65ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 2. Economia e Sociologia Agrícola
Agricultura Familiar nas Comunidades Remanescentes de Quilombo do Território de Vitória da Conquista
Francis Almeida Silva - Discente do curso de Engenharia Agronômica - UESB; Bolsista FAPESB.
Débora Lima de Oliveira - Discente do curso de Engenharia Agronômica - UESB; Bolsista UESB.
Janderson de Jesus Lacerda - Discente do curso de Engenharia Agronômica - UESB; IC voluntário
Ivana Paula Ferraz Santos de Brito - Engenheira Agrônoma, Mestre em Agronomia - UESB.
Valdemiro Conceição Junior - Prof., Dr./Orientador – Depto. de Fitotecnia e Zootecnia - UESB.
INTRODUÇÃO:
Consagrados pela história como locais isolados e de difícil acesso que serviam de refúgio para negros em busca da liberdade e de organização social, cultural, econômica, e de trabalho dentro da comunidade (SECOM, 2010), os quilombos se desenvolveram, de acordo com Andrade (2007), em todas as regiões do Brasil, ocupando diferentes ecossistemas e explorando os recursos naturais de seus territórios de formas diversas.
Costa (2011), indica que comunidades quilombolas têm como uma de suas características a organização de pequenos agricultores rurais negros, em grupos que participam de programas como o de agricultura familiar. Essa agricultura é entendida de diversas maneiras, mas essencialmente como sendo o cultivo da terra realizado por mão de obra do núcleo familiar, e segundo Denardi (2001), o estabelecimento familiar é, ao mesmo tempo, uma unidade de produção e de consumo.
Dados da Secom (2010), indicam que na Bahia existem 808 comunidades, das quais 206 já foram certificadas pela Fundação Cultural Palmares, instituição vinculada ao Ministério da Cultura, responsável pela identificação e certificação dessas comunidades. De acordo com EPE (2007), o território tem mais de 60 comunidades identificadas, sendo que, no município de Vitória da Conquista existem 40 já reconhecidas.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Diagnosticar a agricultura desenvolvida nas comunidades remanescentes de quilombo do Território de Vitória de Conquista - Bahia, buscando caracterizá-las com base nos aspectos sociais, culturais, econômicos e ambientais.
MÉTODOS:
As comunidades quilombolas amostradas são representativas do meio rural do território de Vitória da Conquista, a saber: Antero, Boqueirão, Corta Lote, Lagoa de Melquíades, Lamarão, São Joaquim, Velame, São Joaquim, Bate-Pé, Furadinho, Campo Formoso, Lagoa de Mª Clemência, Esconço/Guarabiras, Lajinha, Bomba, Água Doce, Cinzento, Baixa Seca.
Para caracterizar a realidade dessas comunidades foram utilizados como base aspectos da metodologia sistematizada por Garcia Filho (1999), método direcionado ao estudo de sistemas agrários, cuja utilização permite uma melhor compreensão da dinâmica das unidades familiares, segundo INCRA/FAO (2000).
A primeira etapa do trabalho foi composta de visitas de campo a 18 comunidades quilombolas, sendo aplicados questionários previamente estruturados e observada de forma sistemática a realidade local, técnica denominada de leitura de paisagem. Segundo Garcia Filho (1999), são as paisagens agrárias que oferecem as primeiras informações para o diagnóstico. O autor considera que a identificação de suas estruturas auxilia na identificação de ações que causam problemas, com fundamento no fato de que conhecer uma paisagem é reconhecer seus elementos sociais, culturais e naturais e a interação existente entre eles.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Segundo Gaspar (2011) a formação dessas comunidades se deu por recebimento de terras como pagamento de serviços prestados ao Estado, ou pela permanência em terras antes ocupadas e cultivadas em grandes propriedades. O estudo evidencia que 95% dos quilombolas entrevistados são os proprietários da terra em questão, sendo que desses, 69,4% afirmaram tê-la adquirido por meio de herança, 29,2 % por compra e 1,4% por meio de ocupação.
A mão de obra utilizada é predominantemente familiar, e possuem em sua maioria de 4 a 8 membros, sendo a contratação de trabalhadores externos apenas em algumas ocasiões, como na colheita. Dessas famílias, 33% cultivam menos que 30% da área disponível.
O feijão, o milho e a mandioca são as culturas mais exploradas, com 75%, 69% e 55% respectivamente, e são principalmente destinadas ao auto consumo, já que sofrem mais perdas na produtividade com as variações climáticas. Geralmente, sobram poucos produtos para serem comercializados, e, quando isso acontece, as famílias ainda enfrentam dificuldades para levá-los aos centros de comércio segundo INCRA (2009), ocorrendo a comercialização com atravessadores da região.
Dos entrevistados, 73% afirmaram fazer plantio em forma de consórcio, como maneira de proteger o solo e melhor aproveitar a área plantada.
CONCLUSÕES:
De acordo com os dados obtidos, a produção de alimentos nas comunidades é essencialmente para o auto consumo, sendo a comercialização realizada apenas em ocasiões de alta produção, que geram excedentes.
A atividade agrícola nas pequenas propriedades é muito vulnerável às condições climáticas da região, dificultada ainda mais pela falta de conhecimentos e organização que induzam a sistemas mais sustentáveis de produção.
Palavras-chave: Autoconsumo, Meio rural, Quilombolas.