65ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 3. Física - 2. Ensino de Física
PRÁTICA DE ENSINO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES – ESTUDO DE DIFERENTES FORMAS DE REGISTRO DE OBSERVAÇÕES DO PROCESSO DIDÁTICO.
Eugenio Maria de França Ramos - Prof. Dr. / Universidade Estadual Paulista / IB UNESP Rio Claro
Bernadete Benetti - Profa. Dra. / Universidade Estadual Paulista / FFC UNESP Marília
INTRODUÇÃO:
Apresentamos parte de estudo realizado desde 2011 junto a UNESP, sobre a formação de professores em nível de Graduação, na Licenciatura em Física, analisando algumas das atividades da disciplina Prática de Ensino. No projeto político pedagógico da Licenciatura mencionada tal disciplina compreende um campo teórico de aprofundamento – em tópicos de Física da Educação Básica (EB), introdução ao campo de pesquisa em Ensino de Física e aspectos pedagógicos do ensino e aprendizado – e um campo de estudos escolares desenvolvido na forma de Estágio Supervisionado, cujo foco de estudo considera o acompanhamento do cotidiano escolar, atividades de regência e desenvolvimento de projetos de ensino. Como apontado por Gauthier (1995) e Carvalho e Gil-Perez (1980) experiências discentes anteriores de tais futuros professores (quando de sua vivência como alunos na EB), constituem-se em saber experiencial estruturado, que muitas vezes implicam em pré-julgamentos das práticas escolares e dificultam o distanciamento de análise do trabalho escolar. Discutimos a eficácia de diferentes formas de registro que são sugeridas aos futuros professores – o registro em caderno de campo, a realização de desenho, o mapa da geografia da sala e o relato oral em roda de conversa.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisar materiais didáticos de apoio às atividades de formação inicial de professores, particularmente os registros de estágio supervisionado.
MÉTODOS:
Realizamos observações e registros coerentes com a modalidade de pesquisa qualitativa com características etnográficas, acompanhando atividades dos futuros professores em Escolas da EB.
No início das atividades da disciplina, oferecemos a cada um dos licenciandos um pequeno caderno de capa dura, de 14 x 20 cm, com 96 folhas pautadas de 23 linhas. Explicamos a eles que este caderno será o espaço para seus registros de estágio, o seu “caderno de campo”. Durante a realização das atividades escolares é solicitado que, logo após suas vivências, realizem um breve relato se possível reflexivo (tipo 1) e um desenho (tipo 2).
Após algumas semanas letivas de observações nas escolas, introduzimos uma folha quadriculada com cerca de 10 linhas e 8 colunas, simbolizando o espaço da sala de aula (tipo 3) e pedimos aos futuros professores que durante suas atividades de observação de aula, registrem o posicionamento dos alunos da Educação Básica. Esse registro aumenta em complexidade nas aulas de observação subsequentes, na primeira pede-se para identificar os agrupamentos de alunos em sala de aula e na outra, além disso, a movimentação de alunos e professor a cada 10 minutos.
A quarta forma de registro é oral (tipo 4) na sala da faculdade, onde o futuro professor deve fazer um relato livre de suas observações na turma da Educação Básica.
O registro tipo 3 foi utilizado somente nos dois primeiros meses e os outros (1, 2 e 4) durante todo o ano letivo da disciplina Prática de Ensino.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Analisando-se os registros do tipo 1 durante 2 anos de pesquisa, constatamos que os graduandos encontram certa dificuldade em lidar com a rotina semanal de registrar suas observações, mesmo que em breves comentários. Essa dificuldade é em geral superada durante o semestre pela maioria dos futuros professores, mas cerca de 10 % deles somente conseguem registrar sucintos tópicos.
Para os outros 90 % dos futuros professores, percebemos que os primeiros relatos foram descritivos com poucos elementos de reflexão ou observações pessoais. Mas ao longo do ano letivo, com a prática dos registros, os relatos tornaram-se mais ricos, contendo comentários interessantes da rotina do ambiente escolar.
O registro tipo 4, embora seja o mais valorizado pelos licenciandos, foi mais impreciso e “contaminado” por saberes prévios, refletindo muitas suas próprias vivências e, com base nelas, seus julgamentos da prática escolar.
Os registros tipo 2 (desenho livre) e 3 (o mapa da sala) embora fossem as formas de registro que os licenciandos apresentam maior resistência inicial, ofereceram resultados bastante interessantes, no que tange a objetividade e a escolha de aspectos relevantes das situações observadas. Particularmente os mapas de sala de aula retrataram aspectos que puderam ser identificados pelos próprios professores regentes de tais turmas (como a identificação de grupos de alunos ou de alunos).
CONCLUSÕES:
A aproximação do espaço escolar, seja nos primeiros momentos do estágio como nas regências, proporcionam diversas observações do dia-a-dia educacional. Tais observações, entretanto, podem ser simplesmente perdidas para a formação se não forem sistematizadas e discutidas na disciplina, daí a importância dos registros e das possíveis formas de fazê-lo.
A utilização de desenhos como uma das formas de registro permite incorporar na prática do relato a conversão de elementos tácitos em explícitos (Polanyi, 1983). Tal oportunidade de conversão de conhecimentos tácitos em explícitos é oferecida em relatos, simbólicos ou não, que expressam outros elementos da compreensão por meio de metáforas e modelos mentais que são criados pelo sujeito (que dificilmente poderiam ser explicitados de outra forma).
A descrição das situações expressas nos desenhos – como nos registros do tipo 2 e 3 - revela possibilidades interessantes de reflexões, indicando que podemos desta forma ampliar os relatos descritivos, anteriormente baseados apenas em textos. Ao fazê-lo enriquecemos os debates em torno da docência e do Ensino de Física e, com isso, a formação de professores.
Palavras-chave: Prática de Ensino, Registros, Estágio Supervisionado.