65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
O CINEMA COMO RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO-APRENDIZAGEM DA CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA
Paulo Damasceno do Amaral Neto - Discente do Curso Pedagogia/UFPA/ Campus Castanhal
Débora Alfaia da Cunha - Orientadora- Drª Instituição: Faculdade de Pedagogia/ Campus Castanhal/UFPA
INTRODUÇÃO:
A aprovação da Lei de nº 10.639/03, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para estabelecer a obrigatoriedade do ensino da história e cultura africana e afro-brasileira na educação básica, impôs o desafio de introduzir a temática cultural na formação inicial e continuada de professores. Tal desafio foi respondido pelo projeto “Educação e Ludicidade Africana e Afro-brasileira” (LAAB), a partir da utilização de metodologias culturalmente significativas, entre as quais se destaca o uso da linguagem cinematográfica, por meio da apresentação de filmes voltados para a temática africana e afro-brasileira.
O projeto LAAB configura-se como uma ação educacional afirmativa do patrimônio sociocultural afro-brasileiro, e responde a legislação educacional contemporânea, que cobra das universidades a materialização de uma pedagogia antirracista e antidiscriminatória. (BRASIL, 2002). Nesse intuito, o projeto propôs a utilização de filmes, por meio de sessões denominadas “Cine-Afro UFPA”, para que os alunos dos cursos de Licenciatura do Campus de Castanhal tiveram acesso aos diferentes olhares produzidos pelo cinema sobre o patrimônio negro, no Brasil e no mundo.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisar o uso da produção cinematográfica como recurso didático-metodológico para o ensino da cultura e história Africana e Afro-brasileira nos cursos de formação inicial e continuada de professores no Campus de Castanhal, da Universidade Federal do Pará.
MÉTODOS:
A pesquisa iniciou com o levantamento bibliográfico sobre o uso do cinema na formação universitária e, mais especificamente nos cursos de licenciatura. Na sequência, realizou-se levantamento na internet, sobre a produção cinematográfica voltada a história dos negros brasileiros e do continente africano, bem como temáticas relativas à intolerância racial. Foram selecionados 10 títulos. Entre os filmes selecionados encontram-se “Besouro” de João Tikhomiroff., “Amistad” de Steven Spielberg, “O jardineiro fiel” de Fernando Meireles, “Hotel Ruanda” de Terry George, e outros. O “Cine-Afro” ocorreu de fevereiro a dezembro de 2012, e teve como objetivo não apenas analisar os filmes, mas também problematizar o “olhar” que tanto o cinema brasileiro quanto o internacional lançam para a história da África e de seus descendentes, bem como perceber quais efeitos da diáspora africana são retratados pelo cinema. Antes de iniciar o projeto aplicou-se questionário para saber o nível de conhecimento dos alunos do campus de Castanhal sobre filmes com temática negra. Do mesmo modo, ao final do projeto aplicou-se questionários aos participantes que conseguiram assistir 5 sessões, para compreender a relevância do uso dessa metodologia para o conhecimento da cultura africana e afro-brasileira.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os resultados do questionário aplicado aos alunos do Campus de Castanhal antes da oferta do “cine-afro UFPA” revelam que praticamente a metade dos alunos inseridos na amostra, composta de 230 discentes dos cursos de Pedagogia, Letras, Sistema de informação e Matemática, indicaram não conhecer filmes que tratassem do continente africano. Entre os que indicaram conhecer alguns filmes destaca-se a produção “diamantes de sague” de Edward Zweck, evidenciado um baixo contato com a temática racial produzida pelo cinema.
A análise da trajetória do “Cine-Afro UFPA” revela a importância do uso do cinema na Educação das relações etnicorraciais, pois permitiu aos alunos de graduação lançarem um novo olhar para o continente Africano e problematizarem as desigualdades sociais dos países africanos, a partir do modelo de desenvolvimento capitalista, no qual a produção da riqueza ocorre paralela ao aprofundamento da pobreza na periferia do sistema.
O uso do cinema permitiu ainda aos alunos participantes compreenderem a necessidade do respeito à diferença para a superação do racismo, bem como corrigiu imprecisões e incoerências que possuíam acerca do continente africano.
CONCLUSÕES:
A pesquisa evidenciou que o cinema pode ser uma estratégia didática promissora para o ensino de temas culturais, pois os filmes provocaram reflexões sobre práticas sociais e educativas voltadas aos grupos de negros e pardos, problematizando os conceitos de igualdade, raça, etnia, diferença, cultura e conhecimento. A linguagem do cinema permitiu aos alunos que conseguiram acompanhar a programação melhorar a formação cultural recebida em seus cursos de graduação, servindo inclusive para que os discentes analisassem pelo viés social e cultural as teorias estudadas em sala de aula, e, por isso, se configurando como um importante componente complementar na formação desses estudantes. Pelo exposto, os dados revelam que o uso do cinema se caracterizou como essencial, na formação de pessoas criticas e aptas a mudarem a sociedade em que vivem.
Palavras-chave: Linguagem cinematográfica, Diversidade, Educação antirracista.