65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 4. Educação Artística
A ARTE EM FAVOR DA ÉTICA: EXPERIÊNCIA BRASILEIRA DO CANTO ORFEÔNICO NOS ANOS 30
Alan Castro Albuquerque - Música – UFC
Samyle Clícia Nascimento Costa - Psicologia – UFC
Antônio Marco Toledo do Nascimento - Prof. Dr / Orientador – Música – UFC
INTRODUÇÃO:
O Canto Orfeônico surge e é divulgado fortemente na primeira metade do século XIX na França. O movimento Orphéon ocorre com o apoio de Napoleão III e sua nomenclatura foi utilizada pela primeira vez por Guillaume-Louis Willelm (Bocquillon), músico francês (1781-1842). Com um caráter simples e sem tantos refinamentos estéticos, o Canto Orfeônico era voltado ao público leigo, distinguindo-se, portanto da prática coral tradicional e prezava a promoção de valores éticos, morais e cívicos por meio da educação musical socializadora. No Brasil, na década de 30 com o incentivo do governo Vargas, o projeto orfeônico desenvolvido por Villa-Lobos foi adotado oficialmente no ensino público brasileiro. O presente estudo faz-se relevante para entender a criação da identidade nacional, tendo em vista o forte caráter nacionalista da época com o governo populista de Getúlio Vargas. E oferece informações para uma reflexão sobre ideais éticos e estéticos que tornaram possível o surgimento de uma educação musical e de uma arte que relatasse o Brasil com força e expressividade.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Pensar sobre a prática do Canto Orfeônico desenvolvida por Villa-Lobos durante o Estado Novo do Presidente Getúlio Vargas nos anos 1930, buscando uma reflexão sobre as condutas e idéias presentes nos discursos das canções e no próprio material pedagógico utilizado e repassado na época de sua implantação, fazendo uma ligação com temas estudados dentro do campo da Ética.
MÉTODOS:
Foram realizados num primeiro momento leituras sobre o tema ‘canto orfeônico’ de modo geral, buscando uma aproximação com o tema e com suas particularidades no ensino e desenvolvimento da música em alunos, nas escolas e demais espaços onde foi utilizado. Posteriormente, foi feito um levantamento incluindo livros, revistas, artigos, filmes e entrevistas sobre a experiência do canto orfeônico nos anos 30 durante na era Vargas. Em posse das anotações da análise destes documentos, foi possível um link com o campo da ética e da moral, sobretudo descritos nos textos das canções que aludiam ao sentimento cívico, de disciplina, o senso de solidariedade e de responsabilidade no ambiente escolar.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
O projeto orfeônico de Villa-Lobos encaixou-se perfeitamente com o ideal cultivado pelo governo de Getúlio Vargas. Numa época em que se buscava uma música genuinamente brasileira que relatasse a alma do nosso povo e de uma política baseada no amor à pátria, canto orfeônico e Estado Novo serviram - cada um a sua maneira é claro – um ao outro. Villa-Lobos precisava do apoio financeiro do governo para dá continuidade ao seu projeto e em contrapartida Getúlio se beneficiava com as grandes reuniões orfeônicas para seus discursos como também o show que exaltava a pátria perante o próprio povo e que favorecia a imagem do presidente. Vários artigos se ocuparam da polêmica relação do projeto de Villa com o governo ditatorial de Vargas, mas saindo um pouco das calorosas discussões e julgamentos, nossos resultados apontam, sobretudo, para uma identificação entre os valores ansiados pelo governo e pelo projeto pedagógico do canto orfeônico, ambos acreditavam no coletivo e no caráter universal, termo emprestado da tradição filosófica do século XVIII, onde o ‘sujeito moral’ só poderia ser entendido no coletivo, numa existência social. Assim, visavam à realização do ideal do ser humano e não a do individuo separadamente.
CONCLUSÕES:
O Canto Orfeônico foi idealizado para criar comportamentos, instigar sensações por toda a pátria, sempre com o fundo populista do presidente Getúlio Vargas. O projeto de Villa-Lobos vê na música um forte agente transformador para resolver problemas que estão na raiz do comportamento humano, problemas éticos tais como: que ações merecem ser realizadas por nós para que produzam mais felicidade que sofrimento? Que criem condições efetivas de bem-estar social e não de injustiças? Que estimulem mais o conhecimento e a criatividade do que a ignorância e a apatia? Que encorajem mais a solidariedade e a paz do que os conflitos? Constatamos ainda que houve uma forte ligação dos ideais éticos e morais cultivados no governo de Getúlio com o projeto orfeônico desenvolvido por Villa-Lobos durante o Estado Novo.
Palavras-chave: Canto orfeônico, Ética, Estado Novo.