65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 8. Teatro e Opera
ESCRITAS (AUTO)BIOGRÁFICAS DE ARTISTAS PORTUGUESES: ADELINA ABRANCHES
Weverton Andrade Silva - Graduação em Teatro / UFSJ
Alberto Ferreira da Rocha Junior - Orientador / Departamento de Letras, Artes e Cultura, UFSJ
INTRODUÇÃO:
O projeto de pesquisa de iniciação cientifica teve como objetivo estudar a subjetividade da autobiografia, partindo do estudo das “Memórias” de Adelina Abranches, uma atriz portuguesa que veio ao Brasil várias vezes. A pesquisa iniciou com a análise do capítulo “O Espaço Biográfico: mapa do território” de Leonor Arfuch que reflete sobre a narração da vida, encontrada em autobiografias e biografias. O texto também apresenta perguntas como de quem fala, como fala e quem fala até a questão filosófica de até onde é verdade. Questionar os motivos de se escrever um diário e a subjetividade que pode ser encontrada no mesmo, leva-nos a uma busca, pelos fatos da vida íntima do relatado numa biografia ou (auto)biografia, também pelo cenário da vida do mesmo, os fatores históricos, o que a sociedade da época vivia, fazendo uma comparação com o que os livros de história narram. Arfuch ainda interroga o intercâmbio entre uma vida pública e a privada, e nesse ponto indaga-se se o que foi narrado, não foi uma visão policiada do que realmente aconteceu.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Redigir ensaios biográficos sobre artistas portugueses, nos quais, além de colecionar dados sobre a vida e obra dos artistas, seja possível refletir teórica e praticamente sobre a narrativa biográfica e sobre as relações entre teatro brasileiro e teatro português entre aproximadamente 1850 e 1950.
MÉTODOS:
Partindo da leitura e da produção de resenhas críticas, foram feitas análises de várias obras, com o intuito de compreender a importância da subjetividade da biografia. Nosso estudo buscou ir além do protagonista da biografia e/ou autobiografia, vendo o contexto histórico nas entrelinhas da narração de uma vida. As principais obras lidas e resenhadas foram: “Pequena história de teatro, circo, música e variedades em São João del-Rei (1717-1967)” de Antônio Guerra; o capítulo de Benito Schmidt intitulado “Luz e papel, realidade e imaginação: as biografias na história, no jornalismo, na literatura e no cinema”; o capítulo VI de “História do teatro português” de Duarte Ivo Cruz e o capítulo “A ilusão autobiográfica” do livro “Corpos escritos” de Wander Melo Miranda. Foi realizada também uma pesquisa bibliográfica sobre Adelina Abranches nos livros de Sousa Bastos. São esses: “Carteira do Artista”; “Dicionário do teatro português” e “Recordações de Teatro”. Por fim, analisamos a (auto)biografia “Memórias de Adelina Abranches”, com intuito de confeccionar uma tabela de destaques.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Almeida Garrett foi o responsável por idealizar a construção do teatro português, influenciando gerações a frente. Adelina Abranches é um desses frutos da influência de Garrett, tanto pelo uso dos edifícios teatrais como pelo estudar num conservatório que passou a não ser apenas de música, mas a englobar o ensino de arte dramática. Adelina teve um importante papel de idas e vindas ao Brasil, trouxe para esse país muito do fluxo cultural português e europeu e não se limitou somente à cidade do Rio de Janeiro, mas também a outras cidades pelo interior do Brasil. Uma das principais peças que a trouxe ao Brasil e marcou sua vida foi o espetáculo “A Dama das Camélias” que não é de um texto português, e sim de um francês: Alexandre Dumas Filho. Com isso contribuiu para o desenvolvimento de um fluxo de cultura. Como se pode ver o estudo dos textos resultou numa compreensão da importância de Adelina Abranches e do teatro português como influenciadores do teatro brasileiro e também da importância de trazer obras inéditas e de até mesmo circular pelos estados brasileiros com vários espetáculos.
CONCLUSÕES:
A biografia e a autobiografia na amplitude de seus estudos modificaram-se com o passar do tempo, assim como a forma de se olhar para as mesmas. Surgiram questionamentos do significado de sua verossimilhança. Isso pode se ver nos textos ditados por Adelina Abranches a sua filha Aurea Abranches, que escreveu a autobiografia, surgindo assim a indagação sobre o eu que se escreve, e o policiamento do que não deveria estar num livro, que narra a vida de uma pessoa pública e cheia de idas e vindas entre os dois países. Portugal, mesmo depois da independência do Brasil, não deixou de influenciar culturalmente nosso país. Uma das provas disso é a importação de espetáculos portugueses. Resquícios dessa cultura podem ser vistos mais fortemente nos espetáculos do século XIX e da primeira metade do século XX. Como nos espetáculos de Teatro de Revista, gênero de teatro bem comum em Lisboa e outros locais. Ainda pode se dizer que essa influência aconteceu fortemente nos atores brasileiros, que durante muito tempo possuíam sotaque semelhante ao dos portugueses.
Palavras-chave: Adelina Abranches, Teatro Português, Memórias de Artistas.