65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 6. Liguística
AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA VOGAL /a/: ANÁLISE PRELIMINAR DA FALA DE PESSOAS COM SÍNDROME DE DOWN
Luana Porto Pereira - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários – UESB
Marian Oliveira - Prof. Dr./Orientador - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários – UESB
Vera Pacheco - Prof. Dr./Orientador - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários – UESB
CamilloPrisco - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários – UESB
Maria Imaculada Azeredo - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários – UESB
Polliana Teixeira Alves - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários – UESB
INTRODUÇÃO:
A síndrome de Down (SD) é causada por uma alteração genética que acontece durante a fecundação (MUSTACCHI; PERES, 2000). Nos indivíduos com SD, a boca é pequena e a língua projeta-se para fora, em função da macroglossia, decorrente da cavidade oral pequena, da hipotonia da musculatura orofacial (IDERIHA; LIMONGI, 2007). Essas características conferem a eles uma cavidade oral diferenciada. Por seu turno, a vogal /a/, a mais aberta do nosso sistema fonológico, exige em sua produção uma abertura mandibular que necessita, por parte de quem a está produzindo, um controle mandibular fino que pode ser viabilizado pelo tônus muscular. Nesse sentido, a hipotonia, apresentada por pessoas com Down, pode comprometer a produção prototípica de tal vogal.
Buscando cumprir o objetivo desse trabalho - apresentar uma análise experimental do padrão acústico da vogal /a/ produzida por sujeitos com SD - pautamo-nos na Teoria Fonte-Filtro, de Fant (1960), cuja proposta estabelece que o trato vocal funciona como um filtro acústico para a produção dos sons da fala, uma vez que a nossa hipótese é a de que a hipotonia apresentada por pessoa com Down traz um correlato acústico diferenciado para tal vogal, o que leva em alguma medida a não diferenciação entre vogal tônica e vogal pretônica.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Objetivamos apresentar uma análise experimental do padrão formântico da vogal /a/ em posição tônica e pretônica, em ambiente controlado, produzidas por dois falantes com síndrome de Down. Considerando as especificidades do trato vocal deles e pautando-nos na Teoria Fonte-Filtro, buscamos estabelecer relação entre alterações do trato vocal e correlatos acústicos encontrados para essa vogal.
MÉTODOS:
Para a análise partimos de um corpus de dados de 2 sujeitos do sexo feminino, naturais de Vitória da Conquista, todos com síndrome de Down. O corpus foi constituído de logatomas dissílabos, com estrutura CV.’CV, contendo todas as obstruístes, com a vogal aberta /a/ ocupando a posição tônica e pretônica e inseridas em frase veículo “digo__baixinho”. As frases foram apresentadas em slides feitos no programa Power Point aos sujeitos com Down. Ao gravarmos solicitamos aos sujeitos que pronunciassem quatro vezes cada frase em tom de voz e velocidade de fala normais.
As gravações foram realizadas por meio do programa Audacity, na cabine acústica do Laboratório de Pesquisa e Estudos em Fonética e Fonologia (LAPEFF) da UESB. Os arquivos de áudio obtidos foram analisados no software Praat, no qual foram retirados os valores de F1, F2 e F3, a partir do ponto estacionário da vogal. Esses valores foram tabulados na planilha do Execel para obtenção das médias e análise.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Analisando as médias das frequências da vogal /a/ realizadas pelos sujeitos com Down observamos que há uma tendência a não distinção entre o parâmetro nos contextos silábicos em que a vogal foi inserida, quais sejam, pretônico e tônico.
Considerando que a vogal /a/ exige, em sua realização, o máximo de abertura da mandíbula e que quando realizada em posição tônica, teoricamente, ela deveria ser realizada de forma mais proeminente. Não é isso, contudo, que observamos tendo em vista os valores encontrados.
A vogal /a/ quando realizada de forma prototípica tem sua frequência em F1 em torno de 900 a 1200 Hz, mas as médias encontradas não foram essa. As média de F1 de um dos sujeitos aponta para algo em torno de 900Hz, e para o autro, 700Hz; isso sugere que o segundo produz tal vogal com uma abertura aquém da esperada.
Observamos, também, que a diferença entre o valor de F1 da vogal em posição tônica e em pretônica é bem pequena, nos dois sujeitos. Isso mostra que não há diferença na realização da vogal /a/ na posição tônica e pretônica.
Além disso, analisando a vogal em contextos oclusivos e fricativos, percebemos que o valor de F1 tende a cair em ambiente fricativo.
CONCLUSÕES:
Diante do que foi exposto, podemos concluir que as especificidades encontradas na realização da vogal /a/ se restringem aos valores de F1, o que nos permite afirmar, com base na teoria Fonte-Filtro, que essas especificidades estão relacionadas à abertura da boca na produção da vogal /a/. Concluímos que, em relação aos resultados da vogal tônica e pretônica, a diferença entre configuração formântica e níveis de tonicidade silábica não fica bem delimitada. Pelos resultados e considerando as características do trato vocal do sujeito com Down podemos concluir que o abaixamento que se nota no valor de F1 pode se dever à hipotonia muscular que o sujeito com Down apresenta.
Palavras-chave: Padrão formântico, Síndrome de Down, Vogal /a/.