65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
INCENTIVO À INICIAÇÃO CIENTÍFICA JÚNIOR: LEITURAS E OBSERVAÇÕES
Willian Terântula Girarde - Coordenador do Programa Syans de Iniciação Científica Júnior - Colégio Carbonell
INTRODUÇÃO:
No Brasil, programas de iniciação científica júnior são incipientes. E embora tenham sido identificadas algumas ao longo deste estudo — boa parte, inclusive, na esfera privada —, ainda há poucas iniciativas de fomento à postura científica no ensino médio por aqui. A bibliografia que diz respeito aos benefícios e desafios de se iniciar ainda jovem também é escassa, de modo que este trabalho já assim se justificaria. Pois bastaria um repositório com uma série de textos sobre iniciação científica júnior, especialmente que expusesse benefícios e desafios enfrentados por jovens pesquisadores ao longo do processo, para que o primeiro passo nesse sentido, diz-se o dos incentivos, fosse dado. Sendo assim, o presente estudo foi consolidado com o intuito de construir tal repositório e ainda estudar etnograficamente jovens que ingressam na iniciação científica júnior. No estudo, alguns objetivos intermediários também foram alcançados, dentre os quais a identificação do nível de aceitação do programa por parte de jovens e orientadores, a elementaridade do ponto de vista dos mantenedores — principalmente acerca de questões comerciais que envolvem a implementação do programa —, bem como as reações dos jovens aos primeiros estímulos, tanto no ambiente de orientação quanto em atividades lúdicas.
OBJETIVO DO TRABALHO:
De forma concisa, então, os objetivos do presente estudo, realizado com o intuito de captar as vantagens e os desafios de se iniciar cientificamente já no ensino médio, resumem-se à construção de um repositório virtual com arquivos sobre iniciação científica júnior, com destaque para textos em língua portuguesa, bem como a observação de cinco jovens pesquisadores ingressantes num programa do tipo.
MÉTODOS:
O repositório supracitado — dado aqui como composição da bibliografia — foi o bastante para uma aproximação aos trabalhos sobre o tema. Tal estudo gerou a primeira compilação de resultados. Ainda assim, a boa resposta ao cerne da investigação sugeria que um trabalho de campo fosse feito, com apontamentos de jovens pesquisadores sobre a própria experiência. Então, em parceria com um colégio privado de Guarulhos, na Grande São Paulo, um programa de iniciação à ciência foi implementado exclusivamente para alunos do ensino médio, de quaisquer séries. Dezenas de jovens foram estimulados a participar e o processo seletivo foi laborioso. Ao fim, cinco foram selecionados e o programa se iniciou. De supetão, jovens pesquisadores expuseram oralmente as vantagens e desafios de se iniciar cientificamente, já baseados nos textos da bibliografia; além, vivenciaram experiências lúdicas. Houve em todos os momentos, por parte do autor deste estudo, observação participante; não somente dos resultados de apresentações e atividades, mas também do comportamento e discurso informais dos envolvidos. Para alcançar os resultados finais, o método qualitativo utilizado pelo autor, portanto, foi dividido em duas partes: na primeira, caracterizou-se por ser basicamente bibliográfico; na segunda, etnográfico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Dentre leituras e observações, os resultados foram positivos e disseram em favor do programa; houve certa correlação entre os achados em ambas as partes do método. A construção do repositório digital trouxe à tona fatores que classificam a iniciação científica júnior como catalisadora de um complexo processo de amadurecimento pessoal, acadêmico e profissional pelo qual o jovem aluno passa, com destaque para o trabalho de Fava-de-Moraes, da USP: no todo, foram listadas vantagens como a conquista do apreço pela leitura, a fuga da rotina curricular, a maior exposição às apresentações em público, a autonomia quanto ao tema escolhido — geralmente posto em teste para um melhor entendimento da própria orientação vocacional —, a organização de uma agenda de estudos, a realização de novos contatos profissionais, dentre outras vantagens. As observações, por sua vez, trouxeram apontamentos mais orgânicos, como, por exemplo, o fato de que as atividades lúdicas são muito importantes no programa e estão diretamente relacionadas a um melhor entendimento de aspectos fundamentais da ciência, bem como ao apego do iniciando em relação ao novo desafio. Surpreendentemente, destacou-se também a rápida percepção, por parte de todos os envolvidos, da importância de se formar cientificamente ainda jovem.
CONCLUSÕES:
Embora não seja possível responder pela totalidade de alunos do ensino médio no Brasil, sugere-se que a implementação de programas de iniciação científica júnior aconteça com maior frequência por aqui, pois, em geral, é bem aceita pelos jovens, que rapidamente se envolvem com as atividades propostas e não as evadem. Ademais, ficou evidente que os benefícios acima expostos sobrepuseram, de fato, os riscos, desvantagens e desafios a serem enfrentados, tanto sob a ótica dos orientandos quanto sob a dos orientadores. Além, evidenciou-se ainda que a evolução de programas de iniciação científica no Brasil depende diretamente do desprendimento, por parte dos mantenedores da iniciativa privada, de seus interesses comerciais imediatos; afinal, não é de se esperar que retornos financeiros decorrentes da implementação de programas do tipo aconteçam em tão curto prazo. Muito pelo contrário: é provável que o retorno-fim seja muito mais em prol da formação do jovem pesquisador do que necessariamente do enriquecimento e da rentabilidade das instituições. É uma questão, portanto, cultural. Pois, pela construção de uma sociedade mais criativa, a chama do conhecimento no Brasil do futuro há de se acender também na plena educação dos jovens que se iniciam cientificamente. Daí o porquê do incentivo.
Palavras-chave: Ciência, Postura científica, Ensino médio.