65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 12. Neurociências e Comportamento - 1. Neurociências e Comportamento
INFLUÊNCIA DO GÊNERO NA PONTUAÇÃO DO ATTITUDES TO CHOCOLATE QUESTIONNAIRE
Luana Riris Maciel de Lima - Graduanda do curso de Nutrição - Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi - UFRN
Layla Rafaela Dantas Silva - Graduanda do curso de Nutrição - Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi - UFRN
Endilly Maria da Silva Dantas - Graduanda do curso de Nutrição - Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi - UFRN
Mayana Laysla Costa Araújo - Graduanda do curso de Nutrição - Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi - UFRN
Maria Emilia Yamamoto - Prof. Dr/ Departamento de Fisiologia - Centro de Biociências - UFRN
Anna Cecília Queiroz de Medeiros - Prof. Ms/Orientadora- Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi - UFRN
INTRODUÇÃO:
O “comer emocional”, definido como o hábito de ingerir alimentos como maneira de lidar com o estresse, vem ganhando destaque nas pesquisas sobre a ingestão alimentar humana. Geralmente os alimentos relacionados a este tipo de comportamento são bastante palatáveis e energeticamente densos, sendo um dos mais prevalentes o chocolate (MACHT e MUELLER, 2007). O consumo de chocolate, por um lado, é associado com prazer, relaxamento e propriedades antidepressivas. Por outro lado, é associado com um estilo de vida pouco saudável, menor auto-controle, obesidade e culpa. Ou seja, o consumo de chocolate tem potencial para desencadear fortes sentimentos de ambivalência (CARTWRIGHT, 2007). Esta constante alternância entre o craving (vontade muito forte de comer um alimento em particular) por chocolate, as tentativas de resistir ao seu consumo, e a culpa decorrente da incapacidade para manter esta restrição, é fortemente associada com aumento do risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares, principalmente por mulheres (MERCER, 1997). Assim, vem sendo desenvolvidos instrumentos, como o Attitudes to chocolate questionnaire (ACQ), na tentativa de compreender melhor este fenômeno, como ele se apresenta nas diferentes populações e suas possíveis implicações no comportamento alimentar.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O presente trabalho teve como objetivo verificar a influência do gênero, masculino ou feminino, na pontuação de universitários no “Attitudes to chocolate questionnaire (ACQ) ”.
MÉTODOS:
Após a divulgação do estudo entre universitários da UFRN, do campus de Currais Novos, foram selecionados 119 voluntários, 44 do sexo masculino e 75 do sexo feminino, que atenderam aos critérios de inclusão, a saber: ter mais de 18 anos de idade; e não possuir diagnóstico de: distúrbios do metabolismo da glicose, transtorno alimentar ou não consumir chocolate. A seguir, os estudantes foram convidados a responder o Questionário de Atitudes em Relação ao Chocolate-ACQ (BENTON,1997). Esta ferramenta se propõe a mensurar o desejo por chocolate, bem como sentimentos negativos e de culpa relacionados ao consumo deste alimento. O questionário é composto por 24 itens, divididos em três subescalas: Craving, Culpa e Funcionalidade. Para cada item é apresentada uma escala de 100mm, na qual em uma extremidade está a afirmação “não parece nada comigo” e na outra afirmação “parece muito comigo”. Os participantes deveriam ler a afirmativa e marcar sua opinião na escala. Finalmente, as respostas foram mensuradas com auxílio de régua milimétrica e a análise estatística foi realizada utilizando o programa SPSS 17.0, sendo feita a estatística descritiva e, para a comparação das medidas entre os sexos, utilizado o teste de Mann-Whitney, adotando-se nível de significância de p<0,05.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Analisando os dados do ACQ, quanto à dimensão funcionalidade, não foram encontradas diferenças significativas (p= 0,236) entre os gêneros, sendo que a média da pontuação do sexo feminino foi 2,11 (DP=1,82) e a do sexo masculino foi 1,71 (DP=1,56). O resultado da dimensão craving apresentou diferença significativa entre os sexos (p=0,023), sendo as mulheres obtiveram maior pontuação (2,83, DP=1,42) do que os homens (2,15, DP=1,27). Na avaliação da dimensão culpa, também foi encontrada uma maior pontuação do sexo feminino (2,46, DP=1,57) em relação ao masculino (1,68, DP=1,26), sendo esta diferença estatisticamente significativa (p=0,003). Uma maior pontuação das mulheres, em relação aos homens, nas dimensões de culpa e craving, também foi encontrada em outro estudo realizado na Alemanha com o ACQ. Escores mais elevados nestas duas dimensões estão relacionados à maior incidência de episódios de comer emocional, o que pode ser um comportamento de risco para a obesidade (pelo aumento do consumo de chocolate) e para o surgimento de episódios de comer compulsivo, mais prevalentes entre mulheres(MULLER, 2008). Nesse sentido, cerca de 82% dos indivíduos com bulimia nervosa atribuem como gatilho para os episódios compulsivos o craving por doces (GENDAL, 1997).
CONCLUSÕES:
Com este trabalho percebemos que houve diferença na pontuação do Questionário de Atitudes em Relação ao Chocolate-ACQ em relação ao gênero. As mulheres apresentaram maior pontuação nas dimensões de culpa e craving do instrumento, que estão relacionadas ao comer emocional. Diante disto, sugere-se a realização mais pesquisas envolvendo o craving por chocolate, principalmente em mulheres, público mais vulnerável à ocorrência de transtornos alimentares. A condução de estudos sobre nesta temática poderia contribuir para a melhor interpretação de instrumentos como o ACQ, de modo a conferir uma aplicabilidade clínica ao mesmo, como ferramenta de rastreio para alterações do comportamento alimentar.
Palavras-chave: Culpa, Transtorno alimentar, Craving.