída a essa categoria profissional.
CONCLUSÕES:
São múltiplas as formas de violência sofridas no trabalho dessas mulheres, todas incidem sobre o corpo e a mente/emocional/psicológico constituindo uma questão de saúde pública, além de uma violação explícita dos direitos humanos.
Porém, vítimas da violência elas não denunciam nem abandonam o emprego, interiorizam os eventos os quais são vítimas. Continuam vivendo a mesma rotina árdua e violenta afetando a sua saúde física e psicológica, como meio de garantir a sobrevivência.
E mesmo algumas medidas que poderiam melhorar o cotidiano delas serem bastante simples, não são tomadas e não estão nos planos das empresas contratadas.
Palavras-chave: Trabalho, Violência, Trabalhadoras Garis.