65ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 5. Medicina Veterinária - 3. Medicina Veterinária Preventiva
EVIDÊNCIAS DA ASSOCIAÇÃO ENTRE APRESENTAÇÃO CLÍNICA OU SUBCLÍNICA DE INFECÇÃO POR Leishmania sp. E MODIFICAÇÃO NO PERFIL DE COMPOSTOS ORGÂNICOS VOLÁTEIS CUTÂNEOS EM CÃES
Jairo Torres Magalhães Junior - Programa de Pós-Graduação de Ciência Animal nos Trópicos – UFBA
Wyllian Franz dos Santos Oliveira - Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola - EBDA
Estéfane da Cruz Nunes - Bolsista FAPESB - Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola - EBDA
Paulo Roberto Ribeiro Mesquita - Programa de Pós-Graduação em Química– UFBA
Frederico de Medeiros Rodrigues - Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola - EBDA
Stella Maria Barrouin Melo - Profa. Dra./Orientadora – Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia - UFBA
INTRODUÇÃO:
Considerada uma doença negligenciada pela OMS, a leishmaniose visceral (LV) ocorre em 62 países no mundo e acomete principalmente crianças, idosos e pessoas imunocomprometidas. A LV é uma doença parasitária de caráter zoonótico, causada nas Américas pela Leishmania chagasi, protozoário transmitido entre os hospedeiros por vetores flebotomíneos da espécie Lutzomyia longipalpis.
Em decorrência da proximidade com o homem e da susceptibilidade em adquirir e desenvolver altas cargas parasitárias, o cão é considerado o principal hospedeiro doméstico da doença. Já se demonstrou que cães com doença ativa são transmissores mais eficientes de Leishmania ao vetor em testes xenodiagnósticos. Diversos estudos têm evidenciado a importância de compostos químicos na atratividade para insetos transmissores de diferentes doenças em busca de alimentação sanguínea; demonstrando-se que animais infectados atraem mais os vetores quando comparados a animais sadios. Dessa forma, hipotetizou-se que cães naturalmente infectados por Leishmania sp. em diferentes estados clínicos da doença, distinguem-se entre si e de cães sadios em relação ao perfil de COVs liberados no pelo.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo do presente estudo foi avaliar as diferenças existentes no perfil de compostos orgânicos voláteis (COVs) liberado nos grupos distintos de cães naturalmente portadores ou não de infecção por Leishmania sp.
MÉTODOS:
Foram selecionados 36 cães provenientes da região metropolitana de Salvador/BA e distribuídos, após avaliação clínica, em três grupos de 12, sendo: (G1) cães negativos para LV; (G2) cães positivos, mas sem sinais clínicos e (G3) cães positivos, com sinais clínicos. Foram coletados 800 mg do pelo de cada cão, os quais foram armazenados em sacos plásticos selados e mantidos à 4 ºC. Para extração dos COVs foi utilizada a técnica HS-SPME, pesando-se 130 mg de pelo em recipiente de vidro, lacrado e aquecido a 90 ºC, quando era introduzida a fibra do tipo PDMS-DVB de 65 µm, durante o período de extração de 18 min. Então a fibra era recolhida e injetada no equipamento GC-MS, nas seguintes condições: coluna capilar HP-1MS (30m X 0,25 mm i.d. X 0,25 µm); fluxo do gás de arraste He 0,70 mL min-1; programação de temperatura: 40 ºC por 3 min, 2 ºC min-1 até 130 ºC, 130 ºC por 15 min, 2 ºC min-1 até 245 ºC, 245 ºC por 4 min; injetor no modo “splitless” e temperatura de 240 ºC; energia de impacto de elétrons de 70 eV. A identificação dos COVs foi realizada através da injeção de padrões analíticos, índice de Kovats e dados de espectro de massas. Para avaliar tendências de agrupamento dos COVs identificados foi utilizada a análise de componentes principais (PCA).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Foram identificados 35 COVs exalados do pelo dos cães estudados, os quais foram submetidos à análise de multivariância por PCA. O gráfico de scores permitiu diferenciar os cães infectados e com sinais clínicos dos demais grupos estudados, mesmo sendo observada certa dispersão e sobreposição das amostras dos diferentes grupos. A maior parte dos COVs avaliados apresentou valores de loadings próximos de zero, o que significa que a maioria dos compostos possui tendência a não variar significativamente entre as diferentes amostras. Entretanto foi possível identificar que os compostos dodecano e nonadecano são característicos do grupo de cães G3, enquanto que os compostos octanol e decanal foram correlacionados com o grupo de amostras de cães negativos (G1). Esta diferença na produção de odores pode ser resultante da presença maciça de parasitas nos cães do grupo G3 e pode servir como uma vantagem seletiva do parasita para favorecer a sua disseminação para outros hospedeiros. Esta hipótese é corroborada pelo padrão de compostos observado nos cães infectados, porém hígidos (G2), que por albergarem uma quantidade menor de parasitos, apresentaram um padrão de distribuição intermediário, àqueles dos outros grupos (G1 e G3).
CONCLUSÕES:
Assim, foi demonstrado que cães de área endêmica, infectados por Leishmania sp e manifestando sinais clínicos da doença exalam um perfil diferente de COVs, em relação aos cães infectados sem sinais clínicos e os não infectados da mesma área. Mais ainda, a padronização de ensaios para identificação de COVs pode ser ferramenta útil para descoberta de biomarcadores indicadores de carga parasitária e, portanto, da capacidade de transmissão de parasitos aos vetores por cães infectados de áreas endêmicas. O conhecimento sobre esses compostos pode ainda permitir o desenvolvimento de sistemas de controle centrados na biologia do vetor, o que poderia trazer benefícios éticos, ambientais e principalmente, na eficiência das medidas de controle da leishmaniose.
Palavras-chave: Leishmaniose visceral canina, COV, HS-SPME.