65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 13. Parasitologia - 1. Entomologia e Malacologia de Parasitos e Vetores
EFEITO DE Metarhizium anisopliae s.l. SOBRE Rhipicephalus sanguineus EM CONDIÇÕES ESTRESSANTES DE TEMPERATURA
Fabrício Moreira Alves - Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública-UFG
Flávia Paixão - Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública-UFG
Christian Luz - Prof. Dr.- Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública-UFG
Éverton Kort Kamp Fernandes - Prof. Dr./Orientador - Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública-UFG
INTRODUÇÃO:
Rhipicephalus sanguineus, vulgarmente conhecido como carrapato vermelho do cão, possui distribuição nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudoeste do Brasil. O seu principal hospedeiro é o cão, e apesar da sua baixa antropofilia também pode parasitar o homem. R. sanguineus é vetor de Babesia canis e Ehrlichia canis, agentes etiológicos da babesiose canina e erliquiose monocítica, respectivamente. Na saúde humana, é incriminado como vetor da febre maculosa em países como Estados Unidos e México. Os métodos de controle de carrapatos mais empregados consistem no uso de acaricidas de diferentes grupos químicos, como amidinas, piretroides e organosfosforados. O uso indiscriminado de produtos químicos, no entanto, pode levar ao surgimento de populações resistentes. Fungos entomopatogênicos são relatados como importantes patógenos de carrapatos, principalmente por penetrarem ativamente pela cutícula e por atacarem as diversas fases do ciclo do carrapato; por este motivo são investigados como alternativa promissora para controle destes artrópodes. Em contrapartida, a radiação ultravioleta, a alta temperatura e a baixa umidade relativa são fatores ambientais limitantes da utilização de bioprodutos a base de fungos em programas de controle biológico de carrapatos e outros artrópodes.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O presente estudo investigou parâmetros biológicos de R. sanguineus tratados com conídios do fungo M. anisopliae s.l. suspensos em solução aquosa ou formulados em óleo mineral, e submetidos à condição estressante de temperatura. Além disso, foi investigado o efeito in vitro da temperatura sobre a germinação de conídios de M. anisopliae s.l. suspensos em água ou óleo.
MÉTODOS:
Foi estudado o produto comercial Metarril Organic®, composto por duas linhagens de M. anisopliae s.l., ESALQ-1037 e ESALQ-E9. O bioensaio (teste in vivo) foi constituído de 10 grupos, cada um composto por 10 fêmeas ingurgitadas. Os tratamentos foram realizados com aplicação tópica de 2,5µL de suspensão fúngica aquosa ou oleosa. Grupos controle foram tratados com óleo (Naturol®) ou água com Tween® 80 a 0,01% (sem conídios), e dois grupos não receberam tratamento algum. Dos 10 grupos, cinco foram mantidos em temperatura ótima: constante 25±1ºC em incubadora. Outros cinco grupos foram expostos à estresse térmico: ciclos de 40±0.2ºC por 4h em banho-maria, e 25±1ºC por 20h em incubadora, por 4d; depois foram transferidos para constante 25±1ºC. Os parâmetros biológicos: Reprodução Estimada (RE) e Percentual de Controle (PC) foram analisados para todos os grupos. No teste de termotolerância in vitro, 2 mL de suspensão aquosa e formulação oleosa foram expostos a 40±0.2ºC, em banho-maira, por 2, 4 e 6h. Foram transferidos 20µL das amostras para placas de Petri contendo BDAY acrescido de Benomyl®. As placas foram incubadas por 8, 12,16, 20, 24 ou 48h a 25±1ºC. A Germinação Relativa (GR) foi utilizada para avaliação da curva de germinação. Foram realizadas três repetições para cada ensaio.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Conídios formulados em óleo promoveram maior PC em carrapatos mantidos em condição ótima de temperatura (68,9%), em comparação aos carrapatos que foram mantidos em condições de estresse térmico (61,4%). Em contrapartida, conídios suspensos em água promoveram menor PC (38,6%) quando carrapatos foram mantidos em condição de estresse térmico. Carrapatos não tratados com Metarril e mantidos em temperatura ótima apresentaram RE igual a 1.065.725,83, enquanto os carrapatos que foram submetidos a condição de estresse térmico apresentaram RE igual a 822.989,80, indicando que fêmeas ingurgitadas de R. sanguineus foram sensíveis a condição de estresse térmico estudada. Nos testes in vitro com exposição de conídios a 40±0.2ºC por 4h, a GR média dos conídios formulados em óleo foi de 89% nas primeiras 16h de incubação, enquanto os conídios suspensos em água apresentaram GR média de 53% para o mesmo período de incubação, 16h (p<0,05). Na exposição por 6h, a germinação de conídios formulados em óleo foi de 95% nas primeiras 20h, enquanto os conídios suspensos em água e expostos ao calor por igual período apresentaram 50% de GR em até 20h de incubação (p<0,05). Neste sentido, maior atraso na germinação dos conídios expostos a 40±0.2ºC foi observado quando estes foram suspensos em água.
CONCLUSÕES:
A formulação oleosa de conídios de M. anisopliae s.l. mostrou-se mais eficaz para controle de R. sanguineus em comparação a conídios suspensos em água, mesmo quando carrapatos tratados foram expostos a condições de estresse térmico. Esses resultados sugerem que conídios foram mais termotolerantes quando formulados em óleo mineral. Os estudos in vitro revelaram maior termotolerância dos conídios formulados em óleo em comparação aos conídios suspensos em solução aquosa de Tween® 80 0,01%, visto que conídios formulados em óleo apresentaram maior percentual médio de GR em menor tempo de incubação.
Palavras-chave: Fungos entomopatogênicos, Carrapatos, Controle microbiano.