65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 2. Botânica Aplicada
BIOMETRIA E COMPOSIÇÃO LIPÍDICA DE SEMENTES DE MALVACEAE OCORRENTES NO ESTADO DE PERNAMBUCO - BRASIL
Diogenes José Gusmão Coutinho - Departamento de Botânica - UFPE
Mariana Oliveira Barbosa - Departamento de Botânica - UFPE
Suzene Izídio da Silva - Departamento de Botânica - UFRPE
Antonio Fernando Morais de Oliveira - Prof. Dr./Orientador - Depto. de Botânica – UFPE
INTRODUÇÃO:
A bioprospecção de espécies vegetais com potencial oleaginoso encontra-se em ascensão uma vez que os lipídios de sementes possuem propriedades que resultam no seu aproveitamento como alimentos, fármacos, cosméticos e biocombustíves (Azam et al. 2005; Matthaus e Ozcan, 2011). Entretanto, apesar da importância e da crescente demanda por este recurso poucas são as espécies tradicionais utilizadas em larga escala. Uma dessas espécies é o algodão (Gossypium hirsutum L.), pertencente à família Malvaceae, considerada uma das mais utilizadas no Nordeste brasileiro como matéria-prima para biodiesel. Mundialmente, a família Malvaceae possui 250 gêneros e 4230 espécies (Simpson, 2006) e no Brasil é representada com 31 gêneros e 200 espécies (Barroso et al., 2002). Vários estudos sobre prospecção de oleaginosas indicam espécies de Malvaceae para finalidades industriais como Adansonia digitata L. (indústria farmacológica) (Caluwé et al. 2010); Hibiscus sabdariffa L. (biocombustíveis) (Nakpong e Wootthikanokkhan, 2010) e Abutilon indicum Sweet. (cosméticos). Entretanto, apesar da ampla ocorrência da família no Brasil e estudos demonstrarem seu potencial, ainda é escasso o conhecimento das espécies nativas brasileiras como possíveis fontes de óleos fixos.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Descrever biometricamente as sementes e determinar seu teor do óleo, composição dos ácidos graxos e carotenoides totais de quatro espécies de Malvaceae nativas ocorrentes no estado de Pernambuco, Nordeste do Brasil.
MÉTODOS:
Sementes das espécies Basiloxylon brasiliensis (Allemão) K. Schum., Ceiba pentandra (L.) Gaertn., Christiana africana DC. e Sterculia excelsa Mart. foram coletadas em Pernambuco, Brasil, entre janeiro de 2011 e outubro de 2012. Foram mensurados o comprimento, largura e o peso de 50 sementes com o auxílio de um paquímetro digital. As sementes foram desidratadas (48°C/48 h) e o óleo extraído a partir de 1,5 g de sementes com n -hexano em Soxhlet por 8 h (Ahmad et al. 1981). A porcentagem de óleo das sementes foi calculada por diferença de peso seco. Para a análise dos ácidos graxos, o óleo foi transesterificado com solução metanólica de hidróxido de potássio (0,5M) e solução metanólica de trifluoreto de boro (14%). Os ésteres metílicos obtidos foram analisados por cromatografia gasosa acoplada com espectrometria de massas (GC/MS) e sua identificação feita pelo tempo de retenção com padrões autênticos (Supelco) e por comparação com os espectros de massa da biblioteca Wiley229. Os carotenoides totais presentes no óleo foram estimados em espectrofotômetro e a quantificação dos valores foi baseada no padrão de &beta -caroteno, expressos em µ g/g de óleo (Gao et al. 2000). Todas as análises foram realizadas em triplicatas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
As maiores sementes foram de S. excelsa e B. brasiliensis com 57,2 e 47,9 mm de comprimento e, 33,8 e 10,0 mm de largura, respectivamente. Além disso, S. excelsa apresentou maior biomassa com 23,2 g (50 sementes). O teor de óleo das espécies elevado, variando de 31,6% em C. africana a 56,8% em B. brasiliensis. A concentração de carotenoides no óleo variou de 21,8 µ g/g em S. excelsa a 84,9 µ g/g em C. africana. Os ácidos graxos predominantes foram os ácidos palmítico, oleico e linoleico, e suas maiores concentrações ocorreram em B. brasiliensis (35,8%), C. africana (54,6%) e S. excelsa (40%), respectivamente. Em geral, a maior proporção desses ácidos é comum em Malvaceae (Azam et al. 2005; Silva et al. 2010), podendo ocorrer em menores proporções os ácidos ciclopropenoides, que são considerados tóxicos. Entretanto, neste estudo, os ácidos ciclopropenoides não foram detectados, merecendo estudos adicionais. Muitos desses óleos não são comestíveis, sendo mais indicados para a produção de fármacos (Caluwé et al. 2010), biocombustíveis (Azam et al. 2005) e cosméticos (Kashmiri et al. 2009). Assim, os resultados obtidos ampliam e confirmam o potencial econômico de Malvaceae.
CONCLUSÕES:
As espécies em estudo demonstraram elevado conteúdo de óleo em suas sementes (> 30%), demonstrando a predominância dos ácidos graxos de interesse econômico, como o palmítico, oleico e linoleico. Dentre as espécies investigadas, S. excelsa merece destaque por possuir maior biomassa e concentrar 39,6% de óleo, o que consequentemente geraria uma maior produção de óleo/hectare em caso de plantio. Além disso, o teor de carotenoides ocorrentes no óleo das espécies foi elevado, e o maior percentual foi encontrado em C. africana (84,9 µ g/g). Assim, os resultados sugerem que as espécies estudadas apresentam perfil econômico como potencial matéria-prima para a indústria de óleos fixos, uma vez que apresentaram elevado teor de óleo e composição química interessante.
Palavras-chave: Bioprospecção, Carotenoides, Ácidos graxos.