65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 3. Línguas Estrangeiras Modernas
RELATO SOBRE PERCEPÇÕES DAS ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM UTILIZADAS POR ALUNOS DEFICIENTES VISUAIS EM AULAS DE ESPANHOL COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA.
Francisca Manuela de Souza Freire - Depto. de Letras Estrangeiras Modernas - UFPB
Betânia Passos Medrado - Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Letras Estrangeiras Modernas - UFPB
INTRODUÇÃO:
Estratégias de Aprendizagem (EA) são instrumentos utilizados pelos alunos como forma de otimizar seu aprendizado. Segundo Vilaça (2010, p. 211), elas “[...] podem ser compreendidas como comportamentos, técnicas, ações e ferramentas empregadas para a aprendizagem e o uso de uma língua”. Muitos autores (O`MALLEY& CHAMOT, 1990; VILAÇA, 2003) têm se preocupado em pesquisar as EA, porém, neste trabalho, deter-nos-emos às definições de Oxford (1990), que, de acordo com Araújo-Silva (2006) tem sido a autora que mais vem influenciando os estudos sobre o tema e servindo como referencial teórico para as pesquisas em EA. Estudar as estratégias utilizadas por deficientes visuais que aprendem uma LE é uma forma de contribuir com estes alunos e com sua autonomia, já que, segundo Oxford (1990, p.1), “as estratégias são especialmente importantes na aprendizagem de línguas porque elas são ferramentas para um envolvimento ativo e autodirigido, o que é essencial para o desenvolvimento da competência comunicativa”. Ademais, como afirma Magalhães (2009), pesquisas sobre o ensino de LE para deficientes visuais ainda são bastante escassas e o tema da inclusão está cada vez mais recorrente, sendo assim, existe a necessidade de democratizar e socializar as informações referentes a esta área.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Relatar a percepção de uma professora em formação acerca das estratégias de aprendizagem mais recorrentes em alunos com deficiência visual em sala de aula de espanhol como LE, e como o uso dessas estratégias pode contribuir para a aprendizagem desses alunos.
MÉTODOS:
Adotamos o método qualitativo-interpretativista e coletamos os dados a partir de observações que fizemos durante as aulas de espanhol ministradas para uma turma de deficientes visuais, na Universidade Federal da Paraíba por esta bolsista no âmbito do projeto de PIBIC – O ensino de língua estrangeira a deficientes visuais: inclusão social, políticas educacionais e formação de professores bem como de observações posteriores a essas aulas a partir das gravações em vídeo que foram realizadas. A turma é de nível básico I com nove alunos – entre 18 e 60 anos - que possuem cegueira total e fazem uso do material adaptado para o braile.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Pudemos perceber de forma recorrente as estratégias diretas de compensação (pedir ajuda, inventar palavras, transpor da língua materna). Com relação às cognitivas, a capacidade de refletir e analisar a língua apareceu de forma satisfatória, pois os alunos DV conseguiram chegar a conclusões sobre regras e usos do espanhol de uma forma mais rápida e precisa que alunos sem deficiências. Porém, algumas estratégias cognitivas que poderiam auxiliar a aprendizagem não foram perceptíveis ou não apareceram (o caso de práticas naturais) e essa ausência foi fomentada pela dificuldade que eles tiveram em se expressar em situações mais naturais em sala de aula. Contudo, não conseguimos perceber as estratégias de memória, e como afirma Araújo-Silva (2006) essas são as que apresentam maior dificuldade de observação. Das estratégias indiretas, pudemos identificar as sociais, desde o interesse pela língua espanhola, como o bom relacionamento entre eles e como essa relação criou um ambiente favorável à aprendizagem. Quanto às afetivas, os alunos parecem motivados, principalmente porque pudemos constatar em relatos feitos por eles na sala de aula, que estudar uma LE parecia um sonho difícil de ser alcançado. E, por fim, as EA metacognitivas não foram evidenciadas de forma perceptível na análise.
CONCLUSÕES:
A partir das estratégias que observamos nos alunos, pudemos constatar: 1. a importância de traçar um perfil estratégico desses alunos para orientar a prática desta professora em formação e assim poder ajudá-los, fornecendo e guiando os usos das ferramentas adequadas que auxiliarão a aprendizagem; 2. a utilização das EA, seja de forma consciente ou inconsciente, permite que o aluno avance na aprendizagem da língua espanhola de forma autônoma, sejam elas estratégias indiretas ou diretas, como é o caso da motivação, da percepção diferenciada (rápida e concisa) da língua, da compensação que eles se utilizam para sanar os problemas que encontram, entre outras. Acreditamos que se eles tivessem consciência de determinadas EA ou fizessem uso delas, mesmo que de forma inconsciente, como no exemplo citado das práticas naturais, de aplicar o conhecimento em situações reais de uso, otimizariam assim a aprendizagem. Por último, a não identificação das estratégias metacognitivas resultou em uma problemática a ser possivelmente investigada, já que sua utilização por alunos videntes é mais perceptível e elas são fundamentais para a organização dos conteúdos vistos em sala. Como essa organização é consciente, é a partir delas que os alunos vão estudar e retomar o que foi aprendido.
Palavras-chave: Deficiente visual, Ensino de espanhol como língua estrangeira, Estratégias de aprendizagem.