65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 1. Antropologia da Religião
O pêndulo da Umbanda: Um Estudo de Caso em duas casas religiosas na cidade de Dourados – MS
Ana Maria Valias Andrade Silveira - Faculdade de Ciências Humanas - UFGD
INTRODUÇÃO:
A Umbanda é uma religião resultante de matrizes religiosas africanas que no Brasil receberam a influência do catolicismo, de religiões indígenas e do espiritismo europeu. A partir desses encontros, ela constituiu um continuum religioso, ou seja, um leque em que ás religiões afro descendentes compuseram um campo (BOURDIEU 2007) em que diversas matrizes dialogam, mas sem perder suas características próprias. Esse continuum vem sendo proposto desde o século XX. A variedade de religiões acima expostas foi proposta como parte de um mesmo todo pela primeira vez por Arthur Ramos ainda na primeira metade do século XX (2001). Para Ramos, as religiões se apresentam organizadas a partir de uma pureza a um “crescente sincretismo” (Jeje-Nagô ao Espiritismo).
O continuum religioso afro descendente é composto por aproximações e afastamentos. As buscas por especificidades e generalidades fazem parte de um processo de manutenção e atualização de práticas religiosas, á princípio, no campo das religiões afro descendentes, mas que se desdobra em um campo mais amplo, com outros modelos religiosos (neo pentecostais).
OBJETIVO DO TRABALHO:
Contribuir para o entendimento, por meio de um estudo de caso das relações entre duas casas religiosas do município de Dourados, de como o continuum religioso umbandista, de forma mais específica, o afro descendente, como ainda o conjunto das religiões de possessão, de forma mais geral, se relacionam entre aproximações e afastamentos; mudanças e continuidades; permanências e rupturas.
MÉTODOS:
Por meio de um diálogo entre a Antropologia e a História, a pesquisa esta sendo realizada através de uma descrição etnográfica mediante a observação participante.
A prática etnográfica exige uma técnica determinada numa combinação de práticas metodológicas. Assim, através de uma descrição física, comportamental e das práticas religiosas nas duas casas, pode-se chegar a um conhecimento aprofundado, mediado pela experiência-vivência do campo.
Deste modo, estão sendo utilizadas entrevistas semi-estruturadas com alguns dos freqüentadores da casa, incluindo a mãe-de-santo do terreiro e os dirigentes da Casa Espiritualista, bem como as pessoas que, apesar de não aparecerem explicitamente, estão inseridas neste processo, e também as que transitam entre as duas casas.
Serão utilizadas fotografias a fim de realizar uma descrição física dessas casas, incluindo símbolos, elementos diacríticos significativos. Com depoimentos e histórias de vida, pode-se compreender o aspecto processualista (análise diacrônica) desses espaços, analisando os caminhos percorridos para que se chegasse à situação atual. Nesse processo, a entrevista também contribuirá, tendo em vista que as entrevistas já estão sendo realizadas como método para orientar e delimitar o campo teórico-metodológico á ser utilizado.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Esta pesquisa esta em andamento, no entanto foi realizada uma descrição física das duas casas, e o que se percebe é a presença de sinais e símbolos que se identifica com a prática umbandista, há exemplo disso temos alguns elementos de suma importância para pratica do ritual.
As duas casas possuem alguns elementos na pratica ritualística que se diferenciam, apesar das inúmeras particularidades em comum. Isso ajuda a pensar nas praticas que são utilizadas como capital simbólico, que pode corresponder ao movimento deste trânsito de pessoas de uma casa para a outra.
Nas entrevistas, é nítido o entendimento pluralista da Umbanda. O que se percebe é que, apesar das inúmeras retiradas e composições, continuidades e rupturas, que garantem o movimento pendular dentro do continuum, ainda há uma identificação do panteão Umbandista. Assim, apesar deste dinamismo cultural vigente e emergente, há ressignificações marcadas neste processo.
Ainda caminhando por este viés, pretende-se envolver com estas pessoas, em especial as que transitam entre as duas casas, para se chegar a conclusões verossímeis, e verificar se o caminho que nos leva a este entendimento está vinculado à complementaridade como movimento constitutivo entre esses espaços religiosos.
CONCLUSÕES:
Esta pesquisa será concluída no ano de 2015, como dissertação para obtenção do título de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia na Universidade Federal da Grande Dourados-MS.
Deve-se considerar a Umbanda como uma religião que apresenta diferenças em relação às práticas de sua congênere, o Candomblé. Assim, há afastamentos e aproximações em alguns aspectos. De igual forma, isso ocorre entre as casas religiosas que se autodenominam como de Umbanda. Entre elas é possível verificar buscas de diferenciações que as apresentem como específicas, e aproximações que as coloquem dentro de um continuum mais amplo. Também é possível perceber esse processo entre casas que se autodenominam como Umbandistas e outras que se apresentam como Espíritas.
Neste espaço do continuum, situa-se as duas casas religiosas que servirão de lócus para essa pesquisa. A casa “Reino de Ogum Beira Mar” se reconhece como uma casa de práticas umbandistas. Já o “Movimento Espírita Francisco de Assis – MEFA” se autodenomina como espiritualistas.
Esse diálogo entre as duas casas, fenômeno pouco comum nos modelos umbandistas, pode contribuir para o entendimento de como as religiões afro descendente e, de forma mais ampla, as de possessão, se relacionam nesse continuum religioso.
Palavras-chave: Umbanda, Dinamismo, Continuum Religioso.