65ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 3. Economia - 3. Economia dos Recursos Humanos
DESIGUALDADES ENTRE TRABALHADORES DA ECONOMIA DA INFORMAÇÃO: UMA ANÁLISE DA RELAÇÃO DE GÊNERO NO MERCADO DE TRABALHO DOS PROFISSIONAIS EM TIC
Eduardo Aparecido Mello de Lima - Faculdade de Tecnologia de Americana – FATEC AMERICANA - CEETEPS
Carlos Henrique Menezes Garcia - Prof. Dr. – Orientador – FATEC AMERICANA - CEETEPS
INTRODUÇÃO:
Com o maior grau de inserção do Brasil no processo de globalização a partir dos anos 1990, pôde-se evidenciar a intensificação do uso das tecnologias da informação e comunicação (TIC’s) no tecido produtivo. Com efeito, testemunhou-se nesse período a elevação dos níveis de produtividade das empresas a partir dos indicadores que medem o crescimento e a diversificação do emprego ligado às TICs, sobretudo no estado de São Paulo, onde se concentra a maior parte dessa força de trabalho.
As mudanças atualmente em curso, além de caminharem na direção do aumento da profissionalização das ocupações que envolvem o trabalho em TIC nas empresas, mostra que tais segmentos ocupacionais vêm assumindo maior importância nas empresas paulistas, visto que o peso do emprego em TIC no estado aumentou de forma pronunciada em relação ao emprego criado no mercado geral de trabalho.
Tal transformação certamente favoreceu o ritmo acelerado de geração de oportunidades de trabalho, tanto para os homens como para as mulheres. Contudo, apesar do crescimento acelerado do emprego em TIC, é no tocante às desigualdades de gênero que os resultados da pesquisa demonstraram que as condições de inserção desses profissionais diferem sobremaneira entre si, mesmo quando seus níveis de escolaridade apresentaram similares.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O artigo tem como objetivo analisar a relação de gênero no mercado de trabalho dos profissionais em TIC nos setores industrial e de serviços nos anos 2000. Com o fito de discutir as diferenças de gênero, examinou-se a dinâmica e estrutura do emprego de homens e mulheres em ocupações TIC a fim de explicar os aspectos determinantes da desigualdade de gênero e sua relação com as novas tecnologias.
MÉTODOS:
A partir do recorte empírico das ocupações existentes no universo dos profissionais ocupados em TIC inseridas nos setores industrial e de serviços no estado de São Paulo, procedeu-se a uma análise descritivo-quantitativa das informações estatísticas obtidas na base de dados oficiais do Ministério do Trabalho e Emprego. Para tanto, o esquema e a estratégia de análise dos segmentos ocupacionais do presente estudo toma como critério metodológico principal a influência das mudanças nas variáveis ligadas ao “emprego” sobre o comportamento da variável “sexo”.
A principal fonte dos dados utilizada foi a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho para o período de 2003-2011, a qual permitiu traçar um quadro amplo da evolução da inserção no mercado de trabalho formal de homens e mulheres empregados ocupados em TIC. A amostra analisada é formada pelas famílias ocupacionais tipificadas segundo a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO 2002), notadamente os grupos ocupacionais em TIC: diretores de departamentos de serviços de informática, criadores e analistas de sistemas, técnicos em controle de equipamentos de informática, operadores de equipamentos de radio fusão, televisão e telecomunicações.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A presença feminina nesse mercado de trabalho, apesar de ter seguido a tendência global de ampliação do emprego em TIC, não sofreu mudanças vultosas nesse sentido, posto que sua participação relativa no conjunto do emprego na área é pouco representativa. Na economia paulista, a comparação do número de empregos em TIC entre os sexos mostra que a participação feminina é bastante inferior à masculina, numa proporção que mal chega ao patamar de 20% do conjunto do emprego, muito embora essa taxa de participação tenha sido a resultante do ritmo de aumento mais acelerado do emprego feminino.
Ao se observar com mais rigor a questão, fica evidente que essa modesta mudança da condição de participação no mercado de trabalho feminino no conjunto do emprego não revela a forte dinâmica que as oportunidades de emprego em TIC reservaram às mulheres na última década. Não por acaso as taxas anuais de emprego são maiores entre as mulheres. Assim, a expansão do emprego feminino contraria as suposições teóricas de que existe uma apatia absoluta das mulheres pelas ocupações relacionadas ao mundo do trabalho ligado à ciência, tecnologia e informação, uma vez que existe uma tendência clara de maior procura por formação nessa área profissional entre as mulheres, embora numa escala relativamente pequena.
CONCLUSÕES:
Pode-se depreender dois movimentos a partir dos resultados encontrados na pesquisa. Por um lado, o mercado de trabalho em TIC revela a maior escassez de oferta de profissionais nessa área. De outro, reitera a suposição de que provavelmente tais ocupações passam a ter maiores requerimentos de qualificação profissional, que valorizam capacidades de trabalho para além do saber técnico tradicional adstrito às profissões desse campo profissional.
Verificamos que as desigualdades de gênero é um fator que está presente no mercado de trabalho em geral e também no setor das TICs. Porém, percebeu-se que nas ocupações em TIC esta desigualdade está se reduzindo devido a maior penetração de mulheres nessas ocupações, pois existe uma maior procura por mão-de-obra feminina frente aos congêneres, principalmente à medida que aumentam os níveis de escolaridade.
As desigualdades de gênero só não se tornam menores por motivo de ordem sociocultural, uma vez que as mulheres acabam não buscando ocupações tradicionalmente masculinizadas (ancoradas na área das ciências exatas). A problemática da formação profissional no campo das ciências exatas ainda é um paradoxo, pois constatamos que existe um forte desajustamento entre oferta e procura de profissionais do gênero feminino no mercado de trabalho em TIC.
Palavras-chave: Emprego, Ocupações, Mulheres.