65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 4. Sociolinguística
O COMPORTAMENTO DA VARIÁVEL “SEXO” NA CARACTERIZAÇÃO DO PORTUGUÊS POPULAR DO BRASIL: UMA ANÁLISE DO VERNÁCULO DOS FALANTES DE VITÓRIA DA CONQUISTA
Bruno Pacheco de Souza - Departamento de Estudos Linguísticos e Literários - UESB
Danilo Santos Silva - Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Rafael Teixeira Gonçalves - Departamento de Estudos linguísticos e Literários - UESB
Valéria Viana Sousa - Departamento de Estudos linguísticos e Literários - UESB
Jorge Augusto Alves da Silva - Departamento de Estudos Linguísticos e Literários – UESB
INTRODUÇÃO:
Diante de perguntas como “homens e mulheres falam diferentemente?”, as respostas costumam se dirigir a questões biológicas ou a questões comportamentais. Desde os primeiros estudos envolvendo a variável sexo, como os de Wolfram (1969) em Detroit, muitos linguistas parecem compartilhar a opinião de que as mulheres são mais tendentes ao uso da norma-padrão e, consequentemente, evitam empregar construções pouco valorizadas no seio da comunidade da qual fazem parte. No entanto, urge que se analise a condição feminina dentro dos valores preconizados pela sociedade em que elavive, a fim de se ter uma visão real do papel da mulher dentro de cada comunidade.Por muitos séculos, às mulheres foram atribuídas atividades domésticas e as atividades fora do lar seriam apenas continuação do estado familiar em que viviam (empregadas domésticas, babás, cozinheiras). Crê-se que a alteração de tal quadro possibilite a alteração tanto do comportamento social quanto o comportamento linguístico. No âmbito desse estudo, a concordância verbal em P6 será tomada como parâmetro balizador para a descrição do comportamento feminino na comunidade de fala escolhida: o vernáculo de Vitória da Conquista – BA.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Investigar o comportamento linguístico de mulheres conquistenses na aplicação da regra de concordância verbal na terceira pessoa do plural, considerando ainda o fator “rede de relações”.
MÉTODOS:
A análise ora empreendida é resultado de esforços de diversos pesquisadores integrantes do Grupo de Pesquisa em Linguística Histórica e Sócio-Funcionalismo, os quais constituíram um corpus inicial formado por 24 informantes, entre eles 12 são do sexo feminino. Tais mulheres foram agrupadas em três faixas etárias: I – de 20 a 40; II – de 41 a 60; III – de 60 em diante. Após gravação das entrevistas feitas pela técnica documentadores e informantes (Doc – Inf), passou-se à transcrição, usando-se a proposta de transcrição “grafemática” usada pelo Projeto Vertentes – UFBA. Após a transcrição, passou-se à identificação das ocorrências suscetíveis à variação na concordância verbal em P6. Em seguida, os dados codificados foram submetidos ao tratamento quantitativo (percentual e peso relativo) por meio do Programa GoldVarb X. Os dados obtidos, enfim, foram analisados à luz da Teoria da Variação nos termos enunciados por Labov (1972). Tal procedimento quantitativo submetido ao escrutínio criterioso dos pesquisadores envolvidos, buscando-se descortinar a realidade que os números apresentavam.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os dados revelam que as mulheres conquistenses, falantes do português popular como vernáculo, em termos labovianos, apresentam um índice de concordância verbal em P6 mais elevado do que os homens conquistenses. Além do índice percentual, comparando-se os pesos relativos, nota-se que a mulheres das faixas etárias I e II fazem maior concordância do que as mulheres da faixa III, fato que revela alteração de comportamento linguístico de duas gerações consecutivas. Em termos linguísticos, considerando-se o princípio da saliência fônica, observa-se a coerência na percepção das formas verbais de P6 que são mais diferenciadas em relação à P3. Nesse ínterim, a elevação do índice está ligada às redes de relações sociais, considerando que as mulheres das faixas etárias I e II encontram-se em pleno contato com outros grupos sociais alheios ao seio familiar, situação que tipifica alteração não só no comportamento social (mulheres que trabalham fora) mas também no comportamento linguístico. Nesses termos, a variável “saliência fônica” coaduna com o princípio de que contato com outros grupos estimula nas mulheres a percepção de uma norma de prestígio, mas próxima dos ideais urbanos.
CONCLUSÕES:
A análise quantitativa empreendida, nesse estudo, revela que o comportamento linguístico da mulher difere-se do comportamento do homem, considerando-sea maior tendência daquela à aquisição das marcas de concordância em P6. Tal situação não se trata apenas de um caso de pressão social para mudança, mas de uma percepção de que o contato com outros grupos sociais, advindo da integração da mulher ao mercado de trabalho, leva a mulher a fazer escolhas pelo uso ratificado por grupos sociais mais privilegiados, considerando-se em conjunto o “Princípio da Saliência Fônica”. Destarte, a abertura da mulher ao mercado de trabalho e a ampliação de suas redes de relação as expõem à fala de outros grupos, produzindo uma situação de variação que implementada pode vir a gerar uma mudança no sentido de aquisição da marcas de concordância verbal em P6 no vernáculo das mulheres de Vitória da Conquista – BA.
Palavras-chave: Concordância Verbal, Variável Sexo, Português Popular.