65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 4. História e Filosofia da Ciência
PERSPECTIVA DE GÊNERO NAS ENGENHARIAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Raphaela Tábata Rabêlo Freitas - Escola de Ciências e Tecnologia,UFRN
Carla Giovana Cabral - Profa. Dra. /Orientadora Escola de Ciências e Tecnologia, UFRN.
INTRODUÇÃO:
Esse trabalho se baseou, inicialmente, no levantamento de dados em bases de dados nacionais, que nos permitiram construir indicadores de gênero na docência e pesquisa nas engenharias da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Posteriormente, dedicamo-nos a uma pesquisa qualitativa, buscando investigar histórias de vida, carreira e visões de ciência, tecnologia e valores de professoras/pesquisadoras. Dar visibilidade à maneira como a perspectiva de gênero é marcante em seus relatos é um dos objetivos desta pesquisa. Consideramos que, anteriormente às ondas do Movimento Feminista, por exemplo, a imagem da mulher era a de fragilidade, dependente do homem, a sua função era de cuidadora do lar e dos filhos. Com a intensificação das discussões feministas, esse modelo se transformou, a mulher passou a desempenhar outros papéis na sociedade.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O principal objetivo desse trabalho é conhecer e dar visibilidade às histórias de vida de professoras da engenharia da UFRN sob a perspectiva da relação gênero, ciência e tecnologia, buscando desconstruir um a forma de relação social assimétrica e a visão de pretensa neutralidade de ciência e tecnologia.
MÉTODOS:
Utilizamos como metodologia a pesquisa quantitativa em bancos de dados estatísticos, especialmente o Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas da UFRN no ano de 2011. Esses dados foram confirmados com pesquisa nos departamentos do Centro de Tecnologia, onde se localizam os cursos de engenharia. Contatamos que o corpo docente das engenharias na UFRN apresenta uma forte assimetria de gênero: 20,99% de mulheres e 79,01% de homens. Na etapa seguinte, utilizamos métodos qualitativos das Ciências Humanas para elaborar um instrumento semi-estruturado. No questionário, perguntamos sobre a história de vida dessas docentes, no âmbito profissional e pessoal, e seu entendimento das relações entre ciência, tecnologia e sociedade; também perguntamos sobre valores que as norteiam, tanto na vida profissional como na pessoal.
Além disso, o que é fundamental em nosso trabalho, buscamos saber se elas sofreram algum tipo de discriminação de gênero em suas vidas e na universidade. Essas entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas para análise, conforme referenciais da área Gênero, Ciência e Tecnologia.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
As três seções da entrevista apuram diferentes aspectos. Na primeira seção, são feitas perguntas relacionadas a gênero, sobre a influência positiva ou negativa que receberam ao decidir qual carreira iriam seguir e os acontecimentos ao longo da vida acadêmica, algum tipo de discriminação, as barreiras que enfrentaram, como também saber a temática dos seus projetos científicos. Na segunda seção, sobre a vida pessoas, sobre a jornada de trabalho, sobre a vida fora da universidade e como a família encara suas demandas profissionais. A última etapa é de caráter epistemológico, avalia o entendimento sobre ciência, tecnologia e sociedade, como também os valores presentes no seu trabalho e na sua vida pessoal. Nos 11 departamentos de engenharia dessa universidade há apenas 68 mulheres docentes; destas 23 participaram do projeto e foram entrevistadas. Nos discursos das professoras, constatamos que há discriminação na engenharia, principalmente, quando necessitavam disputar vagas de emprego com algum homem, em setores da indústria mais tradicionais como o metal-mecânico. Um caso especial foi a da Engenharia de Petróleo, a qual possui a única professora que é chefe de departamento e outra que abdicou de ter filhos pela carreira.
CONCLUSÕES:
As ondas feministas impulsionaram a mulher a conquistar espaços, os quais eram inacessíveis até pouco atrás, como o acadêmico. Nas entrevistas realizadas, observamos o quanto às professoras tiveram que superar diversas barreiras; assumir uma postura de mostrar que o seu trabalho pode se igualar e superar o de um homem; derrubar uma visão errônea de inferioridade da mulher. Além disso, perdura a estratégia de conciliação: trabalhar, constituir uma família e ter filhos. Um fato interessante é que muitas delas tiveram as suas produções científicas interrompidas pelo nascimento de um filho. A partir dos relatos, constata-se ainda que há a falta de apoio da universidade e do governo, já que sua vida acadêmica depende das suas produções e alguns fatores a interrompem. Ou seja, a falta de reconhecimento dessas barreiras faz com que por muitas vezes elas sejam mais cobradas, discriminadas e desvalorizadas na comparação com o um homem.
Palavras-chave: História da ciência e da tecnologia e gênero, Mulheres na engenharia, Mulher e ciência.