65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 2. Botânica Aplicada
EFEITO DO ARMAZENAMENTO NAS PROPRIEDADES DO ÓLEO DE SEMENTES DE Jatropha curcas L.
Renata Janaína Carvalho de Souza - Depto. de Botânica - UFPE
Roberta Sampaio Pinho - Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste - CETENE
Simone Pereira Cabral - Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste - CETENE
Wolfgang Harand - Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste - CETENE
Suzene Izídio da Silva - Profa. Dra. - Depto. de Biologia, Área de Botânica - UFRPE
Antonio Fernando Morais de Oliveira - Prof. Dr./ Orientador - Depto. de Botânica - UFPE
INTRODUÇÃO:
Diante das preocupações ambientais com a utilização de energia, a partir de recursos naturais não renováveis, a busca por fontes alternativas em substituição aos combustíveis fósseis tem conquistado espaço. O biodiesel destaca-se entre essas alternativas, sendo definido como um combustível para motores diesel produzido quimicamente por uma reação de transesterificação de um óleo vegetal ou animal (Wang et al., 2006). Os óleos vegetais são as mais favoráveis matérias prima para a produção de biocombustíveis, por serem renováveis e potencialmente inesgotáveis fontes de energia (Koh e Ghasi, 2011).
Sob este cenário, Jatropha curcas L. tem se mostrado uma espécie promissora para a produção de biodiesel. Suas sementes possuem uma boa quantidade de óleo (30-40%), desenvolve-se bem tanto em regiões tropicais secas como nas zonas equatoriais úmidas, assim como, em solos pedregosos, arenosos e salinos podendo suportar longos períodos de seca (Pramanik, 2003).
Depois de colhidas as sementes devem ter um tratamento adequado a fim de garantir as propriedades desejadas para a obtenção de um óleo de boa qualidade e viável para a produção de biodiesel. Sendo assim, um armazenamento adequado das sementes é de fundamental importância para a qualidade do óleo (Almeida et al., 2010).
OBJETIVO DO TRABALHO:
Identificar a melhor condição e tempo de armazenamento das sementes de J. curcas L. pós-colheita, que não comprometam as características físico-químicas do óleo para produção de biodiesel.
MÉTODOS:
Um montante de 3000 sementes de J. curcas foi submetido a diferentes condições e tempo de armazenamento, 150 sementes recém-coletadas foram desidratadas em estufa de secagem a 60 ºC por 48h e submetidas à extração de óleo de imediato (grupo controle). O restante do material foi submetido a tratamentos distintos: sementes mantidas no sol e sementes mantidas na sombra em bandejas plásticas, sementes armazenadas sob refrigeração (-16 oC) e sementes estocadas em embalagens de papel pardo a temperatura ambiente. A cada 90 dias um lote de 150 sementes foi retirado das diferentes condições de armazenamento para extração do óleo, ao longo de nove meses.
As extrações do óleo foram realizadas em Soxhlet/8h com n-hexano, a partir de sementes trituradas. O óleo bruto obtido foi hidrolisado com KOH 10 % e os ácidos graxos obtidos foram metilados com MeOH/BF3 14% e analisados em cromatógrafo gasoso (Shimadzu 17A) e identificados com base nos tempos de retenção de amostras autênticas.
Os índices de acidez e de refração do óleo foram determinados seguindo a metodologia da AOCS (1997), os índices de saponificação e de iodo calculados empiricamente segundo Kalayasiri et al. (1996) e o número de cetanos segundo Krisnagkura (1986).
Os dados foram submetidos ao teste de Kruskal Wallis.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
O teor de óleo não diferiu significativamente nas diferentes condições de armazenamento, entretanto as sementes recém-coletadas apresentaram maior teor de óleo: 54,1 %. Sob armazenamento, o teor médio de óleo variou de 35,9 % (Sombra-3 meses) a 38,5% (Sol-6 meses).
O índice de acidez variou de 0,81 (Refrigeração-3 meses) a 2,46 mgKOH/g (Sombra-6 meses), sabendo-se que o ideal para produção de biodiesel, é um óleo com uma acidez abaixo de 2 mg KOH/g (Zagonel, 2005). Os menores índices de acidez, ao longo do armazenamento, foram constatados para as sementes sob refrigeração: 0,81 (3 meses), 1,74 (6 meses) e 1,08 (9 meses). E o índice de refração variou de 1.4690 a 1.4702 nD.
O índice de saponificação variou de 200,8 a 202,7 mg KOH/g de óleo, sugerindo que o óleo pode ser empregado como matéria prima na produção de sabão, sabonetes, xampus, como também, na produção de biodiesel (Ribeiro e Seravalli, 2004).
O índice de iodo variou de 96,91 a 113,24 g I2/100g, não ultrapassando o valor máximo estabelecido pelo padrão europeu EN 14214 que é de 120 g I2/100g de óleo. O número de cetanos variou de 47,8 a 51,47, sabendo-se que na norma brasileira não há valor mínimo estabelecido, entretanto no padrão americano o valor mínimo aceitável é 47 (Lôbo et al., 2009).
CONCLUSÕES:
Dentre os parâmetros analisados, o índice de acidez foi o mais determinante na identificação das melhores condições de armazenamento das sementes de Jatropha curcas L.
Sementes mantidas no sol e na sombra em bandejas plásticas para desidratação natural, por até três meses de armazenamento, apresentaram todos os parâmetros analisados de acordo com as especificações exigidas para produção de biodiesel.
Contudo, o armazenamento de sementes sob refrigeração (-16 ºC) mostrou-se como a melhor forma de armazenamento ao longo dos nove meses.
Palavras-chave: Biodiesel, Ácidos graxos, Energia.