65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 6. Literatura
VOZES VIVAS: O CANTO DO CONCRIZ
Hermann Henrique Soares de Almeida - Instituto Federal De Educação Ciência E Tecnologia Baiano - Campus Santa Inês
Antônio Brito de Souza Júnior - Prof. Dr./Orientador - Depto. de Desenvolvimento Educacional - IFBA Santa Inês
INTRODUÇÃO:
O primeiro contato do homem com a poética da voz foi quando ele se deu conta que a fala, desenvolvida como mecanismo de defesa na natureza e usada até então apenas para comunicação, possuía um imenso poder, dotada de magia e virtuosidades.
Poderia usá-la sobre seus pares, persuadindo-os, influenciando-os, e acima de tudo mudando-os... Isso envolvia mais que somente a fala por ela mesma, era necessária uma estética, um ritual, que depois daria origem à performance.
Neste contexto, destacamos o uso da palavra falada enquanto elemento poético, de caráter sígnico, sonoro, cênico. Daí este estudo definido como a voz viva.
Pudemos observar esse fenômeno mundial ao estudar o Grupo Concriz, que surgiu em 2007, na cidade de Maracás (BA).
O Grupo Concriz é expressão da poética da voz acontecendo em pleno século XXI.
Pudemos vê-lo de perto e assim entender a forma como esse fenômeno vem se desenrolando e fascinando as pessoas desde o primeiro contato com a voz poética.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo geral deste estudo foi comprovar, tomando como objeto de pesquisa o Grupo Concriz, institucionalizado através de projeto de cultura financiado, o fenômeno da voz viva, seus valores, evidenciando as características da poética da voz presentes nas performances do grupo de recitadores. Outro objetivo foi tornar clara a ligação desse grupo ao movimento global da poesia no som da voz.
MÉTODOS:
A realização deste trabalho partiu da observação in loco da ação da voz poética. Portanto, o método predominantemente foi o observacional, mas também indutivo, histórico, e qualitativo. Iniciou-se com a pesquisa de uma comunidade que usa a poesia para irradiá-la através da expressão oral, o Grupo Concriz.
A pesquisa foi iniciada no mês de maio de 2012 e concluída em janeiro de 2013. Neste período foram assistidos 4 performances do grupo; submeteu-se integrantes, criadores e diretor a entrevistas; e pesquisou-se outras iniciativas que surgiram inspiradas pela atividade do Grupo Concriz.
Como base teórica, indicada pelo professor orientador, foram utilizadas obras de Paul Zumthor, Octávio Paz e Jorge Glusberg, que abordam importantes aspectos dos elementos da performance e da poesia.
Durante a realização deste trabalho, o pesquisador foi também um receptor das apresentações do grupo, este foi um dos mais importantes instrumentos utilizados, além de entrevistas, fotografias e filmagens, audição de CDs de recitação de poesia, dentre outros.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A partir do método utilizado e da atitude indutiva, tendo como objeto de pesquisa o Grupo Concriz, comprovou-se a sua estreita ligação ao fenômeno mundial das vozes vivas. Além disso, a atividade poética do grupo desencadeou-se pela maioria das cidades do Vale do Jiquiriçá como uma repercussão do movimento mundial da voz viva. Ficou evidente a influência que a palavra poética recitada tem causado nos performers e no seu público receptor.
Carregada de elementos linguísticos - códigos, símbolos, conexões, marcas da oralidade, etc. – a performance poética do grupo Concriz trouxe aos poemas os valores vivos da voz como a prosódia, os ritmos magnéticos, seu trânsito modal entre o dito ao canto. O texto que originalmente tem como plataforma o livro, e terá que ser lido individualmente, ganha novo formato na voz dos recitadores, sendo lançada através da voz diretamente aos olhos e ouvidos do receptor. O performer assume durante o espetáculo um comportamento cênico e o eu-lírico se manifesta na força da palavra falada e nos gestos que a palavra conota. Fascinados, os receptores das apresentações do grupo, passam a sentir a necessidade do prazer do texto vocalizado, que se torna então uma emergência.
CONCLUSÕES:
Desde o primeiro contato do homem com a voz poética, passando pelas aulas de Sócrates, cânticos místicos africanos, indianos e indígenas, cânticos de Homero, recitação seca dos poetas rapsodos, autos de Anchieta, teatro, música, trovadores e repentistas, até a vocalização performática de poemas pelo Grupo Concriz na atualidade, esse fenômeno vem fascinando e encantando.
O fenômeno está acontecendo em vários lugares do mundo, e o Concriz configura-se como exemplo. Surgiu com apenas 8 integrantes e se apresentava apenas na cidade de origem. Não havia na região trabalho semelhante. Cinco anos depois, o grupo já se apresentou em quase todas as 20 cidades do Vale do Jiquiriçá, além de outras como Salvador, Cachoeira, Jequié, Ipiaú e Feira de Santana. Já recitou poemas de autores de 8 estados com a presença destes. Conta com 45 integrantes, entre 6 e 44 anos e 4 membros do grupo atualmente têm formação na área de Letras.
Por influência, 3 novos grupos foram criados (Renascer, Flor de Mandacaru e Xamai) em cidades do território.
O que fizemos foi partir do estudo dos 5 anos de atividade do grupo, da expansão e da forma como ele envolve as pessoas, para mostrar aspectos do grande fenômeno das vozes vivas na cultura do território do Vale do Jiquiriçá.
Palavras-chave: Vozes Vivas, Poética da Voz, Grupo Concriz.