65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 2. Antropologia da Saúde
Para além das empresas farmacêuticas: um olhar etnográfico sobre os representantes farmacêuticos
Natharry Almeida Bruno Araújo - Depto. de Antropologia- UnB
Soraya Fleischer - Profa. Dra./Orientadora- Depto de Antropologia- UnB
INTRODUÇÃO:
Tendo em vista que o Brasil tem o quinto maior mercado farmacêutico no mundo e a importância dada ao medicamento como mercadoria (Bermudez, 1997), novos fenômenos cercam as relações medicamentosas no nosso país. Soares (1997) identifica a necessidade da antropologia de estudar atores como os propagandistas, em vista do papel de destaque que têm na circulação e acesso dos medicamentos. Os propagandistas farmacêuticos já são bastante familiares nos hospitais, clínicas médicas e farmácias privadas. Assim, essa pesquisa pretendeu desnaturalizar a presença, também familiar, desses propagandistas dentro de grandes hospitais do Distrito Federal.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Esse trabalho tem como objetivo explorar, com um olhar antropológico, o campo de atuação dos propagandistas farmacêuticos e todo o mundo que cerca o trabalho que eles fazem.
MÉTODOS:
Para além das clínicas médicas privadas, essa pesquisa abordou um outro cenário, os hospitais e centros de saúde públicos, que têm crescido como espaço estratégico de divulgação farmacêutica. Métodos da antropologia foram utilizados como a observação, a conversa informal e também a entrevista semi-estruturada. Assim, passei a perceber e observar as mulheres e homens que circulavam diariamente pelo Hospital Regional da Ceilândia e também de Taguatinga para apresentar e oferecer linhas e itens farmacêuticos aos clínicos e médicos destes hospitais. Quando possível, tentei ser aceita em seus horários apressados para conversar e ouvi-los sobre o trabalho exercido como propagandista. Perguntas centrais foram dirigidas a 5 propagandistas, mas assuntos trazidos por eles espontaneamente também se transformaram em profícuas conversas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A pesquisa apresentará o cotidiano de trabalho dos propagandistas e as suas relações sociais empreendidas com os profissionais de saúde, atendentes, seguranças e, eventualmente, pacientes de dos dois hospitais regionais do Distrito Federal. A rotina e função dos propagandistas seguem o padrão de organizar suas agendas de visitas a médicos para então fazer a propaganda do medicamento ou a linha que está trabalhando, a ideia é "convencer o médica a prescrever" o medicamento que oferece. A "linha de medicamentos" trabalhada pelo propagandista é diferente a cada, mês mas o setor onde ele deve ir é o mesmo. Sendo assim a propaganda feita para o médico não será repetida. Quando chegam ao local de visita os passos tendem a ser o mesmo. Ao chegar se informam sobre o médico e então esperam e fazem sua propaganda e então deixam amostras grátis, caso o médico permita.
CONCLUSÕES:
Nesse artigo, descrevo as sequenciadas e encadeadas etapas do trabalho de propagandistas dentro do hospital, conferindo especial ênfase sobre os atores e práticas envolvidos na oferta dos medicamentos. Tentando entender esse fenômeno dentro do SUS público, a pesquisa buscou conhecer e descrever esses personagens que não são da equipe formal dos hospitais, mas que circulam livremente por esse espaço, em diálogo e convivência estreita e cotidiana com a equipe formal do mesmo. Essas pessoas têm de se preocupar não apenas com o bom relacionamento com os médicos, mas sim com toda esquipe médica e colegas de outros laboratórios, sendo possível perceber que a melhor forma de acesso aos cargos de propagandista é por indicação. A agenda é algo sempre bem programado. Tendo metas o propagandista não pode ter resultados baixos com sua propaganda.
Palavras-chave: Antropologia da saúde, propagandista farmacêutico, medicamento.