65ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 3. Comunicação Visual
Ética e estética no documentário feminino do Rio Grande do Sul
Marília Dalenogare do Carmo - Depto. de Ciências da Comunicação - UFSM
Cássio dos Santos Tomaim - Prof. Dr./Orientador- Depto. de Ciências da Comunicação - UFSM
INTRODUÇÃO:
Este trabalho tem como propósito caracterizar e analisar qualitativamente o trabalho produzido pelas realizadoras gaúchas, procurando traçar o perfil destas e levantar elementos para a compreensão dos aspectos éticos e estéticos de suas obras.
A pesquisa focada nesta produção não-ficcional feminina se justifica pelo fato de que de um total de 96 documentários catalogados 35% são filmes que tiveram mulheres na sua direção. Outros fatores relevantes é que as cineastas gaúchas têm demonstrado uma produção mais contínua de documentários, além de seus filmes estarem entre os mais reconhecidos e premiados no Estado e nacionalmente.
Sendo assim, nos interessa investigar como estas cineastas gaúchas lidam com a representação do real, em termos éticos e estéticos, levando em conta que o “fazer documentário” se apresenta como “testemunho do que o mundo é” orientando a nossa ação nele (NICHOLS, 2005, p.20). Quais são as contribuições destas cineastas gaúchas para os rumos do documentário contemporâneo produzido no Rio Grande do Sul?
OBJETIVO DO TRABALHO:
É objetivo deste trabalho analisar e caracterizar a atual produção de documentários de cineastas gaúchas, a partir de um estudo comparativo dos aspectos éticos e estéticos de uma amostra desta produção não-ficcional.
MÉTODOS:
Para a realização deste trabalho foi desenvolvida uma ficha analítica com base nos pressupostos teóricos de Nichols (2005) e Ramos (2008) contemplando os aspectos éticos e estéticos do documentário. A partir dessa ficha foi gerado um quadro que nos permitiu estabelecer uma análise comparativa dos filmes selecionados. Os itens a serem analisados a partir da ficha e do quadro foram: a narrativa do filme, os modos de representação, os fluxos de provas, os pontos de identificação, os campos éticos e os níveis da presença do sujeito-da-câmera na tomada.
Para tal tarefa, consultamos o banco de dados de nossa pesquisa O Documentário Gaúcho Contemporâneo: Memória e Identidade (1995-2010) a fim de determinar uma amostra que contemplasse o maior número de produtoras, filmes premiados, filmes com temáticas e formatos diversos dentre os mais de 30 documentários sob a direção de mulheres. Os filmes selecionados foram: Benzeduras (Janete Kriger, 2009), O Cárcere e a rua (Liliana Sulzbach, 2004), Dias no tempo (Carolina Berger, 2010), Dona Helena (Dainara Toffoli, 2006), Extremo Sul (Monica Schmiedt & Sylvestre Campe, 2004) e Ilhas Urbanas (Flávia Seligman, 2005).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Em relação ao aspecto estético dessas produções podemos notar que a maioria dos filmes analisados apresentam-se esteticamente muito semelhante. Quando analisamos os elementos e recursos que compõe suas narrativas nota-se que em cinco destes filmes a narrativa é construída usando a entrevista ou depoimento de personagens sociais como principal recurso para contar a história.
O uso da voz-off, só ocorre em 50% dos filmes, em Benzeduras, Extremo Sul e Dias no tempo.
O modo de representação que predomina na amostra é o expositivo, nota-se que na maioria dos filmes há uma preocupação com a objetividade, com um distanciamento do realizador. Porém, em Ilhas Urbanas, Extremo Sul e Dias no tempo temos abordagens diferentes. Nos documentários analisados existem provas de caráter artísticos e inartísticos.
A respeito dos aspectos éticos da amostra de documentários, o trabalho analisou os campos éticos e como se configurou a presença do sujeito-da-câmera na tomada, neste sentido, identificamos que em três dos documentários, Benzeduras, O Cárcere e a rua e Dona Helena,predomina uma ética do recuo/imparcialidade, em que as realizadoras se mostram preocupadas com um tratamento mais objetivo da realidade. Já em Extremo Sul inicialmente se configura na lógica da ética do recuo e após a ética interativa/reflexiva. Em Ilhas Urbanas a ética interativa/reflexiva é dominante. E em Dias no tempo é usado da ética modesta.
Além disso, também foi analisada presença do sujeito-da-câmera nos filmes.
CONCLUSÕES:
A partir do que foi apresentado, podemos concluir que nos documentários das cineastas gaúchas analisados temos os depoimentos/entrevistas dos personagens sociais como elementos que predominam em suas narrativas. Neste sentido, há pouca exploração dos recursos possíveis para um documentário, concentrando seus enunciados no que dizem os personagens. De um modo geral os documentários mostram-se como um conjunto de entrevistas intercaladas com as imagens de arquivo sendo usadas como ilustração, provas do que está sendo ditos por estes personagens. Porém, nos filmes Extremos Sul, Ilhas Urbanas e Dias no tempo, notamos um maior diferencial na construção da narrativa, usando mais recursos e também posicionando-se perante o real de uma maneira diferenciada.
Palavras-chave: documentário gaúcho, ética, estética.