65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 2. Currículo
NARRATIVAS DE SI NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS. UMA ANÁLISE DAS LIÇÕES EM LIVROS DIDÁTICOS.
Camila Maria Oliveira - Estudante do Curso de Pedagogia- CE – UFPE
Rosângela Tenório de Carvalho - Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Métodos e Técnicas de Ensino – CE – UFPE
INTRODUÇÃO:
A pesquisa em tela, centrada na relação educação e modos de subjetivação, visa compreender, entre outras inquietações: quais as técnicas de si implicadas nas lições dos livros didáticos? Como o currículo escolar, por meio de lições, tem influenciado essas narrativas de si?
O currículo, em nosso trabalho, é visto na versão pós-crítica do currículo. Nesse sentido, nos associamos a Larrosa (1994, p. 52) quando trata as práticas educativas, inclusive as práticas curriculares, como “dispositivos orientados à produção dos sujeitos mediante certas tecnologias de classificação e divisão”. Essas perspectivas curriculares partem dos estudos desenvolvidos por Michel Foucault, principalmente como ele aborda o conceito de subjetividade. Foucault (2004, p. 21) afirma que as ciências humanas reinseriram as técnicas de verbalização em um contexto diferente, fazendo delas o instrumento positivo de constituição de um novo sujeito.
Segundo Bittencourt (1997) o livro didático expressa valores ideológicos e culturais. Na perspectiva da pesquisa, ele com suas lições é uma materialidade do discurso da escolarização. A análise das técnicas de si, identificadas nas lições do livro didático é relevante pelo que pode indicar dos processos de produção de verdades sobre os indivíduos.
OBJETIVO DO TRABALHO:
A presente pesquisa teve como objetivo geral analisar os processos de subjetivação dos sujeitos da Educação de Jovens e Adultos por meio de práticas curriculares. Em relação aos objetivos específicos a pesquisa pretendeu identificar técnicas de subjetivação nos livros didáticos utilizados na Educação de Jovens e Adultos.
MÉTODOS:
A análise teve tratamento a partir do arcabouço teórico e metodológico dos estudos sobre os modos de subjetivação e análise do discurso de Michel Foucault. Essa abordagem focalizou as regras do discurso de normalização dos sujeitos da educação na perspectiva da análise arqueológica de Michel Foucault. O corpus, ou material empírico para essa pesquisa, consistiu de lições selecionadas da coleção de livro didático PNLD EJA 2011, 2012, 2013, intitulada “Viver, Aprender” do segundo segmento do Ensino Fundamental (São Paulo: Editora Global: Ação educativa, 2009). A sistematização do processo de análise iniciou com a elaboração dos quadros conceituais de análise. Com o quadro de análise sistematizado, fomos ao nosso corpus selecionado e cartografamos as técnicas de si que estavam implicadas nas lições achadas no livro didático. Para a análise, trabalhamos as lições em sua função enunciativa de subjetivação e como uma materialidade discursiva. As categorias de análise trabalhadas foram: Regra dos modos de enunciação (lugar de enunciação, modo de enunciação, status de quem fala e a posição do sujeito); Regra de negociação (Interdiscurso e memória discursiva); Regra de imanência (centros locais de poder-saber); e Regra de normalização dos sujeitos (técnicas de poder e técnicas de si).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A análise das regras permitiu evidenciar o status de quem fala, aquele que propõe a lição aos sujeitos, nesse caso o(a) autor(a) do livro didático, a posição do especialista na EJA com autoridade reconhecida dada pela competência técnica de dizer e produzir um discurso com vontade de verdade, e o lócus discursivo, isto é, onde o discurso da escolarização é produzido e validado, em nosso caso pelo MEC (Ministério da Educação). Segundo Carvalho (2004), é no contexto institucional que o discurso encontra boa parte das suas regras de formação e transformação, isto é, em lugares que têm por função “fixar indivíduos”.
Na regra de normalização dos sujeitos, observamos as técnicas de poder e as técnicas de si. As técnicas de poder são perpassadas pela relação currículo e pedagogia.
No livro didático, essas técnicas são expressas pelos rituais. Os rituais como diria Foucault (2004, p. 39), definem os gestos, os comportamentos, as circunstâncias e todo o conjunto de sinais que devem acompanhar o discurso; o ritual fixa a eficácia, suposta ou imposta, das palavras, o seu efeito sobre aqueles a quem elas se dirigem, os limites do seu valor constrangedor. A partir dessa análise, cartografamos três tipos de técnicas de si: Histórias de Vida, Rememoração e Modelos.
CONCLUSÕES:
A pesquisa contribui para percebemos uma regularidade das técnicas de subjetivação na EJA. Em todas as lições são contemplados aspectos semelhantes, como o falar sobre si, o modelo do que é adequado e normal exposto anterior ao falar sobre si na lição, ou seja, as técnicas são semelhantes para adestrar o sujeito a falar sobre si dentro da ordem do discurso. A análise nessas lições nos fez compreender como as técnicas de poder e de si são significativas na influência das narrativas de si dos sujeitos da EJA. Essa temática ainda pouco explorada e discutida assume papel relevante na reflexão dos docentes em suas práticas na maquinaria escolar. Os resultados da pesquisa oferecem suporte a profissionais da educação para um novo olhar sobre o livro didático, as lições e as narrativas de si dos sujeitos da EJA, vendo-os não como meros materiais inocentes do currículo, mas, como dispositivos que incidem na constituição de si dos indivíduos envolvidos nesse “jogo de verdade”, ao mesmo tempo em que potenciam a necessidade de aprofundamento da pesquisa em relação a artefatos curriculares, como as cartilhas, os textos imagéticos.
Palavras-chave: Educação de jovens e adultos, Livros Didáticos, Subjetivação.