65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 1. Linguística Aplicada
O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA RESENHA ACADÊMICA
Anne Carolline Dias Rocha - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia- UESB
Márcia Helena de Melo Pereira - Profa. Dr. /Orientadora - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários - UESB
INTRODUÇÃO:
Mencionando a metáfora do iceberg, podemos dizer que o texto acabado é apenas a ponta do iceberg, que encobre todo o produto necessário para a construção do próprio texto. O que nós queremos aqui é justamente conhecer o que está escondido.
Perseguiremos as pistas deixadas no texto, como os apagamentos, as trocas, os acréscimos de palavras, frases, parágrafos, novas ordenações etc. Essas pistas não são apenas informações suplementares que podem completar o texto; elas nos possibilitam compreender a relação existente entre o sujeito e a linguagem. É a partir delas que discutiremos o processo de construção do texto, observando a tentativa de os escreventes se apropriarem do gênero resenha. Sendo assim, conceituar esse gênero discursivo é fundamental em um trabalho como esse e, para tanto, nos ancoraremos na abordagem sociointeracionista de Mikhail Bakhtin (1997) [1952- 3].
No que diz respeito à relevância teórica deste trabalho, vale ressaltar que sempre nos comunicamos por meio de algum gênero. Destacamos, então, a importância que a noção de gênero assume no trato sociointerativo da produção linguística.
Diante disso, percebe- se o valor deste trabalho que trata de uma questão atual e de grande relevância para uma melhor compreensão da relação do sujeito-texto.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Ao entrarmos na universidade, nos deparamos com gêneros diferentes dos que estamos acostumados a ver. A resenha acadêmica é um deles. Logo, a resenha passa a ser frequente em nossa vida acadêmica. Mas, como nasce uma resenha? Essa é uma das questões que procuramos responder. Nosso propósito é analisar a resenha do ponto de vista de sua criação, de sua gênese.
MÉTODOS:
Para alcançarmos os objetivos aqui expressos, mostraremos o caminho percorrido por uma dupla de estudantes do curso de Ciências da Computação de uma instituição baiana de nível superior. A opção de uma escrita conjunta foi feita com o propósito de registrar as intervenções e trocas que marcam toda essa situação.
Solicitamos que as alunas elaborassem uma resenha crítica a partir de um curta- metragem que exibimos para elas. É importante ressaltar que foi pedido a dupla que não apagasse as operações de reescrita que realizaram para escrever a primeira versão.
Todo o momento da produção do texto foi registrado em áudio, para, assim, capturarmos o diálogo mantido entre os sujeitos a respeito do texto. Após ouvirmos e analisarmos a gravação, pontuamos diversos episódios que nos chamaram a atenção. Posteriormente, fizemos uma entrevista com as próprias alunas, as quais foram questionadas sobre os motivos que as levaram a fazer alterações no texto.
O texto pronto, o rascunho e as gravações acrescentaram dados valiosos à apreensão do gênero resenha, constituindo nossos dados processuais. Para analisarmos os dados, foi necessário transcrevermos as duas gravações.
A partir daí, iniciamos uma análise minuciosa das transcrições, assinalando alguns pontos específicos e importantes para nossa pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Observando os traços deixados pelos nossos sujeitos de pesquisa, julgamos ter colocado de lado a ideia de que um texto é fruto de inspiração absoluta e repentina. Nosso trabalho confirma que, por trás de uma produção textual, existe todo um processo de construção, e construir um texto é um trabalho constante.
Nessa análise, percebemos que aqueles que estão escrevendo demonstram um grande cuidado no que diz respeito à aparência do texto e à norma culta. Uma de suas maiores preocupações era chamar a atenção do leitor com palavras e frases “corretas” e “bonitas”. Quase sempre, o objetivo dos escreventes é proporcionar uma leitura clara e prazerosa. Destacamos, também, a importância do conhecimento de mundo para a construção de um trabalho como este. Muitas foram as inferências feitas pelos nossos sujeitos durante o processo de elaboração da resenha. Outro ponto relevante diz respeito à área de atuação dos autores. Detalhes que podem passar despercebidos por atuantes de determinada área são facilmente observados por atuantes de outra no que diz respeito à apreensão do gênero em questão.
Outras questões importantes puderam ser observadas, a saber: a situação de comunicação, elementos externos ao escritor; as informações sobre o assunto de que falam; os momentos de releitura e revisão; o olhar crítico etc.
CONCLUSÕES:
A grande questão que ainda nos resta responder é: o estilo do gênero prevalece sobre o estilo dos escreventes?
Notamos que, enquanto escreviam, nossos sujeitos sempre faziam menção à estrutura da resenha, preocupando-se com onde, como e quando deveriam colocar determinados elementos linguísticos.
Concluímos, então, que o estilo dos escreventes, embora presente, não é absoluto. O escritor organiza de certa maneira os discursos que constituem o seu texto, levando em conta a estrutura estável e predeterminada dos gêneros. Suas escolhas linguísticas são feitas de acordo com o conhecimento que demonstram ter sobre o gênero que estavam escrevendo.
Palavras-chave: Gênero, Estilo, Processo textual.