65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 6. Farmacologia - 4. Farmacologia
PERFIL FITOQUÍMICO E AVALIAÇÃO DO EFEITO ANORÉTICO DE Hibiscus sabdariffa e Syzigium cumini
Ricardo Tabach - Departamento de Psicobiologia- UNIFESP
Giuseppina Negri - Departamento de Psicobiologia- UNIFESP
Daniella Georgopoulos Calló - Departamento de Psicobiologia- UNIFESP
Elisaldo Araújo Carlini - CEBRID / Departamento de Medicina Preventiva – UNIFESP
INTRODUÇÃO:
A obesidade tornou-se um problema de saúde pública, adquirindo proporções epidêmicas ao redor do mundo. Considerando-se a insatisfação no que diz respeito aos resultados terapêuticos, aos altos custos e aos graves efeitos colaterais proporcionados pela medicina tradicional no tratamento de doenças crônicas, incluindo a obesidade, tem sido observado nos últimos anos um aumento na procura por terapias não convencionais. Seguindo esta linha de raciocínio, produtos naturais têm sido utilizados no tratamento da obesidade como coadjuvantes na redução de peso, provocando menores efeitos colaterais e tendo custos relativamente menores quando comparados com os medicamentos sintéticos.
Na flora brasileira, há uma vasta coleção de espécies capazes de atuar como medicamento para a obesidade. Entre essas plantas, duas merecem atenção: hibisco (Hibiscus sabdariffa L) e o jambolão (Syzygium cumini Lamarck,), que foram avaliadas com o intuito de traçar o perfil fitoquímico e verificar o possível efeito anorético em modelos experimentais.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Esse trabalho tem como objetivos determinar o perfil fitoquímico e avaliar o possível efeito anorético de duas plantas: hibisco ((Hibiscus sabdariffa L) e o jambolão (Syzygium cumini Lamarck ), utilizando-se, para tanto, a avaliação do consumo de alimento (efeito anorético), a evolução ponderal e o trânsito intestinal.
MÉTODOS:
As partes aéreas das plantas foram submetidas a um processo de turbólise para obtenção de extratos hidroalcoólicos 50%, os quais sofreram liofilização. A avaliação fitoquímica foi realizada por cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) em comprimento de onda de 270nm.
Para a avaliação farmacológica, foram utilizados ratos Wistar, machos, albinos, (três meses de idade, 350-450g) e camundongos Suíços, machos, albinos, (três meses de idade, 30-50g), provenientes do biotério do Departamento de Psicobiologia e do Biotério Central (CEDEME) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Os ratos foram tratados por sete dias (controle; hibisco e jambolão: 500mg/kg via oral) e a evolução ponderal foi realizada ao longo do tratamento. Ao fim deste período, os animais foram submetidos a um jejum de um dia e, a seguir, receberam uma última dose da respectiva substância ou água. Após este procedimento, foi mensurado o consumo de alimento ao final de 2h, 4h e 24 horas para avaliar o possível efeito anorético. Além disso, foi avaliado o trânsito intestinal utilizando como marcador carvão ativado 10%. Os resultados obtidos foram analisados através da ANOVA, seguida pelo teste de Duncan quando necessário.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A análise fitoquímica identificou taninos, antocianinas, ácido cafeoilquínico e flavonóis no hibisco e galotaninos, flavonóides e derivados dos ácidos rosmarínico e elágico no jambolão. Por outro lado, no jambolão há uma maior quantidade de taninos, os quais, por serem polifenóis, assim como os flavonóides, apresentam funções semelhantes.
O tratamento por sete dias demonstrou que o jambolão (500mg/kg) reduziu o ganho de peso, em gramas, dos animais (C= 347,9±6,4; hibisco= 344±9,6 e jambolão= 330,6*±7,8, *p≤0,05), o consumo de alimento, em gramas, após 2h (C= 4,1±0,6; hibisco= 1,8±0,4 e jambolão= 1,6*±0,3, *p≤0,05) e, juntamente com o hibisco (500mg/kg), após 4h (C= 6,3±0,5; hibisco= 3,4*±0,6 e jambolão= 3,2±0,2, *p≤0,05) e 24h (C= 23,5±0,9; hibisco= 19,3*±1,7 e jambolão= 19,5*±1,3, *p≤0,05). O hibisco não alterou a evolução ponderal, mas foi capaz de diminuir a ingestão de alimento e aumentar o trânsito intestinal, representado pela porcentagem da distância percorrida pelo carvão ativado em relação ao tamanho total do intestino. (C= 45,3±2,5; hibisco= 73,5*±4,6 e jambolão= 38,7±3,2, *p≤0,05). Este último resultado poderia ser explicado pelas propriedades das fibras dietéticas, presentes em sua constituição.
CONCLUSÕES:
Ambos os extratos apresentaram potencial para a redução do consumo de alimento, enquanto o jambolão também reduziu a evolução ponderal dos animais após o tratamento por sete dias. Por outro lado, o hibisco provocou um aumento do trânsito intestinal, tendo um efeito laxante.
Uma possível hipótese para a diminuição da ingestão de alimento e do ganho de peso com o extrato de jambolão seria, justamente, a presença de taninos no mesmo. Estes compostos, mais especificamente os galotaninos, apresentam capacidade de estimular o transporte de glicose para as células, sendo seu mecanismo de ação similar ao da insulina, além de inibir a diferenciação de adipócitos. Com a glicose sendo devidamente transportada, ocorre uma diminuição da fome e consequente sensação de saciedade, fazendo com que haja uma redução da ingestão de alimento e do ganho de peso. Em contraposição, a capacidade de diminuir o consumo de alimento observada no grupo tratado com hibisco ainda não tem seu mecanismo totalmente esclarecido. Uma hipótese a ser investigada está relacionada à presença de fibras dietéticas presentes nesta planta, as quais, provavelmente, provocam aumento do bolo alimentar e, também resultam em sensação de saciedade.
Palavras-chave: Obesidade, Consumo de alimento, Tratamento.