65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 5. Teoria e Análise Linguística
ESPAÇO DE CONVIVÊNCIA ENTRE AFÁSICOS E NÃO AFÁSICOS (ECOA): ESTUDO DOS PROCESSOS DE SIGNIFICAÇÃO.
Raiane Silva Souza - Depto.de Estudos Linguísticos e Literários – UESB/LAPEN
Nirvana Ferraz Santos Sampaio - Profa. Dra.Orientadora - Depto.de Estudos Linguísticos e Literários – UESB/LAPEN
INTRODUÇÃO:
Segundo Benveniste (1963, p.26), “cada locutor não pode propor-se como sujeito sem implicar o outro”. A partir desse pressuposto acerca da linguagem, será observada a importância das relações sociais na recuperação dos sujeitos afásicos. O processo de acompanhamento desses sujeitos se baseia numa concepção de Neurolinguística onde aspectos cognitivos, socioculturais, linguísticos e psíquicos estão entrelaçados no processo de produção de sentido. O estudo é centrado no trabalho com a linguagem desenvolvido no ECOA, a partir das práticas discursivas, dos processos de significação verbais e não verbais e das propriedades interativas que constituem a realidade particular desse espaço.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Este trabalho tem como objetivos evidenciar e desenvolver as bases teórico-metodológicas das atividades realizadas no Espaço de Convivência entre afásicos e não afásicos (ECOA). A partir dos fundamentos da Neurolinguística Discursiva, investiga-se como ocorre a resconstrução da linguagem de sujeitos afásicos em atividades em grupo.
MÉTODOS:
Este estudo articula intervenção e investigação, enfocando os encontros que acontecem quinzenalmente com os integrantes do ECOA. O material empírico da pesquisa é construído a partir de várias formas de registros feitos no decorrer das diversas atividades do grupo, como: filmagem e caderno de registro das anotações. Todas as atividades produzidas pelo grupo são registradas sob a forma de filmagem, ou gravação. O que facilita a constituição de um acervo que abarca todo o trabalho desenvolvido. A análise desse material é realizada por meio de transcrições dos diálogos e descrição das atividades, dos gestos e dos movimentos, através da observação dos vídeos. O diário de campo e o caderno de registros das sessões além de servirem como material para busca de episódios, também auxiliam no próprio momento das transcrições e das descrições – já que neles contém as observações registradas e elaboradas no momento ou logo após as atividades – o que torna essas formas de registro fundamentais nas possíveis leituras de indícios.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Não se pode compreender a constituição dos sujeitos pelas/ nas relações sociais se não se considera a produção simultânea de signos e sentidos. Os sujeitos são afetados, de diversas formas, pelos muitos modos de produção nos quais eles participam de diversas maneiras. Ou seja, ao produzirem signos e sentidos nas relações com os outros, os sujeitos são profundamente afetados pelo que produzem e pelos próprios modos de produção. O dado a seguir foi coletado a partir das situações interativas no ECOA. O sujeito MB pergunta para Ins “Qual o coração do carro?”, Ins direciona a pergunta para OJ que aponta para sua boca e para si mesmo e diz “Aqui ó”. Essa foi a forma encontrada por OJ para responder que é o motorista. Resultados parciais da análise desses dados mostram que a construção da significação na linguagem de sujeitos afásicos é feita a partir do convívio social. A retomada da fala do outro, o uso da linguagem não verbal e a recorrência à escrita são algumas das estratégias utilizadas por eles para a reconstrução da linguagem. Os gestos funcionam como recursos expressivos alternativos para que ocorra o processo de significação.
CONCLUSÕES:
A afasia, segundo Coudry (1988), é uma perturbação da linguagem em que há alteração de mecanismos linguísticos em todos os níveis, quer produtivo, quer interpretativo, causada por lesão estrutural do sistema nervoso central em virtude de acidentes vasculares cerebrais (AVC). Assim, para que ocorra a reconstituição da linguagem é necessário que haja interação social. As atividades desenvolvidas no Ecoa possibilitam a inserção do sujeito nos mais diversos aspectos envolvidos na produção e interpretação, tendo em vista que as atividades levam em consideração a rotina e o interesse dos participantes, pois possuem uma mesma faixa etária.
Palavras-chave: Linguagem, Neurolinguística, Afasia.