65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental
O SENTIDO DE SER E AÇÃO DO CUIDADO: FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DE MARTIN HEIDEGGER E HANS JONAS
Patrícia Medina - Prof. Dra. - Educação – UFT
Jorge D’Ambros - Prof. Dr. - Curso de Administração – UFT
INTRODUÇÃO:
Na sua forma atual são frágeis as relações de afinidade com a natureza, pois essa é unicamente elemento de apoderamento, controle, uso, fruição e consumo. A capacidade reconfiguradora da técnica, na forma de meios tecnológicos é perceptível principalmente pelos seus efeitos, pois, na atualidade, o prolongamento temporal destes, a irreversibilidade e a comulatividade soma-se e atribuem novos contornos à natureza. Esse cenário demanda uma apreciação dos princípios e das ações que levaram ao desequilíbrio das relações do homem-natureza e, assim, chega-se a uma ética ambiental, ou seja, a um cenário relacional (ética). A natureza não deve ser meramente explicada, comentada, submetida à condição de objeto, mas interpretada como experiência, seja na dimensão formativa educacional escolarizada, seja na experiência processual formativa em ambientes não escolares.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Refletir acerca do tema natureza-cuidado-ética com base no diálogo com as ideias de Martin Heidegger e Hans Jonas; re-constituir os quadros de referência; estabelecer relações entre o cuidar (Sorge) de Heidegger e a fenomenologia do cuidar da perspectiva ativa proposta por Jonas com vistas a constituir os fundamentos de uma proposta de abordagem para a educação ambiental.
MÉTODOS:
A pesquisa e a organização sequencial do relatório foram orientadas pelo método hermenêutico fenomenológico heideggeriano para o qual a compreensão radical vai à raiz das palavras (HEIDEGGER, 2002), à sua etimologia e aos possíveis sentidos, estabelecendo, assim, os vínculos indissociáveis entre ser e falar. Neste caso, uma fala escrita por tratar-se de pesquisa teórica. A perspectiva interpretativa denominada por Heidegger de “Círculo Hermenêutico” foi detalhada no parágrafo 32 de Ser e Tempo. Consiste na circularidade do processo interpretativo que supõe que o que se deve compreender já está de algum modo, preliminarmente compreendido, pois, o entendimento de cada parte de um texto, implica a prévia compreensão do todo no qual essas partes se situam, conforme já fazia referência a tradição retórica e hermenêutica. A pesquisa caracterizou-se pelo uso de técnicas não quantitativas que buscaram relacionar o fenômeno a sua essência, ao eidós. Neste sentido, a validade da prova científica foi buscada no projeto lógico de interpretação e na capacidade de reflexão do pesquisador sobre o fenômeno em estudo. Esta dimensão compreendeu uma totalidade pré-teórica e não-objetiva de destaques cotidianos, ações e sentidos que sublinharam as vivências e as interpretações.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A relação homem-natureza primordialmente necessita ser vista sob a perspectiva de futuro, o primeiro dever coletivo. O futuro da humanidade é dependente da natureza. Essa constitui uma responsabilidade, pois os limites do poder destrutivo humano ultrapassam a dimensão humana e chegam à biosfera. Mesmo que não existisse a relação de dependência, por si só a natureza teria o direito de clamar pela proteção humana. É necessário reconhecer que a natureza possui uma dignidade que contrasta com o poder humano, pois, na medida em que o gerou e o mantém, o homem deve lealdade à totalidade de sua criação. O poder humano e o perigo vigentes protestam um dever que, por intermédio do cuidado com o restante dos vivos, se desdobra, independente do consentimento humano, para o conjunto da natureza. A responsabilidade, portanto, é o cuidado reconhecido como obrigação em relação a outro ser vivo, que se torna preocupação, ou seja, pré-ocupação, quando existe uma ameaça à vulnerabilidade da vida (JONAS, 2006). A ética da responsabilidade fundada, que está na vida, na manutenção e na custódia, pode ter um sentido efetivo (JONAS, 2004). O cuidar deverá assumir a centralidade originária (HEIDEGGER, 2002), fornecer o lúmen a provocar um idear e ações em consonância com essa constituição categorial.
CONCLUSÕES:
A dimensão formativa, própria do princípio responsabilidade, está sobremaneira assentada no fato de ocupar-se com as questões ético-sociais sobrevindas da tecnologia. Jonas sustenta que a sobrevivência humana e o futuro da espécie dependem dos esforços feitos para cuidar do planeta. O princípio moral que deve orientar estas ações diz que os homens devem atuar de forma que os efeitos de suas ações sejam compatíveis com a permanência de uma vida humana genuína. Este princípio decorre das ideias e crenças que constituem o fenômeno da vida e, a partir de Heidegger (2002) e Jonas (2004,2006), a forma originária da relação deve ser reconstituída, e a educação ambiental deverá ser capaz de reconfigurar a relação que o homem mantém com a natureza, de tal modo que venha a se revelar como Sorge (cuidar) e cuidado, ou seja, da maneira pela qual o homem a mantém. Nesses contornos, o cuidar é uma tarefa, uma empreitada, uma ocupação ética, uma atitude capaz de gerar convivencialidade, uma vez orientada para o futuro, para as consequências e, por isso mesmo, um processo formativo a ser empreendido de clama pelo reestabelecimento do sentido de Ser.
Palavras-chave: Relação homem-natureza, Cuidar, Princípio responsabilidade.