65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 2. Currículo
HÁ FOGO SOBRE AS BRASAS? ANÁLISE SOBRE AS EXPERIÊNCIAS EDUCATIVAS COM A CULTURA POPULAR NA ESCOLA
Neide da Silva Campos - Mestre em Educação - COEDUC/UFMT
Luiz Augusto Passos - Prof. Dr./Orientador - GPMSE/UFMT
Beleni Saléte Grando - Profa.Dra./coorientadora - COEDUC/UFMT
INTRODUÇÃO:
Esta pesquisa se inscreve na Linha do Mestrado em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, “Movimentos Sociais, Política e Educação Popular”. Para sua efetivação, foram tomadas como referência as experiências educativas com a cultura popular em Cáceres-MT e em Nova Olímpia-MT. Vários estudos apontam que a escola ignora a diversidade nela existente e promove uma educação monocultural que exclui e não possibilita que as crianças nela se identifiquem principalmente as crianças de classes populares (Moreira e Candau, 2007), (FREIRE, 1996), (GADOTTI, 2002). (BRANDÃO, 2008). Nesse sentido, buscou compreender como a escola trabalha com os saberes populares em dois contextos distintos, no qual a cultura popular marca o cotidiano de muitos meninos e meninas. Trazer esse aspecto da vida cotidiana, do mundo real, para o cotidiano do educador, certamente é romper com as relações de poder naturalizadas no contexto escola, em que o saber válido é o formalizado no currículo pela cultura etnocêntrica, em prol de uma educação que exclui e torna invisível outras possibilidades de saberes na escola.
OBJETIVO DO TRABALHO:
buscou-se compreender como a cultura popular está inserida no currículo escolar, procurando identificar no discurso e nas práticas das educadoras como elas concebem cultura e educação, bem como compreender as relações de poder instituídas que impedem uma práxis educativa voltada para a diversidade cultural no contexto escolar.
MÉTODOS:
Utilizei como percurso metodológico a pesquisa qualitativa, uma vez que esta trabalha com os aspectos subjetivos, no campo dos sentidos e significados (MINAYO, 2007) de uma determinada realidade estudada, no caso desta pesquisa, a escola e as professoras com suas experiências exitosas. Os instrumentos metodológicos utilizados no transcorrer da pesquisa de campo foram: observação em mostra cultural de algumas escolas, registro fotográfico, entrevista semiestruturada e análise documental. Nesse âmbito, foram analisados e interpretados os Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) das escolas, bem como alguns projetos individuais e coletivos dos professores tendo como eixo o trabalho com a cultura popular. Esses instrumentos possibilitaram uma gama de elementos para que pudesse fazer uma análise compreensiva das informações, na qual pudesse desvelar o objeto pesquisado. Outro recurso utilizado foi a entrevista semiestruturada com os sujeitos. Nela, foi possível desvelar por meios das experiências os sentidos e significados num processo de ir e vir constante e, ouvindo-as atentamente, foi possível chegar a um lugar nesta pesquisa, produzir novos conhecimentos por meio da interpretação das informações.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
As práticas da cultura popular em interface com a educação não ocorrem de maneira profícua no contexto escolar. As experiências exitosas geralmente são aquelas que, de alguma maneira, marcam a relação professor/aluno, no sentido de uma educação com sentidos, que não nega os diferentes tipos de saberes em relação. É preciso pensar na formação dos professores desde a formação inicial, perpassando pela formação continuada e revisão do currículo escolar. “A educação que tanto revê os seus currículos ganharia muito em qualidade se [...] ousasse reencontrar um sentido menos utilitário e mais humanamente integrado e interativo em sua missão de educar pessoas.” (BRANDÃO, 2008, p.37). As experiências possibilitaram compreender que o conhecimento, para ser apropriado, tem que “mexer” com o sujeito, tem de tocá-lo pela emoção no seu corpo, na sua mente, na inteireza do ser, aquilo que isto é, educação com sentido Gadotti (2002). O conhecimento não pode ser reduzido a um simples racionalismo técnico, aos aspectos cognitivos em si, antes tem de haver e querer também ser uma educação que inspire até a última gota: ser e fazer sedução pelo conhecimento, encantamento, ser festa, ritmos, som, imagens, ser alegria, ser conflituosa, ser vida, querer ser mais, ser resistência.
CONCLUSÕES:
Ao abordar a emergência de uma educação que privilegie a diversidade existente, se faz necessário pensar nos cursos de formação de professores sensíveis à realidade de cada contexto sócio-cultural. A pesquisa me possibilitou ver que é possível adentrar em outros caminhos quando pensamos em entrelaçar saberes populares e saberes escolares. Assim, ao chegar ao final desta pesquisa observei que há fogo, sim, sobre as brasas na relação dessas experiências que rompem totalmente com as formas arcaicas da educação. Minha pergunta agora pode ser respondida, são brasas que atiçam o fogo da vida, da comunicação, da troca e cuidado entre seres humanos, para construí-los ainda mais humanos, mais solidários, numa perspectiva de possibilitar aos educandos e educandas, a partir da compreensão da sua cultura e/ou de outras culturas, estabelecer relações mais humanas, menos preconceituosas com os diferentes sujeitos. Ao lidar com cultura no espaço escolar, tomada não mais como algo exótico e para além das datas comemorativas, a escola passa a estabelecer com seus pares, com a comunidade, com a família, com os alunos, uma relação de trocas, de respeito, de reconhecimentos dos diferentes saberes, atiçados pela percepção e valorização das diferentes culturas em relação.
Palavras-chave: Cultura popular, Educação, Experiência Exitosa.