65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 5. Teoria Literária
A cotação de histórias - Um processo intergeracional
Marilda Aparecida de Oliveira Effting - Núcleo de Estudos da Terceira Idade - NETI/UFSC
INTRODUÇÃO:
São muitas as ações do Núcleo de Estudos da Terceira Idade – NETI -, desde a sua idealização, dentro da Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC -, no ano de 1982. Os projetos, criados e destinados ao público idoso, tratam de esclarecer os participantes da importância do papel de cada um no seio da sociedade, e que o processo de formação é contínuo, portanto sem dada de validade para encerrar o aprendizado e tudo o que o ser humano pode somar, desenvolver e praticar no percurso da sua existência. Dentre os inúmeros projetos, no decorrer dessas três décadas de atividades ininterruptas, há o Curso de Contadores de Histórias, ponto de interesse desta apresentação, que teve a sua primeira turma em 1997 e que vem se consolidando a cada ano, com vigor e responsabilidade, em práticas de extensão. A contação de histórias é praticada pelos alunos, durante as aulas, no período de formação compreendido em dois semestres letivos, com carga horária de 60horas distribuídas em duas horas semanais. Depois de concluído o Curso os ex-alunos passam a integrar grupos de Contadores de Histórias, dentro e fora da Instituição.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Partilhar ações intergeracionais implica, em certa medida, obrigatoriedade por parte dos órgãos que as implementam. A divulgação/demonstração dos trabalhos do NETI, em especial as práticas dos Contadores de Histórias, é o foco do presente estudo. Os alunos e ex-alunos do Curso mobilizam e interagem com públicos de todas as idades com performances narrativas oriundas da tradição oral e/ou autoral.
MÉTODOS:
Para demonstrar a expressividade da importância das ações do Curso Contadores de Histórias, do NETI, recorremos aos arquivos do Núcleo, nos quais encontramos os registros anuais referentes à formação e à conclusão de cada turma. Os números apontaram para uma crescente procura de participantes, alunos idosos, interessados em compor as turmas que ofertam 20 vagas anualmente. Normalmente há uma lista de espera, que possibilita a chamada, caso aconteça desistência dos matriculados, isso é possível se a desistência acontecer até o segundo encontro formativo. De acordo com o histórico encontrado, nesses 15 anos (1997 a 2012) o curso já certificou 293 contadores. Os abandonos ocorridos, fora do prazo de substituição, na maioria das vezes, são motivados por situações alheias à vontade do aluno, como problemas de saúde. As bibliografias consultadas sustentaram o que buscávamos, quanto à ordem de significação e importância para a consolidação, na contemporaneidade, de narradores idosos proativos, como arautos de histórias literárias.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Por iniciativa de alguns ex-alunos do curso Contadores de Histórias do NETI, interessados em continuar vinculados ao Núcleo e praticarem o que exercitaram durante o curso, nasceu o grupo A Hora da História. Este grupo é responsável em agendar e organizar as saídas a campo dos contadores de histórias que representam o NETI e, por extensão, a UFSC. A motivação desses artistas das palavras está na receptividade calorosa do público ouvinte quanto aos esforços demandados, de parte de cada contador, no seu melhor fazer em prol à narração. Convém salientar que os rumos dos ex-participantes do Curso são os mais distintos. Nem todos permanecem ligados à Instituição após a finalização das atividades formativas. A efetividade do idoso nessa circularidade de ações intergeracionais o coloca em contato com as transformações sociais, independente do quanto esse a tenha percebido.
CONCLUSÕES:
As ações dos Contadores de Histórias, durante 15 anos, incorporadas às demais ações educativas sociais empreendidas pelo NETI, nesses 30 anos comemorados em 2012, sinalizam positivamente que a contação de histórias tem público e que o idoso, imbuído de vontade, faz parte do reassentamento dessa arte milenar. Os esforços em realimentar-se com “novas” histórias, para adequar e renovar o repertório, mantém o contador em contato com textos literários em formatos diferentes, pois, além dos tradicionais nascidos na oralidade e mantidos através dos tempos há os textos autorais escritos e fornecidos, em grande escala, pelo mercado livreiro. As tecnologias de informação e comunicação são aliadas importantes no processo de atualização e sistematização às performances narrativas e funcionam como ponte entre gerações, assim, como possibilitam diálogos e inserem esses idosos nos universos plurais insurgidos na velocidade dos tempos. Os contadores de histórias procuram atender as exigências impelidas pelas movimentações da sociedade, considerando o fato deles atuarem em espaços Institucionais e interinstitucionais. As histórias fazem parte das vidas dos contadores e os contadores, alunos e ex-alunos do NETI, fazem história contando histórias.
Palavras-chave: Oralidade, Leitura, Literatura.