65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 4. História e Filosofia da Ciência
LIDERANÇA DE GÊNERO NA ÁREA TECNOLÓGICA
Renato Roberto Antunes da Silva - Escola de Ciências e Tecnologia - UFRN
Carla Giovana Cabral - Profa. Dra./Orientadora - Escola de Ciências e Tecnologia - UFRN
INTRODUÇÃO:
As mulheres brasileiras tem sofrido discriminação ao longo da história. Quando se trata da inserção das mulheres na área tecnológica não é diferente. Temos hoje um cenário desfavorável à igualdade de gênero. Com o tempo, a mulher foi conquistando seu espaço na esfera pública. Nas décadas de 70’ e 80’ a área tecnológica era quase que exclusivamente masculina, principalmente as engenharias mais antigas, como Civil, Mecânica e Elétrica. Nessas engenharias, ainda hoje há uma dificuldade de se encontrar mulheres trabalhando como professoras na UFRN, principalmente nas Engenharias Elétrica e Mecânica. Como apuramos nas entrevistas realizadas, há professoras que sofreram algum tipo de preconceito em estágios, empregos na iniciativa privada e mesmo na universidade. Mas também há outros fatores que precisamos conhecer e para isso estamos investigando a vida das professoras mulheres, os preconceitos sofridos e sua visão epistemológica sobre ciência, tecnologia e sociedade. Essa investigação está sendo feita através de entrevistas gravadas, as quais serão posteriormente analisadas de forma que nos façam entender melhor o contexto vivido por essas mulheres, e alguns dos outros fatores que levaram e ainda levam a existência de preconceitos e diferença de gênero na área tecnológica.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Esse trabalho tem como objetivo principal estudar as histórias de superação das professoras das engenharias da UFRN, bem como, evidenciar possíveis discriminações, preconceitos e desconstruir a visão herdada de ciência.
MÉTODOS:
Nosso objeto de estudo são as professoras do Centro de Tecnologia (CT/UFRN). Para o universo de 59 professoras, estamos aplicando um questionário semi-estruturado. Esse questionário serve como base para que possa ser desenvolvida a entrevista, gravada. Nosso questionário está dividido em três partes: na primeira parte, buscamos conhecer a formação e a vida acadêmica da professora, perguntando sobre motivação para cursar engenharia, os anos de graduação, mestrado e doutorado; perguntamos também a respeito dos preconceitos vividos, cargos de liderança exercidos e relação com outros/as professores/as e alunos/as; na segunda parte, há questões sobre a vida pessoal das professoras: sua relação em casa com e/ou marido e filhos, caso tenham, conciliação da vida de professora com as atividades domésticas; na terceira parte, procuramos saber qual o entendimento epistemológico sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade conceitos e valores importantes na vida da professora. Acredita-se que essa análise possa nos auxiliar a entender como tem se construído as relações de saber/poder/gênero que ainda hoje perpetuam preconceitos e discriminações em relação as mulheres que são professoras da área tecnológica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Como resultados parciais podemos ressaltar o depoimento da professora (Antônia, 2012), da Engenharia Química, a qual relatou sua primeira experiência profissional na Companhia Nacional de Álcalis em Cabo Frio:
“(...) Tivemos a primeira entrevista e tal, e no final da entrevista eles divulgaram que contratariam os cinco, só que as atividades que eles distribuíram para os meninos, para os quatro, era atividade de engenheiro e para mim era atividade de responsável por laboratório e não era isso que eu queria, eu queria exercer a atividade de engenharia, eu não aceitei. Os quatro meninos foram e eu optei pela área acadêmica.”
Esse depoimento da professora Antônia só evidencia o fato das mulheres sofrerem preconceito, principalmente por ter se formado nos anos 80, quando eram raras as mulheres naquela área. O que também mostra o preconceito por parte da Companhia Brasileira de Álcalis ao ser passado atividades inferiores ao de engenheiros sendo que os alunos que tinham se formado junto com ela estavam na mesma empresa e tendo atividades de engenheiro. Assim como aconteceu com a professora Antônia pode ter acontecido com outras professoras, o fato dela ter optado pela área acadêmica, na qual a escolha e feita mediante concurso e onde ela poderia sofrer menos preconceito.
CONCLUSÕES:
Além de serem minoria na área tecnológica, as mulheres ainda sofrem um pouco de discriminação em alguns ambientes de trabalho os quais os homens ainda predominam. Apesar do gradativo aumento de mulheres ingressando na universidade, o cenário ainda é desfavorável à igualdade de gênero nas engenharias. Com nossa pesquisa podemos constatar toda discriminação sofrida pelas mulheres que pretendem cursar engenharia, além de entender melhor todo o contexto em que as mulheres se fazem minoria na área tecnológica. Procuramos também entender a vida pessoal e o entendimento epistemológico das professoras nos conceito de Ciência, Tecnologia e Sociedade. Acreditamos que, a partir de dados e evidências constatadas, podemos trabalhar melhor na implementação de políticas públicas que possam ajudar a modificar o contexto vivido hoje.
Palavras-chave: Liderança de Gênero, Ciência e Tecnologia, Mulheres na Engenharia.