65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
Capibaribe pra quem?
Priscila de Souza Lima - Depto. de Ciências Geográficas - UFPE
INTRODUÇÃO:
É eminente ao homem a busca pelo novo, característica que foi catalisada pelo capitalismo, que necessita de alterar-se constantemente para permanecer “vivo”, porém a mudança sem planejamento causa problemas.
Um dos grandes problemas nas metrópoles brasileiras é a mobilidade urbana, que é, segundo o Ministério das Cidades (2004), a “condição em que se realizam os deslocamentos de pessoas e cargas no espaço urbano”.
Na tentativa de amenizar o caos urbano, na cidade de Recife os rios voltam a ser importantes e o projeto que em encabeça essa alternativa é o “Rios da Gente”, que tem por objetivo:
“implantar um sistema integrado de passageiros, que utilize embarcações adequadas para o transporte em massa (...) se realize o transbordo e a integração com o sistema de transporte metropolitano já existente”. (RIMA, 2011, p 1),
Entretanto, a instalação do projeto, que tem viés social, determina a desocupação de comunidades que vivem à beira do rio. A comunidade estudada foi a dos Coelhos, onde do Capibaribe (rio em questão) provem boa parte da fonte de sobrevivência local.
A pesquisa realizada adquiriu relevância por se tratar de um tema atual que interfere no cotidiano de um grande número de indivíduos e representa o dualismo de projetos de cunho social no sistema capitalista.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Identificar possíveis problemas sociais, relacionados à luta de classes, causados pela implantação do Projeto “Rios da Gente”, na Comunidade dos Coelhos, na perspectiva do contexto do sistema econômico vigente.
MÉTODOS:
A pesquisa se dividiu em três grandes partes, que foram: pesquisa bibliográfica e análise de gabinete, visita à comunidade com a aplicação de entrevistas e conversas informais, e, análise e síntese dos dados.
Para a realização da primeira parte foram levantados documentos da Agência Estadual do Meio Ambiente (CPRH), de Pernambuco; artigos na plataforma Scielo e na Revista dos Transportes Públicos, da ANTP; livros que abordassem a história de Recife junto ao Rio Capibaribe e a relação que as comunidades beira-rio desenvolveram com o mesmo, bem como teorias sobre o capitalismo.
Com um embasamento teórico feito, foi elaborado um roteiro de entrevista que norteava as questões de uso do Capibaribe como fonte de sobrevivência. Então, realizou-se a primeira visita à comunidade. Nesse momento, não foi possível aplicar o roteiro preparado, pois em conversas informais, notou-se a necessidade de reformulação do roteiro.
Com o roteiro refeito, realizou-se a segunda visita à comunidade, onde então as entrevistas puderam ser feitas.
Após a transcrição e primeira análise das entrevistas, iniciou-se a terceira parte da pesquisa, que consistiu em alinhar aquilo que foi coletado e analisado em gabinete frente aquilo que se observou e registrou in loco, recuperando teorias capitalistas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Entender, hoje, o rio como via para transporte de bens e pessoas é uma reciclagem do modelo de colonização e ocupação do território recifense, onde o Recife foi considerado por Flávio Villaça (2001) a cidade brasileira que criou com o seu rio a relação mais amorosa, onde às margens surgiram bairros e, posteriormente, comunidades.
A comunidade em questão tem origem da imigração de oriundos da zona rural e outros bairros que se alocaram no antigo Sítio dos Coelhos (hoje é conhecido como Comunidade ou Bairro dos Coelhos).
Com as entrevistas e conversas informais, pode-se dividir a comunidade em dois grupos: um menor, que acredita que a realocamento para a implantação do projeto será bom e uma parte maior que tem opinião oposta.
O Projeto “Rios da Gente”, ao mesmo tempo em que busca a inter e multimodalidade no transporte urbano, recuperando a relação primordial com o rio, também desvinculará comunidades que não deixaram de ter o Capibaribe como itinerante em seu cotidiano, seja na intervenção para o bem ou mal-estar que o rio dá, resta saber se com o tempo a decisão tomada pela comunidade: Resistir e continuar alocada em seu território (o que seria uma luta muito grande) ou ceder à imposições do sistema, que tem várias formas de cobrar o que deseja.
CONCLUSÕES:
Devemos ressaltar o caráter mutável e dinâmico que o capitalismo dá a sociedade, onde, nesse caso, o uso do rio volta a ser interessante após tantos anos, interesse que desperta a cobiça de classes dominantes, que passarão a usufruir do Capibaribe de forma mais direta, mas para que uma classe ganhe, outra tem que perder, e, isso é fielmente reproduzido no caso estudado.
Esse interesse pelo território da Comunidade Dois Coelhos reflete novas configurações para quem ali habita, e esses novos “(des)caminhos” já divide a opinião local, quanto ao que é melhor: resistir e permanecer, ou, ser realocado.
Dessa pesquisa surgiram novas questões que devem ser fomentadas com o conhecimento cada vez mais profundo das questões envolvidas, e tudo parte do questionamento: por quem e para quem o “Rios da Gente” foi projetado? Até quando a comunidade vai se encontrar dividida? É possível resistir e lutar pela permanência em seu território?
Essas questões serão esclarecidas de acordo com o processo de implantação do Projeto “Rios da Gente”.
Palavras-chave: Projeto "Rios da Gente", Comunidade Dois Coelhos, Capitalismo.