65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E ATIVIDADES ECONÔMICAS NO BRASIL: ANÁLISE COMPARATIVA A PARTIR DOS DADOS DA PINTEC (1998-2008)
Diogo Serafim Schmidt - Departamento de Sociologia - UFRGS
Sônia Maria Karam Guimarães - Profa. Dra./Orientadora - Departamento de Sociologia - UFRGS
INTRODUÇÃO:
O estudo insere-se no campo de pesquisa da sociologia econômica, uma área ainda em consolidação no Brasil, onde prevalece uma forte tradição e tendência à realização de pesquisas na perspectiva da sociologia do trabalho, com enfoque, sobretudo, na relação capital versus trabalho. A ascensão da sociologia econômica está relacionada ao insucesso da economia neoclássica e neoinstitucionalista em responder às transformações nas economias capitalistas modernas; está também relacionada a avanços nas teorias que buscam compreender as realidades sociais (GRISA, 2010). O presente estudo insere-se no debate sobre as práticas sociais e a inovação tecnológica, considerada elemento fundamental para o padrão de desenvolvimento da chamada nova economia mundial. O objeto de estudo concentra-se na análise das práticas sociais desenvolvidas pelas empresas brasileiras participantes das quatro edições da Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC), desagregadas pela Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). A pesquisa aborda um tema relevante, visto que a inovação – que depende de determinadas práticas sociais – é considerada a mola propulsora do desenvolvimento econômico para qualquer país no atual cenário econômico.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo central deste estudo foi o de comparar o nível de inovação tecnológica, no decorrer das quatro edições da PINTEC, considerando-se as diferentes atividades econômicas brasileiras categorizadas pela CNAE 1.0. Para tanto, considera-se a avaliação que as empresas fazem dos resultados, processos, dinâmicas e aspectos que favorecem, dificultam ou obstaculizam a inovação tecnológica.
MÉTODOS:
A pesquisa desenvolvida para este estudo adotou o método quantitativo utilizando dados secundários provenientes das quatro edições da PINTEC. De posse desses dados, realizou-se uma comparação entre os resultados obtidos pelas diferentes atividades da economia brasileira referente ao período 1998-2008. Para utilização mais precisa dos dados contou-se com o apoio do Núcleo de Assessoria Estatística (NAE) do Departamento de Estatística da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ao comparar as quatro edições da PINTEC, sobre empresas brasileiras classificadas por atividades econômicas, têm-se a oportunidade de diagnosticar mudanças e regularidades ocorridas ao longo de uma década. A escolha por esse tipo de análise social deu-se pela possibilidade de acompanhar continuidades e descontinuidades em relação às práticas sociais desenvolvidas pelas empresas, com o objetivo de verificar como estas impactam o grau e as taxas de inovação, de acordo com o setor. O raciocínio comparativo permite que se percebam regularidades, deslocamentos e transformações, construção de modelos e tipologias, identificação de continuidades e descontinuidades, semelhanças e diferenças, e explicitar as determinações mais gerais que regem os fenômenos sociais (SCHNEIDER; SCHMITT, 1998).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Após análise das tabelas, pode-se afirmar que os dados empíricos revelam que as empresas, independente do nível de intensidade tecnológica, não realizam práticas sociais internas e/ou externas, que tendem a levar a resultados substancialmente inovadores. Essa constatação é evidenciada pela falta de uma postura de cooperação das empresas no processo inovativo. Um dos precursores da Nova Sociologia Econômica, Granovetter caracteriza o mercado como formado por redes interpessoais (RAUD, 2005). No presente estudo, em função das possibilidades oferecidas pela PINTEC, analisaram-se as redes institucionais. O pressuposto teórico é de que a postura de cooperação torna mais eficiente o uso da rede ao utilizar os múltiplos recursos oferecidos por ela, o que propicia aprendizado pelo compartilhamento e uso da informação. As redes de cooperação fortalecem o processo de inovação ao permitir, através da interação entre os agentes, a aprendizagem organizacional. A maioria das empresas, independente da intensidade tecnológica do setor, atribui pouca importância ou não coopera com outras empresas ou institutos no desenvolvimento de inovações de produto e/ou processo. As atribuições de importância baixa às instituições de produção de conhecimento ficaram, em grande parte, na casa dos 70% a 90%.
CONCLUSÕES:
A hipótese mais geral que orientou este estudo, qual seja, a de que o maior grau de inovação não se vincula apenas com os setores de atuação das empresas, característica intrínseca a elas, mas também, às práticas sociais adotadas por gestores dessas empresas, mostrou-se válida, pois apesar dos resultados sobre a natureza da inovação brasileira como um todo serem pouco expressivos, verificou-se uma tendência, de os setores de maior intensidade tecnológica, além de apresentarem percentuais mais elevados de inovações, também apresentam resultados mais expressivos em suas práticas sociais: são os setores que mais recebem apoio do governo, os que mais promovem mudanças na estratégia corporativa e na estrutura organizacional, os que mais cooperam com universidades e institutos de pesquisa e, consequentemente, são os que mais desenvolvem inovação, tanto de produto, quanto de processo, para o mercado nacional. O que se apresenta neste estudo, portanto, muito mais do que corroborar a hipótese e trazer respostas conclusivas, através da utilização do importante banco de dados da PINTEC, é suscitar novos questionamentos para compreender os mecanismos que operam nas empresas, tanto interna quanto externamente e, assim, explicar os resultados inexpressivos do processo inovativo brasileiro.
Palavras-chave: inovação tecnológica, práticas sociais, PINTEC.