65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 6. Literatura
REPRESENTAÇÃO FICCIONAL DA HISTÓRIA DE MOÇAMBIQUE NO CONTO "O APOCALIPSE PRIVADO DO TIO GEGUÊ", DE MIA COUTO.
Michel Adão de Oliveira Fernandes - Aluno/Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Alimentos - IFRN
Evandro Gonçalves Leite - Mestre/Professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico - IFRN
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho faz uma abordagem do livro “Cada homem é uma raça”, do autor moçambicano Mia Couto, em especial do conto O Apocalipse privado do tio Geguê. Mais especificamente, tematiza a representação de elementos da história de Moçambique no universo ficcional do conto, no sentido de constituir uma literatura engajada. Esse período de tempo retratado no conto marcou um país que vivia uma instabilidade pós-independência bastante complicada, como foi estudado em Hernandez (2008). A obra de Mia Couto faz parte de uma fase na qual a nacionalidade literária, principalmente quanto à construção e identidades, é assumida por inteiro pelos escritos africanos, como analisamos em Bidinoto (2004).Nesse contexto, o trabalho procura abordar a associação entre o conto como instrumento de denúncia e o contexto histórico de Moçambique. Dessa forma, pretende contribuir diretamente para as análises da obra de Mia Couto e também para a compreensão da cultura e da história de um povo que exerceu influências importantes na formação de nossa identidade brasileira.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Nosso objetivo é analisar a realidade moçambicana representada no conto após o fim do período de colonização e durante a época de dificuldades administrativas do novo país que estava afundado em uma guerra civil.
MÉTODOS:
Para o desenvolvimento do trabalho, foi realizada uma pesquisa baseada na história e na literatura contemporânea de Moçambique (HERNANDEZ, 2008; BIDINOTO, 2004). De forma geral, o intuito foi conhecer aspectos da história de Moçambique desde o seu período colonial até a independência e suas consequências para o país, assim como estabelecer comparações entre esse contexto e o conto O Apocalipse privado do tio Geguê, a fim de mostrar como nele estão inseridos elementos da nacionalidade literária de Moçambique, em especial faltos históricos marcantes. Essas orientações foram importantes para uma leitura mais crítica da obra quanto à representação ficcional de aspectos históricos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
O conflito do conto inicia-se quando o tio Geguê traz para casa uma bota, dos tempos de luta a favor da independência, presenteia o sobrinho (narrador do conto), mas logo depois a joga fora. O tio então vira vigilante do local onde viviam, e tempos depois surge uma nova sobrinha chamada Zabelani. O tio proíbe que o sobrinho se aproxime dela e, ao descobrir a desobediência dele, leva a menina embora. O então sobrinho passa a realizar atividades ilícitas por ordens do tio vigilante, já que, obedecendo às ordens dele, estaria garantindo a segurança de Zabelani. Agora o menino, transforma-se, juntamente com o tio, em responsável pela desordem e pelo caos. Durante um mal-entendido,o tio revela onde está Zabelani, o menino vai a um encontro que não acontece. Ao descobrir que seu tio é responsável pelo novo sumiço dela, retorna a casa e atira em Geguê. Podemos ver no conto claramente o que acontecia com a Moçambique independente. Depois de tanto tempo colonizada, a população agora livre se viu desorganizada e isso gerou muitos problemas internos, como uma guerra civil e intensa criminalidade. Mia Couto recria no conto a realidade do país, estabelecendo situações de conflito vivenciadas por uma sociedade que ainda estava perdida após o fim da imposição europeia.
CONCLUSÕES:
O conto estudado já demonstra suas sua inter-relação com ahistória a partir do título, pela utilização da palavra “apocalipse”, que remete ao fim do mundo. Não era muito diferente do que acontecia com a Moçambique pós-independência, que após lutar contra o colonizador, lutava internamente numa guerra civil que destruía o país. O caos estava presente em todos os lugares, como bem representou a personagem Zabelani que vinha fugida do campo. A bota jogada fora também tem a sua representatividade, mostrando ser um objeto bastante importante nos tempos de conquista da independência, podendo até mesmo ser comparada à pátria amada. Mas seu valor histórico é ignorado e todo o sentido da bota é deixado de lado, rebaixando o seu valor. A luta armada, que foi a guerra civil de Moçambique, está retratada claramente no final do conto com o caos que estava espalhado. Porém, com a morte do tio, uma nova chama de esperança surge, pois, sem querer saber o destino da bala que mata o tio, o sobrinho representa toda a população que busca uma renovação para juntos construírem uma nova história para Moçambique.
Palavras-chave: Conto, Mia Couto, Moçambique.