65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 13. Parasitologia - 2. Helmintologia de Parasitos
IMUNOMODULAÇÃO DA N-ACETIL-L-CISTEÍNA NA ESQUISTOSSOMOSE CRÔNICA EXPERIMENTAL
Juliana Florentino Mané - Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (LIKA) – UFPE
Joicy Kelly Alves da Silva - Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (LIKA) - UFPE
André de Lima Aires - Depto. de Medicina Tropical e Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami - UFPE
Vlaudia Maria Assis Costa - Depto. de Medicina Tropical e Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami - UFPE
Valdênia Maria Oliveira Souza - Depto. Ciências Farmacêuticas e Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami - UFPE
Mônica Camelo Pessôa de Azevedo Albuquerque - Depto. de Medicina Tropical e Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami - UFPE
INTRODUÇÃO:
A esquistossomose está estimada em 207 milhões de portadores. Destes, 20 milhões evoluem para fase crônica da doença resultando em mais de 500.000 óbitos anuais. Os antígenos dos ovos do parasito, acumulados no tecido hepático, são os responsáveis pelo quadro patológico devido à reação granulomatosa desencadeada em resposta as defesas do hospedeiro, a qual tem perfil Th1 na fase aguda evoluindo para um perfil Th2 na fase crônica. O praziquantel (PZQ), único fármaco empregado no tratamento, não atua sobre lesões granulomatosas já instaladas as quais deixam sequelas irreversíveis. Este quadro justifica a necessidade de pesquisas com fármacos hepatoprotetores. Nesse contexto, N-acetil-L-cisteína (NAC) por suas propriedades antiinflamatórias, antioxidantes e desintoxicante hepático constitui uma alternativa para atenuar os danos hepáticos causados pela esquistossomose. Na clínica, a NAC é a droga de primeira escolha na insuficiência hepática induzida pelo paracetamol. Na insuficiência hepática fulminante aguda e cirrose estável, NAC melhora a hemodinâmica portal, além de previne apoptose durante isquemia e reperfusão que o órgão é submetido no ato operatório. Ademais, NAC reduz ROS in vivo e in vitro, inibi à peroxidação lipídica e a síntese de TNF-α e citocinas pró-inflamatórias.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Avaliar a ação da N-acetil-L-cisteína e/ou Praziquantel na modulação imune celular e histopatológica na esquistossomose mansônica crônica experimental.
MÉTODOS:
Camundongos fêmeas, Swiss, 28-30 gramas, 28 dias de idade, foram infectados via subcutânea com 50 cercárias de Schistosoma mansoni. Após 45 dias de infecção, os camundongos foram aleatoriamente divididos em 4 grupos (n=10) de acordo com o esquema terapêutico: Controle, NAC, PZQ e NAC+PZQ e iniciada a intervenção oral com NAC e/ou PZQ. NAC diluída em salina (200mg/Kg/dia) e PZQ (100mg/Kg/dia) ressuspendido em cremofor (2%) foram administrados durante 75 e 5 dias consecutivos, respectivamente. O controle, livre de NAC e/ou PZQ, foi submetido às mesmas condições que os demais grupos. Todos os animais foram eutanasiados 120 dias após infecção. Fragmentos de fígado de cada animal foram processados para obtenção de cortes histológicos e corados pela técnica de hematoxilina-eosina. Foi realizado o estudo histopatológico do infiltrado inflamatório e histomorfométrico (número e diâmetro médio) dos granulomas. O baço dos animais foi retirado e processado para a cultura de esplenócitos, estimulados por SEA. Após 24h e 72h de cultura, os sobrenadantes foram coletados para análise da síntese de IL-4, IL-10, INF-γgama e óxido nítrico. Todo procedimento experimental foi aprovado pela Comissão de Ética em Experimentação Animal (CEEA/UFPE - 23076.021878/2008-66).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os grupos Controle e NAC exibiram granulomas produtivos nos espaços-porta, comprometimento periportal, aumento da vascularização e intenso infiltrado celular. Grupos PZQ e NAC+PZQ exibiram granulomas com evolução fibrótica. Houve redução no número de granulomas nos grupos NAC, PZQ e NAC+PZQ de 4.61%, 89.56% e 94.07%, respectivamente. Redução (p < 0.001) no diâmetro dos granulomas nos grupos NAC, PZQ e NAC+PZQ foi de 35.68%, 31.63% e 38.24%, respectivamente. Animais tratados com NAC e NAC+PZQ apresentaram redução (p < 0,001) na síntese de NO. NAC reduz (p < 0,001) níveis de INF-γgama e o grupo tratado apenas com PZQ apresentou aumento desta citocina. Níveis de IL-4 foram semelhantes entres Controle, NAC e NAC+PZQ, já o grupo PZQ apresentou aumento (p < 0,001). Em todos os grupos que a NAC faz parte do esquema terapêutico houve aumento (p < 0,001) de IL-10. Segundo Halliwell e Gutteridge (2007) a redução dos níveis de NO na terapia com NAC deve-se a sua ação antioxidante como scavenger direto de radical livre como NO e peroxinitrito e também pela redução dos níveis de IFN-γgama e aumento na síntese de IL-10. Adicionalmente, a redução no tamanho do granuloma e nos níveis de INF-γgama nos animais tratados com a NAC e/ou PZQ é justificada pelo aumento da IL10 (De'broski et al. 2008).
CONCLUSÕES:
Além da cura parasitológica na esquistossomose, o reparo das alterações hepáticas provocadas pelo processo granulomatoso é desejável. No modelo experimental adotado, NAC e a associação NAC+PZQ resultou em redução da morbidade em camundongos experimentalmente infectados pelo Schistosoma mansoni, uma vez evidenciada a redução no número e tamanho dos granulomas hepáticos. Somado a isso, o fato da NAC e NAC+PZQ modular a resposta imune celular ao conduzir aumento de síntese de IL-10 e redução de NO e INF-γgama.
Palavras-chave: Imunomodulação, N-acetil-L-cisteína, Esquistossomose crônica experimental.