65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 2. História do Brasil
HISTÓRIA DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA BAHIA: A MEDICINA DA MULHER NA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE VITÓRIA DA CONQUISTA (1930-1950)
André Moreira da Silva - Depto. de História - UESB
Cleide de Lima Chaves - Profa. Dra./ Orientadora – Depto. de História – UESB
INTRODUÇÃO:
A presente pesquisa objetivou estudar o surgimento da medicina da mulher, em especial da obstetrícia e da ginecologia, em Vitória da Conquista e, em especial, no interior do Hospital São Vicente da Santa Casa de Misericórdia desta cidade, criado em 1915, cuja principal função era filantrópica e de assistência hospitalar na região, durante a primeira metade do século XX. Ele visa contribuir e “interiorizar” os estudos sobre a assistência médica às mulheres na Bahia, a partir da pesquisa sobre o papel desempenhado pela Santa Casa de Misericórdia na cidade de Vitória da Conquista do início do século XX, sendo um estudo inédito acerca do tema na cidade. Este estudo buscou evidenciar o perfil dos médicos que atuavam neste campo no interior e fora da Irmandade; buscou compreender qual foi a atuação médica-hospitalar no hospital fundado pela Irmandade e, por fim, investigou o público atingido pelo hospital, como composição social, faixa etária, gênero. Buscou-se compreender a constituição do campo médico da obstetrícia e da ginecologia na cidade e a presença/ausência do poder público e do privado na construção das políticas públicas de saúde para o município.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Esta pesquisa busca evidenciar as origens de um campo médico especializado como os da obstetrícia e ginecologia, no interior do hospital São Vicente, pertencente à Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Vitória da Conquista em meados do século XX e visa contribuir para produzir dados empíricos que permitam descrever a emergência e o desenvolvimento desta especialização na cidade neste período.
MÉTODOS:
Inicialmente, foram feitos o levantamento bibliográfico, a leitura e o fichamento de estudos existentes sobre a história das diversas Santas Casas no Brasil, sobre o nascimento do hospital, a medicina obstétrica e sobre a história e o contexto da cidade de Vitória da Conquista. Em seguida, iniciou-se a pesquisa empírica com o levantamento, leitura e fichamento de variados documentos, tais como: as atas das reuniões da irmandade da Santa Casa de Conquista, que evidenciaram os componentes da irmandade, dentre eles muitos médicos; os estatutos administrativos; as atas da Câmara Municipal, antigo Conselho Municipal, que mostraram as questões de saúde pública que eram debatidas nos plenários da Câmara e os discursos dos vereadores, que serviam de base para formulação de leis e medidas para a cidade; os jornais de circulação existentes na época, que discutiam os acontecimentos da cidade e divulgavam as notícias relacionadas à Irmandade, mas também anúncios de médicos de senhoras que atuavam na cidade e concepções acerca da saúde da mulher naquele período. Esta documentação foi digitalizada, lida e devidamente fichada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A constituição desse campo médico no Brasil iniciou-se no final do século XIX, mas a entronização e o reconhecimento, através da medicalização do parto, só veio a ocorrer em meados do século XX. Esse processo não foi diferente em Vitória da Conquista, pois o momento do parto ou as chamadas “doenças de senhoras” eram costumeiramente tratados por parteiras e por medicamentos populares, no espaço restrito da casa, com pouca participação do médico e quase sem hospitalização. Os anúncios médicos nos jornais revelaram que o título da especialidade raramente era utilizada, sendo utilizado o termo “doenças de senhoras” até 1950, quando passou a ser substituído pelos conceitos da obstetrícia e ginecologia. O hospital São Vicente só teria uma maternidade inaugurada em 1952, comprovando a tese da atual historiografia de que o atendimento obstétrico no Brasil foi incipiente até meados do século XX. Esse tipo de atendimento médico-hospitalar de parto e de doenças ginecológicas, até a década de 1950, era prestado para as mulheres denominadas “indigentes” na documentação, tendo como único recurso o hospital da Santa Casa. Os médicos que se destacaram no atendimento obstétrico foram Crescêncio Antunes da Silveira (1884-1952) e na década de 1940 os médicos Artur Seixas, Ruth Guena e Esaú Vieira Matos.
CONCLUSÕES:
Concluímos que a Santa Casa da Misericórdia de Vitória da Conquista foi um espaço de formação do campo médico da obstetrícia e ginecologia na cidade, ainda que muitos médicos tenham buscado outros caminhos para o desenvolvimento do seu trabalho especializado, como as clínicas particulares e o atendimento domiciliar. Esta Irmandade era um espaço de assistência aos pobres da cidade e sua filantropia substituiu, em grande medida, o papel que deveria ser do município ou do Estado. Boa parte de seu público feminino advinha das camadas baixas, e a obstetrícia foi uma das primeiras áreas a ter um espaço exclusivo e reservado no interior do hospital da Irmandade, com a inauguração da maternidade, em 1952. Este espaço, juntamente com a Irmandade, continua funcionando até a atualidade prestando serviço médico-hospitalar no hospital São Vicente de Paulo.
Palavras-chave: Medicina, Santa Casa de Misericórdia, Mulher.