65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 6. Genética
DIVERGÊNCIAS CROMOSSÔMICAS E PROCESSO DE ESPECIAÇÃO NOS GOBÍDEOS Gobionellus oceanicius e Gobionellus stomatus
Karlla Danielle Jorge Amorim - Depto. Biologia Celular e Genética, LGRM - UFRN
Paulo Augusto de Lima Filho - Depto. Biologia Celular e Genética, LGRM - UFRN
Gideão Wagner Werneck Félix da Costa - Depto. Biologia Celular e Genética, LGRM - UFRN
Roberta Godoy da Costa Nunes - Depto. Biologia Celular e Genética, LGRM - UFRN
Juliana Galvão Bezerra - Depto. Biologia Celular e Genética, LGRM - UFRN
Wagner Franco Molina - Prof. Dr./Orientador - Depto. Biologia Celular e Genética, LGRM - UFRN
INTRODUÇÃO:
Gobiidae, com cerca de 1.950 espécies, constitui a maior família de peixes marinhos, cuja marcada diversidade parece associada às elevadas taxas de especiação em ambientes recifais. Em função da multiplicidade de habitats, larga distribuição geográfica, pequeno tamanho corporal (geralmente menos de 5 cm) e padrões ecológicos frequentemente crípticos, a completa extensão da diversidade deste grupo é em grande parte desconhecida. Algumas espécies tem se mostrado modelos favoráveis de diversificação no ambiente marinho, aonde chegam a exibir fragmentação populacional mesmo em escalas geográficas reduzidas (<100 km). Em contraste com outros grupos de Perciformes marinhos, Gobiidae apresenta elevada diversidade cariotípica, o que torna suas espécies particularmente adequadas em estudos de estruturação genética baseados em dados citogenéticos. Duas espécies criptobentônicas, de regiões recifais e estuarinas, do gênero Gobionellus, G. oceanicus (Pallas, 1770), distribuído da costa EUA ao Sul do Brasil e G. stomatus (Starks, 1913), endêmico do Brasil, foram citogeneticamente analisadas. As espécies demonstram similaridades cariotípicas, como a presença de cromossomos sexuais, e revelam diferentes caminhos evolutivos quanto à macroestrutura cariotípica, distribuição de regiões específicas de DNA e presença de cromossomos Bs.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Aqui é apresentada uma análise carioevolutiva de duas espécies crípticas do gênero Gobionellus, por meio de metodologias citogenéticas como coloração convencional, bandamento C, Ag-RON e coloração com fluorocromos base-específicos CMA3 e DAPI.
MÉTODOS:
Os gobídeos G. oceanicus (n=16; 7♂/9♀) e G. stomatus (n=10; 5♂/5♀), provenientes do litoral do Rio Grande do Norte, foram coletados com uso de rede de confecção própria. Os exemplares foram submetidos à estimulação mitótica in vivo overnight através de inoculação intramuscular de complexo de antígenos bacterianos e fúngicos (Molina et al., 2010). Os cromossomos mitóticos foram obtidos a partir de suspensão de células do rim anterior (Gold et al., 1990). O número diploide foi estabelecido pela análise de cerca de trinta metáfases, coradas com Giemsa à 5% diluído em tampão fosfato (pH 6.8). As regiões heterocromáticas foram analisadas através de bandamento C (Sumner, 1972). Os cromossomos foram corados com os fluorocromos base-específicos CMA3 e DAPI (Carvalho et al., 2005). Os sítios ribossomais principais das regiões organizadoras de nucléolos (RONs) foram identificados através da impregnação argêntea, de acordo com Howell e Black 1980. As melhores metáfases foram fotografadas em um microscópio OlympusTM BX50, acoplado a um sistema de captura digital Olympus DP70, e utilizadas na confecção do cariótipo. A morfologia cromossômica foi determinada de acordo com a razão entre os braços (Levan et al., 1964).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
As análises indicaram um número diploide comum para G. oceanicus (12m+5st+39a,♂; 12m+6st+38a,♀), em G. stomatus (20m+15st+21a,♂; 20m+16sm+20a,♀) de 56 cromossomos, mas com marcada divergência na macroestrutura do cariótipo. Os padrões encontrados em ambas as espécies, embora necessitem de confirmação, sugerem a presença de alossomos em ambas as espécies. Adicionalmente, foi observada em algumas metáfases de ambos os sexos de G. oceanicus a presença de um cromossomo B. Sítios Ag-RONs simples encontram-se em posição terminal em cromossomos metacêntricos em G. oceanicus e em posição intersticial no braço longo de cromossomo submetacêntrico em G. stomatus. O bandamento C evidenciou para as espécies segmentos heterocromáticos nas regiões centroméricas, pericentroméricas e terminais, para ambas espécies. Curiosamente, nas duas espécies, além dos sítios Ag-RONs, as demais regiões heterocromáticas se mostraram CMA3+/DAPI- Para os peixes marinhos, o surgimento de cromossomos sexuais pode ter desempenhado um papel decisivo no processo de especiação, cuja origem frequentemente está associada a eventos robertsonianos. De fato, em outras espécies de gobídeos como Ctenogobius shufeldti mecanismos de translocação robertsoniana estão envolvidos na origem de sistema de cromossomos sexual múltiplo X1X1X2X2X1X2Y.
CONCLUSÕES:
A análise citogenética das duas espécies do gênero Gobionellus que ocorrem no litoral brasileiro, revelam o maior número diploide e de braços cromossômicos entre todos os representantes da especiosa família Gobiidae, além disso, a presença de cromossomos sexuais, cromossomo B e atuação de diferentes mecanismos de diferenciação cromossômica do cariótipo. Os processos que atuam na diferenciação dos cromossomos sexuais ainda não estão completamente esclarecidos. No entanto, a diversidade de mecanismos de determinação do sexo em peixes, somada à ausência de cromossomos sexuais heteromórficos em muitas espécies, faz deste grupo um modelo ímpar para uma melhor compreensão dos processos evolutivos envolvidos na diferenciação dos cromossomos sexuais em vertebrados, sobretudo considerando que os peixes ocupam a posição basal na filogenia deste grupo.
Palavras-chave: Diferenciação cromossômica, Cromossomo sexual, Cromossomo B.