65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 10. Microbiologia - 3. Microbiologia
DETECÇÃO DE CALICIVÍRUS HUMANOS EM AMOSTRAS FECAIS DE CRIANÇAS, COM OU SEM SINTOMATOLOGIA, FREQUENTADORAS DE UMA CRECHE EM GOIÂNIA, GOIÁS
Hugo César Pereira Santos - Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública - IPTSP - UFG
Denisy Marques Mendanha - Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública - IPTSP - UFG
Ítalo de Araújo Castro - Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública - IPTSP - UFG
Fabíola Souza Fiaccadori - Profa. Dra.-Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública - IPTSP - UFG
Divina das Dores de Paula Cardoso - Profa. Dra.-Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública - IPTSP - UFG
Menira Borges de Lima Dias e Souza - Profa.Dra./Orientadora-Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública-IPTSP-UFG
INTRODUÇÃO:
A gastroenterite constitui importante causa de morbidade em humanos, e os calicivírus (CVs) são a principal causa de gastroenterite aguda epidêmica não-bacteriana, podendo ser transmitidos por água e alimentos contaminados, afetando indivíduos de todas as idades em diversas partes do mundo. Dentre os CVs, são de importância patogênica em humanos os Norovirus e os Sapovirus, que constituem dois dos gêneros da família Caliciviridae. As partículas dos CVs são esféricas, não envelopadas, com diâmetro de 27 a 40 nm, e seu genoma é composto por RNA fita simples de polaridade positiva. A principal via de transmissão dos CVs é a fecal-oral, e os principais sintomas associados à infecção são vômito e diarreia e não existem, até o momento, medicamentos e vacinas específicas para tratar ou prevenir a infecção por esses agentes. A excreção assintomática de CVs por alguns indivíduos, a baixa dose infecciosa, a ocorrência de surtos de CVs em locais com aglomeração de pessoas e a escassez de estudos envolvendo a sua detecção em crianças frequentadoras de creches reforçam a relevância do trabalho.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O presente estudo teve como objetivo avaliar a circulação de calicivírus em uma creche de Goiânia, Goiás, através da detecção de norovírus (NoV) e sapovírus (SaV) por RT-PCR em amostras fecais obtidas de crianças menores de cinco anos de idade, com ou sem sintomatologia, por um período de dois anos.
MÉTODOS:
O material de estudo foi constituído de 360 amostras fecais, obtidas de 49 crianças menores de cinco anos de idade, sintomáticas ou não, frequentadoras de uma creche em Goiânia, Goiás. As amostras foram coletadas no período de outubro de 2009 a outubro de 2011, mediante assinatura do termo de consentimento em participação no estudo pelos responsáveis e aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFG. As amostras fecais foram inicialmente processadas para a obtenção de uma suspensão fecal a 20% em tampão salina fosfato (PBS) pH 7,4. Procedeu-se a extração do RNA viral, utilizando-se o agente quiomiotrópico (isotiocianato de guanidina) e sílica. A detecção dos CVs foi realizada por RT-PCR, utilizando-se pares de iniciadores específicos para uma região parcial do capsídeo dos norovírus (GISKF/GISKR para GI e GIISKF/GIISFR para GII) e dos sapovírus (SLV5317/5749). Os produtos de RT-PCR, com tamanho esperado de aproximadamente 340 pares de bases para NoVs e 440 pares de bases para os SaVs, foram submetidos à eletroforese em gel de agarose (1,5%) e visualizados em transluminador (UV) utilizando-se como padrão de tamanho molecular o marcador 100bp DNA ladder. A análise estatística dos dados foi realizada utilizando-se o programa EpInfo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Do total de 360 amostras fecais provenientes de 49 crianças, 52 foram positivas para CVs, considerando-se a detecção pelos três pares de iniciadores, perfazendo um índice global de positividade de 14,4%, semelhante a vários outros índices de positividade reportados por outros estudos realizados no Brasil e no mundo. Trinta amostras foram positivas para NoV do genogrupo II, 2 para NoV do genogrupo I, 19 para SaV e uma para norovírus dos genogrupos I e II simultaneamente. A maior prevalência dos NoVs do genogrupo II em relação aos outros genogrupos e aos SaVs já foi relatada na literatura. Em nosso estudo, crianças de todas as idades e de ambos os gêneros apresentaram índices de positividade estatisticamente semelhantes, corroborando dados encontrados na maioria dos estudos que revelam que estes agentes afetam igualmente indivíduos de todas as faixas etárias e de ambos os gêneros. O estudo envolveu crianças com ou sem sintomatologia, sendo que das 13 amostras diarréicas, cinco (38,5%) foram positivas para calicívirus. A positividade em amostras não-diarréicas corrobora dados mundiais sobre a circulação dos CVs também entre indivíduos assintomáticos.
CONCLUSÕES:
Os dados obtidos no trabalho demonstram a circulação dos calicivírus entre crianças sintomáticas e assintomáticas que frequentam uma creche em Goiânia, Goiás, com destaque para os norovírus do genogrupo II e os sapovírus. Amostras positivas foram encontradas em todo o período analisado, não sendo determinado um padrão de circulação sazonal. Esses agentes foram detectados em amostras provenientes de crianças de ambos os gêneros, apresentando ou não gastroenterite. Os resultados reforçam o papel de ambientes fechados e com aglomerados de pessoas, como o da creche, na disseminação desses agentes e sugerem um possível envolvimento de crianças assintomáticas na transmissão dos CVs a crianças susceptíveis. Os dados reforçam a importância do monitoramento de populações tanto sintomáticas quanto assintomáticas, a fim de fornecer dados científicos que possam contribuir para o desenvolvimento de medidas de controle e prevenção de surtos epidêmicos por esses agentes, principalmente em instituições em que indivíduos convivam em aglomeração ou em contato próximo.
Palavras-chave: Calicivírus, Crianças Frequentadoras de Creche, Norovírus.