65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
A pesquisa no Brasil sobre o movimento ciência, tecnologia e sociedade: mapeamento e análise
Juliana Palu - Universidade Metodista de Piracicaba
Maria Guiomar Carneiro Tommasielo - Profª Drª/Orientadora - FACEN - UNIMEP
INTRODUÇÃO:
O movimento CTS se inicia nas décadas de 1960/70 tanto nos Estados Unidos como na Europa, como uma resposta de parte da comunidade acadêmica insatisfeita com os problemas ambientais, econômicos, sociais, políticos causados pelo uso indiscriminado da ciência e da tecnologia. Em razão do agravamento desses problemas, esse movimento vem adquirindo muita importância no meio acadêmico e tem como preocupação principal o desenvolvimento da capacidade de tomada de decisões por meio de uma abordagem que inter-relacione ciência, tecnologia e sociedade. Pode-se dizer que é um movimento educativo que promove a alfabetização científica e tecnológica dos cidadãos de forma a permitir que participem do processo democrático de tomada de decisão e na resolução de problemas relacionados com a ciência e tecnologia. Espera-se que as pessoas tenham uma visão menos neutra da Ciência e da Tecnologia. No Brasil, a partir da década de 1980, esse movimento adquiriu tal importância que hoje há inúmeros cursos, currículos com esse enfoque, livros, revistas científicas, dissertações e teses que tratam de assuntos relacionados. Mas do que tratam as pesquisas e as produções? Quais aspectos e dimensões vêm sendo destacados e privilegiados? Quais as lacunas? Esse trabalho tem essa dimensão e interesse.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Realizar um mapeamento e fazer uma análise crítica das publicações em periódicos brasileiros sobre o Movimento Ciência-Tecnologia, Sociedade (CTS) a fim de sistematizar a produção acadêmica sobre essa temática e analisá-la sob alguns aspectos gerais e outros mais específicos. Os períodos de análise das publicações variam com o tempo de existência dos periódicos.
MÉTODOS:
O trabalho é resultado de uma pesquisa de natureza bibliográfica/documental, que se baseia na análise de artigos científicos de 8 conceituadas revistas que abrigam a temática. Pode ser enquadrada na categoria de revisão sistemática cujo objetivo é elaborar a síntese de pesquisas para que se alcance uma análise mais aprofundada do conhecimento produzido sobre um determinado tema. Foi elaborada e preenchida uma ficha de leitura e para cada artigo, como a que se segue: Ficha de leitura 1- Referência do trabalho (título, revista/evento, ano, páginas); 2- Dados sobre os autores (formação, universidade onde foi desenvolvido o trabalho, curso); 3- Palavras-chave; 4- Tema geral da pesquisa; 5- Tipo de abordagem: [(i) concepções de alunos e/ou professores sobre CTS, (ii) atividades didáticas, (iii) currículo em ciências, (iv) revisão bibliográfica, (v) análise de livros didáticos, (iv) análise de artigos em periódicos/trabalhos em eventos)]; 6- Objetivos (social, didática, epistemológica); 7- Natureza do trabalho (relato, ensaio, pesquisa); 8- Metodologia/estratégias; 9- População investigada; 10- Priorização na tríade CTS (Cts, cTs, ctS); 11- Preocupações educacionais (Formação de professores; Propostas e Implementações e Reforma curricular); 12- Principais discussões e resultados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Ao todo foram analisados 45 artigos sobre CTS das seguintes revistas: Ciência & Educação (17), Ciência e Ensino (10), Alexandria (07), Ensaio (04), Inv. de Ensino de Ciências (03), Revista Brasileira de CTS (03), Química Nova (1), Química Nova na Escola (1). Quanto ao tipo de abordagem: 32% são trabalhos de revisão bibliográfica/textos teóricos; 17% trazem concepções de professores sobre CTS; 17% questões sobre o currículo; 27% com sugestões de atividades CTS, em geral para o ensino médio; 5% envolvem análise de livros e 2% análise de artigos. Há poucos trabalhos com alunos do ensino superior. Ainda com respeito à tríade, a maioria está relacionada à Sociedade (aprox. 42%), enfatizando questões sociais. A seguir vem a ênfase em Ciências (com 38%) e por último a ênfase em Tecnologia (20%). Confirma-se uma concepção dominante de que Tecnologia é Ciência Aplicada, vista tradicionalmente como uma atividade de menor status que a ciência “pura”. Quanto às universidades de origem dos autores, verificamos uma grande dispersão, podendo indicar que CTS é mais um tema de interesse do aluno do que uma linha de pesquisa do orientador. As universidades com maior número de trabalhos são instituições com longa história no estudo das relações CTS- UFSC e UNB- e outras como UFSCar,USP e UFPR.
CONCLUSÕES:
Não há uma grande quantidade de trabalhos sobre o movimento CTS nos periódicos nacionais, fato que reflete a baixa atenção dos pesquisadores para a temática (apesar do crescimento nos últimos anos). Em relação à tríade CTS, há uma priorização na ênfase Sociedade. Poucos trabalhos dão ênfase à Ciência, que aprofundariam questões ligadas à natureza e à história da ciência e também há pouca atenção à ênfase Tecnologia, que consideraria que a dimensão tecnológica representa o elo entre o conhecimento científico e as questões sociais. A maioria dos trabalhos envolve o ensino médio. Há poucos trabalhos sobre CTS na Universidade o que a nosso ver dificulta ainda mais qualquer mudança de postura, pois o professor está deixando a universidade, possivelmente desconhecendo o movimento CTS. Como impulsionar a pesquisa, as publicações sobre o movimento CTS e a sua implementação no ensino? Concordamos com a autora portuguesa Isabel P. Martins (2002), quando, ao analisar a situação do movimento CTS em Portugal, considera que seria necessária outra organização curricular e a formação adequada de professores, pois, segundo a autora, o ensino das Ciências com orientação CTS no ensino superior possivelmente seria o que mais impulsionaria a educação nos níveis fundamental e médio.
Palavras-chave: Ensino de Ciências, Mapeamento e análise, Movimento CTS.