65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia
A TIPOLOGIA DO ASSÉDIO MORAL E O PERFIL DOS ESTUDANTES QUE SOFRERAM/SOFREM ASSÉDIO MORAL NOS CURSOS VINCULADOS À ÁREA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE NO CAMPUS MACEIÓ/UFAL
Maísa Joventino dos Santos - Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes – UFAL
Ruth Vasconcelos Lopes Ferreira - Profa. Dra./Orientadora – Inst. de Ciências Humanas, Comunicação e Artes – UFAL
INTRODUÇÃO:
O atual contexto histórico que tem estimulado a competitividade, o lucro, o imediatismo e o objetivismo nas relações sociais e interpessoais, associado ao aprofundamento da crise ética no cenário mundial, vêm transformando os objetivos e as relações que se inserem nos espaços educacionais. Visamos problematizar o fato de localizarmos a existência de situações de violência dentro do espaço educacional. Espaço este que deveria promover o incentivo ao estudo, ao desenvolvimento pessoal e à capacitação profissional por meio da viabilização da troca de experiências e conhecimento, mas que em consequências das situações de violência nele praticadas acaba, em contradição, por promover a descaracterização e o atrofiamento da essência e dos objetivos desse espaço. O assédio moral é amplamente discutido no contexto laboral porém ainda pouco estudado dentro do espaço universitário. Entendemos o assédio moral como um tipo de violência que, como todas as outras, transgride os direitos humanos. É uma violência velada e silenciosa manifestada por meio de palavras, comportamentos e gestos que emitidos pelo agressor visam atacar, geralmente, um sujeito em particular buscando atingir essencialmente sua integridade psíquica, sua dignidade, sua autoestima, sua confiança e crença em si próprio.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Tivemos como objetivo identificar práticas de assédio moral, de professores contra estudantes, dentro do espaço universitário, analisando os efeitos subjetivos que esse acontecimento produz na vida acadêmica dos estudantes e verificar a hipótese de que a vivência de situações de assédio moral guarda profunda relação com o déficit de aprendizado, com o desempenho e desenvolvimento dos estudantes.
MÉTODOS:
Inicialmente, sorteamos três cursos da grande área de conhecimento da Saúde e aplicamos um questionário com cinco turmas de cada um dos cursos sorteados, quais sejam: Medicina, Odontologia e Nutrição. As turmas foram sorteadas aleatoriamente em função dos semestres. Duas estratégias foram utilizadas para a aplicação dos questionários, presencialmente e virtualmente, respectivamente. Mudamos de estratégia devido à dificuldades, porém a falta de retorno na segunda nos fez voltar à primeira. Posteriormente à identificação dos casos de assédio moral realizamos entrevistas semiestruturadas com aqueles estudantes que se prontificaram a participar da mesma visando aprofundar os dados colhidos por meio dos questionários através da escuta das experiências de assédio moral e do efeitos dessa experiência para a vida universitária.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Na aplicação dos questionários obtivemos uma amostragem de 244 estudantes. Foram abordados 180 estudantes do sexo feminino e 64 do sexo masculino. Com representatividade do 2º ao 11º período e alguns concluintes.A faixa etária variou entre 17 anos e 34 anos de idade. O percentual de estudantes do curso de medicina foi 37,7%, do curso de odontologia foi 37,3% e de nutrição foi de 25%. Após análise dos questionários chegamos a identificação de 34,01% de vítimas de assédio moral. Outros 8,19% também alegaram sofrer assédio moral, mas não dispuseram informações suficientes para classificarmos a agressão sofrida dessa forma. Esses dados, porém, não deixam de ser importantes, pois ainda revelam violência. A maioria das vítimas é do sexo feminino. Já os agressores, majoritariamente, são do sexo masculino. E ambos os agressores assediam mais estudantes do sexo feminino.A relação de maior frequência entre agressor e vítima é a de docente em sala de aula. Os efeitos do assédio mais apontados foram problemas psicológicos, dificuldade na disciplina e o pensamento de desistir do curso. Em sua maioria os estudantes silenciam e ignoram a violência e não procuram ajuda, dados preocupantes, pois, revelam que sofrem sozinhos. Para entrevista um pequeno índice de 4,8% dispuseram seus dados.
CONCLUSÕES:
O assédio moral na área da saúde do espaço universitário da UFAL foi revelado com altos números e tem como principais agressores professores, que agridem seus alunos em plena sala de aula utilizando-se, em sua maioria, de humilhações, comentários depreciativos e rebaixamento da capacidade cognitiva. Observamos que a posição de professor e o seu histórico dentro da universidade é uma variável importante, pois aumenta o efeito subjetivo da agressão. Os estudantes sem saber lidar com a situação acabam por silenciar encontrando efeitos em sua subjetividade e em seu desempenho acadêmico. O assédio moral na área de saúde além de afetar a subjetividade dos estudantes, alternativa que apresentou a maior incidência nas frequências sobre as consequências, é responsável por causar dificuldades nas matérias e por atrasos no curso, segunda alternativa com maior frequência. Identificamos, assim, que o assédio moral realmente guarda uma profunda relação com o déficit de aprendizado, com o desempenho e desenvolvimento dos estudantes em sua formação profissional e pode sim ser um componente importante pra compreensão da evasão escolar nos espaços universitários.
Palavras-chave: Violência, Espaço universitário, Professores.