65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 2. Linguística Histórica
ESTRATÉGIAS DE TOPICALIZAÇÃO EM CARTAS DE ALFORRIA: UMA INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR DA SINTAXE DO CORPUS DOVIC
Silmara de Brito Silva - estudante de graduaçãoDepto. De Estudos Linguísticos e Literários- UESB
Eloísa Maiana Barbosa Lopes - Estudante Graduação – Depto. Estudos Linguísticos e Literários - UESB
João Henrique Silva Pinto - Mestrando Linguística - PPGLIN/Dept. de Estudos Linguísticos e Literários - UESB
Cristiane Namiuti Temponi - Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários – UESB
Jorge Viana Santos - Prof. Dr./co-Orientador – Depto. de Estudos Linguísticos e Literários - UESB
INTRODUÇÃO:
Os estudos da Mudança no quadro gerativo buscam aspectos linguísticos que favoreçam a elaboração de hipóteses sobre gramáticas. Um desses aspectos é a ordem de constituintes na sentença. Pontes (1987), Galves (2001) e Duarte e Kato (2008) defendem que o português brasileiro (PB) é caracterizado como uma língua voltada para o tópico, diferentemente do português europeu (PE), porém, ambas as línguas foram originadas do português clássico (PCl), que também, conforme pesquisas recentes, EIDE (2002); PAIXÃO DE SOUSA (2004); GIBRAIL (2010), entre outros, era uma língua XV (V2), em que X era um elemento fronteado, focalizado ou topicalizado. Portanto, com o nosso subprojeto de pesquisa propomos investigar a hipótese de que as estruturas de topicalização do PB tiveram origem no português clássico. Nosso subprojeto de pesquisa tem como o propósito analisar as estruturas de topicalização encontradas nas cartas de alforria do corpus DOVIC, composto de documentos históricos de Vitória da Conquista-BA, redigidos em português por brasileiros da região. A pesquisa desenvolvida neste trabalho se insere no quadro teórico do Programa Minimalista para a Teoria Linguística, introduzido por Chomsky (1993).
OBJETIVO DO TRABALHO:
A ocorrência de estruturas de topicalização é significativa na história do português, porém, somente no português antigo e clássico observa-se o fenômeno do scrambling de constituintes complemento. Com isso, propomo-nos descrever as estruturas de topicalização no corpus DOVIC a fim de investigar a hipótese de que as estruturas de topicalização do PB originaram-se no PCl.
MÉTODOS:
O corpus desta pesquisa é constituído de cartas de alforria oitocentistas que compõem o Corpus DOViC . A construção e implementação desse corpus faz parte dos objetivos do projeto desenvolvido na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, intitulado “Novos meios para antigas fontes: Sintaxe diacrônica em corpus eletrônico do português” (coordenado pela Professora Dra Cristiane Namiuti (UESB)). No âmbito da iniciação científica contribuímos nas tarefas de construção do corpus DOVIC – fotografia de documentos, catalogação e transcrição. Para a transcrição, foi utilizado o programa Nikon para tornar a leitura e manipulação das imagens dos manuscritos mais fáceis, melhorando a visualização para transcrição paleográfica. Para transcrever os documentos utilizamos o programa E-dictor, desenvolvido por Paixão de Sousa, Kepler e Faria (2009) na UNICAMP pelo projeto Padrões Rítmicos Fixação de Parâmetros e Mudança Lingüística, coordenado pela Professora Dra Charlotte Galves. Para a descrição dos dados, foi desenvolvido seis grupos de fatores que levam em conta o tipo de estratégia de Topicalização/Focalização, o constituinte Topicalizado/Focalizado e o tipo de oração. Para a classificação e organização dos dados escolhemos o programa Excel.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Diversos trabalhos tem argumentado que atualmente o PB é uma língua voltada para o discurso, com proeminência de tópico (cf. PONTES, 1987; GALVES, 2001; DUARTE e KATO, 2008, entre outros trabalhos). No entanto, a gramática do PB não parece seguir uma tipologia de tópico como a do Chinês (cf. KENEDY 2011). Nossa reflexão gira em torno da hipótese de que o fato do PB ser uma língua em que o tópico discursivo tem um papel saliente na gramática, podendo até concordar com o predicado verbal, como no exemplo de Galves (2001) “Essas janelas batem sol”, se deve ao caso de ter sido originada de uma língua em que os constituintes pré-verbais comumente eram elementos fronteados para uma posição sintática diferente da posição sujeito e com conteúdos informacionais fortes. Citando GALVES (2009): “há fortes evidências de que o português clássico seja uma língua de tipo V2, ou seja, uma língua na qual existe uma posição pré-verbal disponível para ser ocupada por qualquer elemento do sintagma verbal, que recebe então uma interpretação de tópico ou foco.” Isso pode ter influenciado construções sentencias com as que começamos a encontrar nos documentos do século XIX do corpus DOVIC: ao concerto abaixo assignado este li, conferi, concertei eassinei.
CONCLUSÕES:
GIBRAIL (2010), em seus estudos sobre o português Clássico, atesta, em consonância com outros estudos, que nos anos de 1500 a língua portuguesa tinha propriedades XV (V2), em que X era um elemento fronteado, focalizado ou topicalizado. Assim, o português que veio para o Brasil, no século XVI, era regido por uma gramática diferente do português europeu atual e do português brasileiro moderno que contemplava uma sintaxe V2. Ou seja, estruturas de fronteamento e topicalização eram naturais naquela gramática, por isso, é possível postular que as características do português brasileiro no que concerne aos fenômenos da topicalização pode ter origem no português clássico.
Palavras-chave: Topicalização, Sintaxe, Focalização.