65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
A VISÃO DE CÉLULA POR ESTUDANTES DE ENSINO MÉDIO DE DUAS ESCOLAS DO RECIFE, PERNAMBUCO
Maria Izabel Pereira e Silva - Departamento de Biologia - UFRPE
Iêda Ferreira de Oliveira - Departamento de Biologia - UFRPE
Reginaldo de Carvalho - Departamento de Biologia - UFRPE
INTRODUÇÃO:
O conceito de célula é importante para a compreensão dos processos biológicos, visto que ela é o constituinte básico dos seres vivos. No entanto, muitos estudantes apresentam dificuldades de entender o tema, seja pelo caráter abstrato, pela natureza microscópica da célula e/ou pela sua gama de estruturas e componentes, que lhe conferem significativa complexidade. Consequentemente, diversas interpretações errôneas e/ou incompletas são formadas.
No campo da teoria do conhecimento, modelo mental pode ser definido como o fruto das representações internas do sujeito em relação a determinado objeto. Para o processo de ensino-aprendizagem, tais modelos adquirem importância fundamental, pois permitem entender como as ideias prévias dos indivíduos influenciam na construção de explicações sobre os fenômenos naturais.
Algumas descobertas em Biologia Celular, provenientes de estudos sobre câncer e células-tronco, estão melhorando a qualidade de vida das pessoas. Porém, a clara compreensão do tema pelos cidadãos em geral é fundamental para estabelecer posturas mais críticas diante das decisões sociais e éticas advindas do desenvolvimento dessas tecnologias. Assim, conhecer as concepções científicas dos sujeitos é crucial ao desenvolvimento de propostas de divulgação em Ciência mais eficazes.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo desta pesquisa foi identificar e descrever os modelos mentais de célula, a partir de desenhos elaborados por estudantes de Ensino Médio (EM) de duas escolas públicas localizadas na Região Metropolitana do Recife, Pernambuco.
MÉTODOS:
O estudo foi realizado junto a seis turmas de 1º ano da Escola de Referência em Ensino Médio (EREM) Professor Silva Jardim e da EREM Ageu Magalhães. Após ser ministrada uma unidade didática sobre Biologia Celular em cada turma pelo professor, foi aplicada uma avaliação, que consistiu em solicitar que cada estudante desenhasse uma célula, incluindo esquemas explicativos, representando seu conhecimento sobre o assunto. Para a análise dos desenhos, foram elaborados os seguintes critérios de classificação: a) tipo de célula (procariótica ou eucariótica animal/vegetal); b) representação espacial (bidimensional ou tridimensional); c) complexidade do modelo explicativo (elementar, intermediário ou avançado).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os dados obtidos a partir de 180 desenhos mostraram que 65% dos estudantes utiliza o modelo de célula animal para representar seu conhecimento sobre o assunto, seguido dos modelos de célula procariótica (27,8%) e célula vegetal (7,2%). Além disso, a maioria (90%) adota as representações em duas dimensões e explica de forma elementar (51,1%) ou intermediária (43,3%) suas concepções de estrutura e funcionamento celular. A análise qualitativa mais detalhada também apontou alguns erros e/ou incoerências conceituais nos modelos explicativos propostos pelos estudantes, como a presença de cloroplastos em células animais e célula vegetal com ausência de parede celular.
Segundo Johnson-Laird (1996), a mente humana opera com proposições, modelos mentais e imagens. Apesar de a imagem mental ser uma representação interna e o desenho gráfico, uma representação externa, foi possível inferir que a maioria dos estudantes representa a célula de forma descritiva e estrutural. Essas observações corroboram com as análises de Palmero (2003). A autora também sugere que os materiais didáticos utilizados e a abordagem do conteúdo pelo professor podem influenciar negativamente no modo como os estudantes constroem suas representações internas relativas à célula.
CONCLUSÕES:
Conclui-se que os estudantes das escolas visitadas possuem uma visão de célula eucariótica animal planar, simples e estática. Além disso, as representações gráficas podem refletir apenas a memorização de uma imagem já apresentada a eles, não os modos que eles realmente visualizam ou imaginam a célula. É possível que o modo tradicional como os conteúdos de Ciências e Biologia ainda são abordados na sala de aula e nos livros didáticos sejam fatores relevantes para estas observações. Com base nos resultados, sugere-se o replanejamento de conteúdos de Biologia Celular no Ensino Médio e a forma de abordá-los, com a adoção de formas alternativas de ensino que privilegiem a diversidade morfológica, estrutural e funcional das células; as vias de interação entre organelas e compartimentos celulares; seus mecanismos evolutivos, reprodutivos e, sobretudo, seu papel na determinação dos processos vitais dos seres vivos.
Palavras-chave: Biologia celular, Ensino de Biologia, Modelos mentais.